João Adibe Marques: o craque dos remédios no Brasil

4 de novembro de 2018
Alexandre Cassiano/Divulgação

De família tradicional da indústria farmacêutica, João Adibe Marques quer atingir seu segundo bilhão até 2020

Como os atletas de alto nível com quem convive, João Adibe Marques mal conquistou seu primeiro bilhão de faturamento (entrando no seleto time das maiores indústrias farmacêuticas do país) e já começou a traçar a próxima meta: para 2020, ele projeta dobrar esse valor.

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Líder no setor de OTCs (medicamentos isentos de prescrição médica), para chegar aos R$ 2 bilhões a Cimed aposta nos dermocosméticos (produtos para a pele), com o lançamento de uma linha própria em 2019. O grupo, de origem mineira, composto por dez empresas e 100% nacional, nasceu há mais de 40 anos. João Adibe, ex-piloto de Stock Car hoje com 46 anos de idade, começou na indústria de medicamentos aos 15 anos ao lado do pai, João de Castro Marques. Logo imprimiria na gestão da companhia o DNA esportivo que carregava.

Como patrocinadora, a empresa ataca em três frentes: futebol, vôlei e automobilismo. No futebol, a farmacêutica renovou contrato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e com a seleção brasileira até 2023; no vôlei, é parceira oficial da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e das seleções de quadra e areia; e, no automobilismo, é a única indústria a ter uma equipe própria, a Cimed Racing, bicampeã da Stock Car.

Em uma ousada jogada de marketing, João Adibe convidou 50 clientes e fornecedores para assistir aos jogos da Copa do Mundo na Rússia – com direito a um jantar com o técnico Tite, garoto-propaganda da marca. Mais impressionante que isso, no entanto, é o crescimento da Cimed – que em menos de dez anos sextuplicou sua receita.

De São Petersburgo, o empresário conversou por telefone com a FORBES e contou como sua companhia fez tantos “gols” em tão pouco tempo.

FORBES: Como você explica o crescimento rápido do grupo Cimed?
João Adibe Marques:
Ela é a única farmacêutica no Brasil com distribuidores próprios (26 ao todo), que fazem atendimento diretamente nas farmácias. Atingimos 60 mil pontos por mês em todo o território nacional. Por não termos intermediários, somos mais velozes na venda. Além disso, por termos distribuição própria, a IMSH Health, consultoria que faz auditoria da indústria farmacêutica, não contabilizava por completo nossos dados. Então, em 2015, chamamos profissionais do grupo farmacêutico e da IMSH para contabilizarem nossas vendas diretas. Em 2016, após a auditoria, saímos do 13º lugar para o 4º em unidades vendidas.

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FORBES: Foi na mesma época que faturaram R$ 1 bi?
JAM:
Sim, a grande conquista foi chegar a R$ 1 bilhão. Nossa percepção era a de que tínhamos um diamante a ser lapidado. A Cimed tem mais de 600 produtos no portfólio, divididos em seis categorias. Nossa maior plataforma de produtos são os genéricos, que cresceram mais de 30% no último ano – o foco atual é chegar à liderança dos genéricos. A companhia também chegou à liderança na categoria de OTCs, que são os medicamentos isentos de prescrição médica. A meta agora é chegar aos R$ 2 bilhões em 2020.

FORBES: Como?
JAM:
No começo deste ano, entramos no mercado de dermocosméticos e, em 2019, devemos atacar todas as frentes desse setor, no qual o Brasil apresenta grande potencial. Testamos já algumas linhas e vamos colocar nossas mercadorias no mercado, começando com um marketing forte já no fim de 2018. Temos ainda um case no segmento de vitaminas – nos últimos dois anos, a marca Lavitan é a mais vendida, com taxas de crescimento de 20% ao ano.

FORBES: Quais são as dez unidades do grupo?
JAM:
Cimed Farmacêutica, Tec Color, One Farma, Predileta Distribuidora, Instituto Claudia Marques de Pesquisa e Desenvolvimento (ICM P&D), Nutracom, Cimed Indústria de Embalagens, Associação Educacional Claudia Marques (AECM), Cimedlog e Cimed Racing. O grupo é vertical – a empresa de logística e as distribuidoras, por exemplo, apoiam as indústrias, para que tenhamos maior independência.

FORBES: Como é seu estilo de gestão?
JAM:
Comparo minha gestão à dos líderes de times esportivos. Temos esse DNA de formação de equipes na empresa. Comemoramos nossas vitórias de um jeito parecido com o dos esportistas, como se ganhássemos títulos. Para quem é competitivo, a derrota faz aprender e ensina a corrigir erros. Tudo o que é planejado tende a dar mais certo.

FORBES: E como você faz seus planejamentos?
JAM:
A cada dois anos, realizamos um encontro de líderes para discutir o futuro do grupo. Depois fazemos uma convenção para traçar os planos para os próximos dois anos. Uma vez por mês, nossas diretorias se reúnem e apresentam metas. Dentro desse planejamento, se houver necessidade de fazer uma correção de rota, ela é feita imediatamente.

Alexandre Cassiano/Divulgação

O executivo levou para a Rússia 50 clientes e fornecedores para assistir à Copa

FORBES: E a nova fábrica de R$ 100 milhões?
JAM:
A obra – em Pouso Alegre (MG) – está em andamento, com previsão de entrega em 2019. Devemos abrir 500 novas vagas nessa fábrica, que é destinada aos chamados medicamentos duros (cápsulas e comprimidos). A ideia é dobrar nossa produção nessa área.

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FORBES: A família Marques é tradicional no ramo farmacêutico. Como foi sua entrada na Cimed?
JAM:
Nasci nesse mercado. Tudo começou com meu avô João Marques de Paula e meu pai, João de Castro Marques. Chegamos a ter 14 fábricas de medicamentos. O Brasil passou por crises, e a família Marques ficou com apenas cinco indústrias – mas, se somarmos as três maiores – Cimed, Biolab e União Química –, somos o maior complexo farmacêutico do país. Comecei a trabalhar com meu pai aos 15 anos e hoje, aos 46, costumo dizer que sou o funcionário mais antigo da empresa. Assumi a presidência há seis anos – hoje meu pai já não trabalha conosco.

FORBES: Seu filho deve seguir seus passos. Que tipo de formação espera da nova geração?
JAM:
Desde que comecei, o setor mudou muito. E continua em mutação, com os avanços tecnológicos. A gestão também se modernizou. Meu filho Adibe, de 20 anos, está na faculdade de administração e, paralelamente, está se especializando em gestão de pessoas. Para se tornar um líder, ele precisa saber como lidar com gente, deixando de lado a posição de dono de um negócio. Ele já está dando palestras e falou recentemente sobre o tema “mortalidade”, uma vez que o futuro da indústria farmacêutica é a prevenção. Estamos em um momento em que se discute quanto custará para o ser humano viver mais.

FORBES: Você levou 50 convidados para assistir a Copa na Rússia? Por quê?
JAM:
Começamos o planejamento para a Copa em 2016. Fizemos pesquisas que identificaram o técnico Tite como um líder de dignidade e credibilidade, valores muito importantes para a indústria farmacêutica. Isso nos interessou muito. Em 2017, com a classificação do Brasil, avançamos com o plano. Em São Petersburgo, durante os jogos, fizemos jantares com nossos convidados, e foi muito interessante.

FORBES: A empresa ainda investe no vôlei e no Stock Car. É isso?
JAM:
Somos uma empresa verde e amarela, nossos produtos levam as cores nacionais. Temos a maior plataforma da paixão nacional: o futebol, o voleibol e o automobilismo. Com o futebol, a cereja do bolo foi a seleção brasileira. Estamos no vôlei desde 2005, quando nasceu em Florianópolis o Cimed Esportes Clube – que ganhou cinco títulos estaduais e um nacional. Com a troca de técnico da seleção brasileira de vôlei do Bernardinho para o Renan, voltamos a patrocinar a CBV. O Bruninho, levantador e filho do Bernardinho, começou a carreira jogando em nosso clube. Hoje a seleção tem sete jogadores que foram nossos. E a forte presença do setor farmacêutico na Stock Car se explica porque vários donos de fábricas de medicamentos também foram pilotos. A Cimed é o maior patrocinador do automobilismo brasileiro.

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FORBES: Qual é o retorno desses investimentos esportivos?
JAM:
Nossa plataforma de esportes consome R$ 60 milhões. Temos como meta ter no mínimo 15 vezes o valor investido de retorno de mídia.

Reportagem publicada na edição 60, lançada em julho de 2018