Roteiros veganos impulsionam o turismo

29 de março de 2018

Em 2004, a agência de viagens VegVoyages chegou ao mercado com três propostas de destinos. Quatorze anos depois, a companhia, que é especializada em roteiros veganos de aventura na Ásia, agora conta com 23 roteiros por ano, em cinco países diferentes. Sediada no Texas, é uma das várias empresas que atendem ao crescente mercado de consumidores conscientes, que buscam experimentar diferentes culturas sem prejudicar animais, explorar pessoas ou devastar o meio ambiente.

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“Definitivamente há um aumento na demanda por viagens veganas”, diz Zac Lovas, cofundador da VegVoyages. “Mais pessoas estão abraçando a ideia, os conceitos e os benefícios que antes eram rejeitados pela simples menção da palavra ‘veganismo’. Isso influencia diretamente as propostas de viagens veganas, uma vez que temos mais veganos procurando por opções de viagens e até não veganos que não vêem problema em viajar e consumir refeições livres de exploração por uma ou duas semanas.”

De acordo com Lovas, a comida é um dos maiores incentivos para viajantes optarem pelo roteiro vegano. “As pessoas veganas não querem visitar um país e comer apenas acompanhamentos e saladas ou ficar presas a um só prato até voltarem para casa”, diz ele. “Um dos benefícios de optar por uma viagem vegana é poder aproveitar a culinária local, sem precisar se preocupar com a origem porque tudo é 100% vegano. Ainda assim você poderá apreciar a tradição por meio da cozinha típica, mesmo estando em uma viagem vegana.”

Colaborar com as comunidades locais é chave do sucesso das viagens propostas pela agência. “Nós não impomos nossos valores à cultura local”, diz Lovas, que fundou a companhia com dois amigos que moraram e trabalharam por vários anos em diferentes partes da Ásia. “Nós trabalhamos com comunidades locais e desenvolvemos programas para ajudá-los a contar suas histórias aos visitantes, além de construírem sua própria história – incluindo a culinária – vegan friendly. Eles ficam surpresos ao descobrir que alguns pratos locais tradicionais ainda podem ser saborosos em uma versão vegana. Nós gostamos de olhar para toda essa experiência como um grande intercâmbio cultural.”

A clientela da empresa é formada por pessoas da faixa etária entre 18 e 80 anos, incluindo casais, solteiros e gente de todos os estilos de vida. Os destinos mais populares são Índia, Bali, Tailândia, Sumatra e Laos e, atualmente, são necessários 18 funcionários para atender à demanda – contra oito no início da operação. De acordo com Lovas, durante os primeiros sete anos de funcionamento da companhia, a maioria das pessoas se identificava como vegetarianos. Hoje, há muito mais veganos. Aproximadamente 75% dos clientes são veganos e 25% não veganos – estes últimos constituídos principalmente por amigos e cônjuges dos veganos ou de pessoas curiosas sobre o estilo de vida.

A demanda por viagens veganas “dobrou”

A operadora de turismo Tierno Tours, em Concord, Carolina do Norte, também viu a demanda por viagens veganas crescer. Em 2010, a operadora realizou o primeiro de seu roteiro “Vegano Italiano” (para a Itália, como o diz o nome). A proposta foi tão bem aceita que a empresa lançou o Vegan Travel Club em 2016, com colaboração da veterana agência de viagens eco-vegan Green Earth Travel, e adicionou novos destinos à sua lista de 2017: Peru, República Dominicana e Porto Rico. Os roteiros apresentam uma série de atividades, como palestras veganas com celebridades, demonstrações de culinária baseadas em vegetais e visitas a vinícolas e locais históricos.

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Para 2018, a empresa se diversificou ainda mais e passou a oferecer excursões para a Irlanda e também mais próximo da sede, em São Francisco. “Como temos muitas roteiros recorrentes, tentamos desenvolver diferentes propostas de viagens todos os anos”, diz Gretchen Sheridan, co-fundadora do Vegan Travel Club. “Algumas, como a Itália e a Irlanda, são feitas todos os anos, enquanto outras, como São Francisco ou Peru, são ofertas únicas. Uma parte das nossas escolhas de destinos é baseada em preços, enquanto a outra leva em consideração a atratividade de alguns lugares em função das tarifas aéreas ou do câmbio favorável. Há locais que entram e saem das rotas. No momento, a Irlanda e a Escócia estão muito populares graças à exposição em inúmeros filmes e séries de TV. Berlim, Roma e Barcelona também são bastante atraentes pelo grande número de restaurantes veganos.”

A Tierno Tours é uma pequena empresa de nicho que oferece viagens especializadas e históricas. De acordo com Gretchen, o Vegan Travel Club representa, atualmente, 30% da renda total da agência. A faixa etária dos viajantes está entre 40 e 60 anos, embora pessoas mais jovens e mais velhas abracem a proposta à medida que se tornam mais saudáveis ​​e ambientalmente conscientes. Cerca de 60% dos clientes são veganos – o restante é representado por companheiros ou amigos não veganos.

