Chefs particulares caem no gosto do brasileiro

23 de abril de 2018

Quando se trata de serviços de luxo, a oferta de experiências sempre pode subir de nível e adaptar-se à demanda dos clientes. A gastronomia, antes muito restrita a um público mais fechado e de fato especialista, presenciou, nos últimos anos, um período de “popularização” – em grande parte graças às redes sociais, principalmente o Instagram, e programas de TV que trazem chefs estrelados para frente das telas. O próprio Guia Michelin, referência máxima na classificação de restaurantes, possui atualmente uma plataforma online – o que aumenta em muito o público alcançado.

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Com cada vez mais gente interessada e maior abertura do público às novas experiências, chefs de cozinha estão investindo na oferta de jantares e almoços em domicílio. FORBES conversou com alguns destes profissionais em São Paulo e no Rio de Janeiro para saber mais detalhes sobre os eventos privados, que começam, em média, em R$ 150 por pessoa. E não há limites para a imaginação dos anfitriões – e nem para os preços.

O chef Raphael Arrigucci, que tem em seu currículo restaurantes como o estrelado D.O.M, a Casa Europa e o Loi, decidiu investir em uma empreitada mais exclusiva, a Casa Comitê, que busca levar experiências diferenciadas em formato intimista, alinhadas com as tendências atuais da gastronomia, como o aproveitamento total de ingredientes, respeito à sazonalidade e trabalho com produtores pequenos.

Foto: Andre Giorgi

Kobe beef e Uni, do Comitê

Com base na alta gastronomia, Arrigucci, além de receber o público em séries de jantares especiais realizados quinzenalmente na própria Casa Comitê, em São Paulo, também leva o projeto gastronômico para residências particulares. “Muitos clientes possuem adegas particulares e querem pratos para harmonizar. A Lei Seca, as filas extensas nos restaurantes e a dificuldade em fazer reservas para mesas com mais de oito lugares são motivações para ‘ficar em casa’ e contratar o serviço de um chef particular”, diz ele. Para garantir o preparo perfeito dos pratos, que, em alguns casos, demandam mais de 12 horas, Arrigucci deixa para fazer apenas a finalização nas residências dos clientes, utilizando a técnica sous-vide (processo de preparo dos alimentos a vácuo, que preserva sabor e frescor). Os menus podem ser criados do zero e adaptados aos gostos dos clientes.

Foto: Divulgação

Chef Raphael Arrigucci

Outro ponto curioso, compartilhado por Arrigucci e também pelo chef italiano Riccardo Rossi, proprietário do restaurante Pina, em São Paulo, é o mercado imobiliário e de arquitetura, que caminhou junto com o interesse pela gastronomia – não é incomum os chefs encontrarem residências com cozinhas abertas, equipadas com grandes balcões e utensílios profissionais, além de áreas gourmet, o que estimula a adoção dessas novas experiências. Para o chef Rossi, que possui um restaurante, a demanda por um serviço em domicílio surge, muitas vezes, de forma espontânea, por meio de clientes que já frequentam seu estabelecimento.

Rossi investe, na maioria dos casos, em pratos da culinária típica de seu país, principalmente do sul da Toscana, onde nasceu, e leva sua própria equipe, a mesma do restaurante, para atender seus clientes da melhor maneira possível, com pessoal já treinado. Para ele, esse é o grande diferencial desse serviço quando comparado aos buffets de catering. Os formatos dos eventos são de tamanhos variados: “Já cheguei a realizar jantares apenas para um casal em busca de privacidade”, lembra. “Em casos assim, eu vou com apenas um funcionário, pois não há tanta necessidade de mão de obra.” Os menus – customizados – são adaptados conforme a estrutura da cozinha do anfitrião, pois os pratos são preparados no local.

Burrata, queijo clássico italiano, servida com tomates, manjericão e pesto, do Pina

O contato humano é outro aspecto ressaltado pelo chef, que é muito maior quando ele está em uma residência. “Muitas vezes, mais do que um jantar, a experiência acaba se transformando em uma aula rápida de gastronomia”, brinca Rossi. Segundo ele, o aumento por serviços em casa nos últimos tempos está justamente relacionado à comodidade e ao conforto, mas também ao senso de exclusividade: “Esse é um ponto muito marcante para mim, as pessoas realmente querem algo diferenciado, um personal chef”.

 

Foto: Glandstone Campos

Filé mignon, do Micaela

Especializado em pratos da culinária brasileira, o chef Fábio Vieira, proprietário do restaurante Micaela, nos Jardins, em São Paulo, vem apostando no segmento desde fevereiro de 2018, em um sistema onde as estrelas são, principalmente, os “carros-chefes” da casa – despretensiosos e com ingredientes brasileiríssimos, como o peixe no tucupi e o tambaqui. Na maior parte das vezes, os pratos são servidos em formato de menu degustação e custam, em média, R$ 150 por convidado.

Foto: Tomas Rangel

Mix de folhas, ovo frito com gema mole e cogumelos, do Puro Restaurante

Em solo carioca, a tendência não é menor. O chef Pedro Siqueira, dos restaurantes Puro (de culinária brasileira), Massa (italiano) e Ella (focado em pizzas), também leva a sua cozinha – que diz ser capaz de resgatar a memória afetiva – até os domicílios. Seu menu fica em torno de R$ 300 por pessoa. “A demanda é maior entre os clientes antigos dos restaurantes, mas não exclusiva. A maior parte do preparo é feita na nossa cozinha e a finalização no local do evento”, explica. Já a chef Monique Gabiatti, atualmente à frente do restaurante Cozinha, de frutos do mar, tem em sua carteira de clientes fiéis celebridades como a atriz Claudia Raia e a cantora Ivete Sangalo.