LEIA MAIS: Por trás dos holofotes: conheça o responsável por eventos como Rock in Rio e Lollapalooza
“Eu jamais pensei: Ah, se esse negócio der errado, eu sou herdeiro de um grupo empresarial. Minha vida está aqui. Claro que o futuro a Deus pertence, mas meu pensamento é no presente”, diz Buaiz em uma das várias salas do conjunto comercial.
Na época, cheio de vontade de meter a mão na massa, propôs ao pai que estagiasse no grupo – ideia logo rechaçada, acompanhada pelo conselho de privilegiar os estudos. Teimoso, levou a ideia ao avô, que ainda comandava a empresa, e saiu de lá com o plano aprovado: passar por todas as áreas, sem se fixar em nenhuma, e não ter nenhuma função executiva. Claro que o plano durou pouco.
“Percebi que todo mundo, nas reuniões, falava da televisão do grupo, mas a rádio era o patinho feio. Éramos uma afiliada da Transamérica, último lugar no Ibope. Capixaba olha muito para o carioca, é sua referência mais próxima. E a Transamérica era uma rádio muito paulista até na forma de se comunicar. Era estranho mesmo. Fui olhar o negócio mais de perto.” O então jovem empreendedor fez uma pequena revolução logo de cara: “Primeiro: vi que as pessoas não sabiam como se faz uma rádio, e decidi fazer um estúdio em algum lugar público. Segundo: precisávamos de talentos. Então convenci o diretor do shopping do grupo a montar a rádio num estande e fui atrás do principal locutor da cidade, que era a voz da Globo local e da nossa maior concorrente, a Jovem Pan. Eu, com 18 anos, fui atrás dele e contei o plano. Ele gostou da ousadia e topou, saiu da Globo. Foi um barulho! Aí, quando botamos a rádio no shopping e uma programação regional, em cinco meses fomos para o primeiro lugar”, lembra.
O rapaz tomou gosto pela capacidade de “fazer barulho”. Descobriu que as grandes rádios do país trabalham em conjunto com empresas de eventos. Começou então a propor sociedade com os promotores de shows locais.
Numa madrugada insone, aos 20 anos, Buaiz desenhou seu primeiro grande evento – aquele que, sem que ele pudesse imaginar, ditaria os rumos de sua carreira: o Vitória Pop Rock. “Desenhei o projeto com 12 horas de música – com Cassia Eller, Jota Quest, O Rappa, Skank, Charlie Brown Jr. e duas bandas locais. Eu tinha uns R$ 6 mil na conta e gastei tudo com o desenho do projeto”, conta. “Fui até a Globo e um diretor que havia acabado de chegar da TV Bahia acreditou em mim, achou minha proposta fantástica. Era um investimento de R$ 1,5 milhão e eu não tinha nada… Ele quis ser sócio da ideia, e assim saí de lá com o projeto de pé”, lembra, entusiasmado. Nascia a MBuaiz Entretenimento, sua primeira empresa e seu passaporte para um novo mundo. “Atingimos 28 mil pagantes e conquistei minha independência financeira.”
Depois de uma passagem pelo Rio para estudos, um amigo paulistano o procurou contando que o piloto Pedro Paulo Diniz estava de volta ao Brasil e tinha trazido com ele a Fórmula Renault. Mais: o filho de Abilio Diniz queria fazer uma etapa capixaba do campeonato. “A gente conseguiu realizar a prova num circuito de rua, à beira-mar. Deu certo. Quando o Pedro quis me pagar, propus abrir uma empresa de eventos em São Paulo tendo esse pagamento como investimento inicial e como sócios ele, eu e esse amigo que nos apresentou, o Edsá Sampaio”. Criaram a Host, que Buaiz considera sua primeira empresa consistente, na qual pôde aproveitar tudo o que aprendeu e colocar em prática um conceito que preza até hoje: a sociedade complementar – na qual os sócios devem ter habilidades diferentes. “Se eu quero abrir um restaurante japonês e tenho o Bruno Setubal como sócio, eu tenho o chef Fabrizio Matsumoto, que é o complementar”. Os três de fato tocam o Geiko-San, no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Bye, NIGHT!
“Um dia, o Luciano Huck me falou: ‘Você vai trabalhar com isso até quando?’ Respondi que, naquele momento, era para sempre. Ele disse então que a vida era feita de ciclos, que a gente tinha que fechar algumas portas e abrir outras. Em 2015 eu estava com um faturamento importante no segmento, mas meus filhos tinham nascido havia pouco tempo – e eu acabei adotando o conselho do Huck. Era o melhor momento das casas, o melhor faturamento… Era a hora de sair por cima. Me capitalizei, criei uma empresa de investimento e aí comecei a ter uma outra história.”