Donna Zeigfinger, proprietária da Green Earth Travel, que comemorou seu 20º aniversário no ano passado, atua no mercado de viagens há mais de 30 anos. Durante esse período, ela percebeu a quantidade de pessoas interessadas em férias, passeios e viagens de aventura que incorporam mais do que o dobro de refeições à base de vegetais, com uma demanda particularmente grande por festivais veganos, passeios culinários e roteiros que incluem conferências sobre saúde em cruzeiros. “Muitos dos meus clientes costumavam ser casais em lua de mel, onde um era vegano e o outro não. Ou o único filho vegano de uma família não vegana. Agora são casais ou famílias inteiras veganas”, conta.

Quando se trata das acomodações, os hotéis devem considerar mais do que apenas a comida, adverte Donna. “Os estabelecimentos precisam se adequar quando se trata de itens como roupas de cama”, diz ela. “Atualmente, grande parte oferece peças antialérgicas, o que significa que não há travesseiros de plumas ou cobertores de lã. A maioria das operadoras de turismo hoje em dia tem uma melhor compreensão do que é um vegano e tentam se adequar a ele para acomodá-lo. Caso contrário, deixamos de utilizar os serviços.”

Cruzeiros veganos ganham popularidade

As férias veganas não se limitam aos passeios em terra. Foi anunciada na Austrália, pela primeira vez, uma viagem marítima com alimentação totalmente baseada em vegetais. E, no ano passado, o primeiro cruzeiro totalmente vegano do mundo foi de Londres à Noruega com 1.881 passageiros de 34 países, organizado pela empresa alemã Vegan Travel, especializada em cruzeiros fluviais e oceânicos.

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O atual diretor Dirk Bocklage apresentou a ideia para a empresa em 2014, depois de morar por sete anos em Hong Kong, onde organizava jantares com temática de assassinato e mistério e espetáculos teatrais em cruzeiros.

Como as viagens oceânicas têm um risco maior e normalmente exigem garantias bancárias, Bocklage começou a promover cruzeiros fluviais veganos em toda a Europa que, até o momento, são realizadas de três e quatro vezes anualmente. Os mais populares incluem os rios Reno e o Danúbio, assim como o Doura, em Portugal.

Como é o caso das outras operadoras de viagens veganas mencionadas, os cruzeiros atraem uma gama diversificada de passageiros, mas o grupo demográfico é tipicamente mais jovem do que o da maioria das viagens tradicionais em alto mar. No cruzeiro oceânico do ano passado, por exemplo, o hóspede mais velho era uma mulher de 95 anos da Inglaterra e os mais jovens eram gêmeos de cinco meses, filhos de um casal norte-americano. A idade média dos visitantes nos cruzeiros veganos fluviais é entre 35 e 45 anos. “As pessoas têm essa ideia de hóspedes de 80 anos em cadeiras de rodas fazendo um cruzeiro”, diz Bocklage. “Não é algo que os jovens considerariam fazer antes de iniciarmos o roteiro vegano.”

O executivo acredita que a demanda por férias veganas sempre esteve presente. “Há mais veganos por aí agora, mas também há um aumento no número de pessoas que nunca consideraram passar um feriado com programação vegana”, diz ele. “O primeiro cruzeiro vegano que fizemos tinha apenas alemães. Agora, há 50% de hóspedes que falam inglês, vindos da América, do Reino Unido e da Austrália.”

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Como a tripulação em navios de cruzeiro geralmente não é treinada em culinária à base de vegetais, Bocklage trabalha com chefs veganos da Inglaterra e Alemanha e leva um outro a bordo para trabalhar com a equipe. “Criamos um plano online em PDF para empresas de cruzeiros, com a finalidade de mostrar que servir refeições veganas não é mais difícil do que preparar alimentos não veganos”, diz ele.

Cientes do impacto ambiental dos navios de cruzeiro, Bocklage tem o cuidado de fretar apenas embarcações que não fazem uso de óleo combustível pesado. O sonho para o futuro é operar uma pequena embarcação oceânica movida à eletricidade ou gás. Enquanto isso, a Vegan Travel – que possui uma taxa de ocupação de 90% a 95% em cada cruzeiro – busca ampliar a participação no mercado de viagens oceânicas, com uma pequena expedição em outubro deste ano para o Chile e a Patagônia.

Experiência animal sem causar danos

Uma das mais novas apostas no mercado de férias vegan é a CPG Vegan Trips. Fundada pela autora e advogada especializada na causa animal Colleen Patrick-Goudreau, a empresa realizou sua primeira viagem para 22 pessoas em outubro do ano passado, rumo à Tailândia. Agora, o objetivo é realizar outras ao ano: o Vietnã do Norte, em abril, e a região francesa da Alsácia, em dezembro, estão na agenda para 2018. Recentemente, a empresa esgotou as vendas para sua primeira viagem em 2019 para Ruanda em apenas dois dias.

Veja, na galeria de fotos a seguir, 9 roteiros para adeptos – e simpatizantes – do veganismo que incluem muito mais do que alimentação: