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A atual guerra civil síria começou em 2011 e já matou cerca de 400 mil pessoas, segundo o relatório da ONU. No entanto, apesar das probabilidades adversas, mais de 150 startups foram lançadas no país em 2017, segundo o World Economic Forum.
Intrépida defensora do empreendedorismo e da tecnologia, Salam é cofundadora da ChangeMakers, uma iniciativa liderada por jovens e destinada a reduzir a desigualdade de gêneros na tecnologia. O programa tem como objetivo preparar a juventude para ser competitiva em todo o mundo. A autopercepção e como planejar o futuro são parte da iniciativa tanto quanto aprender a programar.
O ensino de programação transforma vidas
Salam diz que, ao longo dos anos, notou mudanças positivas nos jovens com quem tem trabalhado na Síria. Três estagiários do ChangeMakers receberam uma bolsa de estudos UWC, uma grande honra para jovens que buscam educação e bacharelado internacionais. Trata-se de um programa de dois anos que oferece um “passaporte” de entrada em instituições de ensino superior em todo o mundo.
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A empresária acrescenta que, desde o início da guerra, houve um aumento no número de pessoas que trabalham com programação. Além disso, ela viu um aumento nas atividades sociais voltadas para a comunidade e a inovação, como o TEDx e a Startup Weekend, que também acontecem na Síria.
“Infelizmente, o mundo se concentra na destruição, e não na evolução de nossos jovens”, diz Salam. “Três ex-alunos do ChangeMakers, algumas das mentes mais talentosas da Síria, receberam a bolsa da UWC, e há muitos outros. Mas nos falta o direito de sermos visíveis e de sermos ouvidos. Este é um direito muito importante que o mundo nos tirou porque quer se concentrar no lado negativo. Não digo que devemos ignorar que a crise acontece, mas não queremos desperdiçar oportunidades para as pessoas vivas.”
“Os jovens enfrentam a repressão e não conseguem levar suas ideias além das fronteiras”, diz Salam. “Você tem um jovem sírio com uma ideia, mas encontra um concorrente, digamos, no Líbano, e essa pessoas têm mais oportunidades. As chances estão mais a favor dela.”
Um bom teste
Ela tinha acabado de chegar a Aleppo quando foi entrevistada. A cidade tem sido um dos principais campos de batalha da guerra. Mas isso não impede que Sana viaje para preparar a juventude síria para o mercado de trabalho tecnológico.
Além de ser uma das principais organizadoras da Wikilogia, uma comunidade colaborativa de estudantes de engenharia da computação em Damasco, Sana é cofundadora da Daraty, empresa que cria kits de ferramentas educacionais para ensinar às crianças o básico sobre eletrônica e solução de problemas. No ano passado, a Daraty foi nomeada pelo Fórum Econômico Mundial como uma das principais startups árabes que moldaram a quarta revolução industrial.
“Sim, temos explosões”, diz a empresária. “Sim, somos atingidos por foguetes. Mas acho que os sírios desenvolveram uma resiliência em todos os aspectos por causa disso. Pode haver uma explosão em Damasco, a capital da Síria, onde moro, mas ainda temos de trabalhar em nossos projetos e iniciativas. Se você parar, ficará para trás. Então, talvez seja isso que nos levou até onde estamos agora, além de ser o motivo pelo qual nunca paramos.”
“Há cerca de 10 anos, a Síria conseguia fabricar tudo o que precisava sem precisar importar nada”, diz. “Hoje, as fábricas estão fechadas. Muitos intelectuais saíram e perdemos muitos recursos. Mas ainda existem alguns ativos dos quais podemos nos beneficiar. Por exemplo, é muito mais fácil e barato abrir uma linha de produção, testar produtos e criar lotes para testes antes de serem enviados para a China ou o Golfo. Temos restrições porque não temos sistemas de pagamento eletrônico, mas, ao mesmo tempo, estamos decididos a encontrar meios de fazer essas coisas.”
Trabalhar com alternativas e aproveitar ao máximo os recursos disponíveis é algo amplamente praticado na ICT Incubator, uma iniciativa criada pela Syrian Computer Society. Existem três incubadoras no país, uma em Damasco, uma em Homs e outra em Lattakia. Cada programa oferece um espaço de escritório e equipamentos gratuitamente.
A engenheira da computação Fadwa Murad supervisiona a incubadora em Damasco e gerencia o projeto para ajudar suas oito startups a crescer. Com 14 mulheres e 13 homens no grupo, é animador ver o equilíbrio entre os gêneros. E, independentemente se homem ou mulher, todos os empresários pretendem criar empresas para ajudar seu país.
Durante a luta pela sobrevivência, Fadwa se mantém otimista. “Para ser sincera, foi mais difícil em 2012”, afirma. “Não conseguíamos imaginar como sobreviver na guerra. Tantas pessoas ficaram em casa. Mas, agora, depois de sete anos, você não pode mais ficar em casa, é preciso trabalhar para continuar. Estou feliz que a maioria dos jovens que têm atividades em cidades como Damasco agora são capazes de fazer mais do que sobreviver.”
Se os EUA e outras nações quiserem realmente que a guerra síria termine, precisam ser feitas sanções e as políticas têm de ser justas. Naturalmente, a única maneira para isso ser possível é por meio da divulgação internacional, comunicação e colaboração. Com toda a tecnologia digital e conectividade que o mundo ocidental tem na ponta dos dedos, isso é possível. Sim, a paz pode ser alcançada.