A “outra história” nasceu da soma entre o bom momento para sair do negócio e o momento especial em sua vida – casado (com a cantora Wanessa Camargo desde 2007) e com dois filhos. E significou a troca da noite pelo dia.
Prezar a vida em família e sair por cima nos negócios se tornaram dois mandamentos pétreos na vida de Buaiz. A Act10n, que faz gestão de imagem de celebridades e empresas, por exemplo, é fruto direto da experiência com a 9ine, empreendimento mais midiático de Buaiz, criado em sociedade com o ex-jogador Ronaldo Nazário. “Criamos a empresa assim que Ronaldo parou de jogar – ele é padrinho do meu filho, eu sou padrinho da filha dele –, e em quatro, cinco anos, a empresa ficou muito mais de entretenimento do que de esportes. Aí surgiu a Act10n”, conta Buaiz, que levou grandes clientes para a nova empresa, como Neymar, Cláudia Leitte e Paolla Oliveira. “Reforçam na mídia que a 9ine fechou, mas no tempo em que ela esteve aberta foi uma grande companhia. E que bom que a gente tomou essa decisão – que foi melhor para todos – enquanto a empresa estava no auge”, diz.
Claro que nem só de vitórias vive um empreendedor, e com ele não foi diferente. Perguntado sobre qual fracasso mais doeu na alma e no bolso, Buaiz responde, sem titubear: o primeiro ano da sociedade no Expresso 2222, trio elétrico de Gilberto Gil, com Buaiz ainda na Host, em 2004. “Foi quando Gil virou ministro e saiu na imprensa que a gente estava entrando no negócio para sermos testas de ferro, um absurdo. O projeto demandava patrocínio, não tinha venda de ingresso. Nesse quesito, foi um fracasso. Passamos os cinco dias do Carnaval sorrindo para todo mundo, mas quebrados. Ali eu perdi tudo o que tinha ganhado em um ano de empresa. De qualquer forma, foi um orgulho ter participado, ter sido sócio da Flora Gil, que é craque”, conta. Menos mal que, no ano seguinte, eles recuperaram o prejuízo.
Outra barca furada: “Fizemos um restaurante japonês em sociedade com o arquiteto Marcelo Rosenbaum, outro craque. Restaurante lindo, na principal rua gastronômica de São Paulo na época, a Amauri. Ganhou prêmio de arquitetura e tal… mas não foi”.
Hoje a agenda concorrida abre espaço para uma volta às origens – seu negócio mais recente e promissor, a WMM Company. Desde dezembro, a fusão entre a expertise de Buaiz com marcas e patrocínios, a experiência em shows internacionais da MoveConcerts e a vivência da WorkShow em eventos regionais criou uma das maiores empresas de eventos ao vivo do mundo.
Muito trabalho? Gerencie o tempo
“Sempre acreditei que ‘não tenho tempo’ é uma desculpa para não realizar o que se tem que fazer. Eu tenho uma vida absolutamente corrida, mas não deixo de estar presente com a minha família, de fazer meus exercícios físicos diários… O que é prioridade, eu realizo. Tenho uma agenda muito bem definida e eu cumpro. Treino das 12h até 13h – deu 11h45, entrou alguém na sala, já sabe que estou indo embora. Moro em Alphaville e gasto duas horas de locomoção, o que é um problema. Às 7h também treino em casa, mesmo nos dias em que estou cansado, destruído, maldormido. Levo as crianças à escola – acho importante, a gente vai conversando… Não adianta esquecer da saúde e depois ter de gastar tudo com médico”, ensina Marcus Buaiz.
Os domínios de Buaiz
WMM Company (entretenimento) com Wander Oliveira (Workshow) e Phil Rodriguez (MoveConcerts)
Act10n (gestão de carreiras de celebridades) com Marco Serralheiro e Paula Gertrudes
Agência Spark (relacionamento entre marcas e influenciadores digitais) com Rafael Coca e Raphael Pinho
Neymar Sports (rede de academias de futebol) com Neymar da Silva Santos e Charles Martins
Geiko-San (restaurante japonês) com Bruno Setubal, Philipe Klein, Marcelo Goldfarb e o chef Fabrizio Matsumoto