Conheça o bilionário - e mestre dos tabuleiros - Matt Calkins

10 de maio de 2019
Jamel Toppin for Forbes

Empresário comanda a Appian, empresa de software avaliada em US$ 2,1 bi

Resumo:

  • O empresário tem em seu portfólio os jogos “Sekigahara: The Unification of Japan” e “Tin Goose”;
  • A Appian, empresa de software do também game designer, foi lançada em 2017 e vale US$ 2,1 bilhões;
  • Assim como nos jogos, Calkins desenvolve seus softwares para que eles sejam fáceis de entender e usar.

“Eu sinto que deveria me desculpar”, diz Matt Calkins ao seu adversário enquanto apertam as mãos. É meio da noite na lanchonete do Seven Springs Mountain Resort. Calkins acaba de fazer uma jogada decisiva no tabuleiro Sekigahara. Seu adversário balança a cabeça, sugerindo que o adversário venceu graças à sorte. “Você usou uma armadilha”, diz ele.

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Sorte? De jeito nenhum. Calkins é um gênio dos jogos de tabuleiro. Isso tem algo a ver com ser um sucesso nos negócios. Por outro lado, quando não está projetando nem jogando, ele dirige a Appian Corp., uma empresa de Reston, Virgínia, que vende softwares para ajudar as empresas a criarem aplicativos mais rapidamente. A Appian, que abriu seu capital em 2017, vale US$ 2,1 bilhões – Calkins detém pouco menos da metade.

O evento Seven Springs, em julho, atraiu 1,7 mil jogadores nas Montanhas Allegheny, sudoeste da Pensilvânia, para competir em 185 jogos. Calkins não era apenas um jogador, ele criou dois desses jogos: “Sekigahara”, que recria a decisiva batalha de shogunate no Japão, e “Tin Goose”, que desafia os jogadores a construírem uma das primeiras companhias aéreas comerciais.

E há, ainda, uma outra vida. Calkins, de 46 anos, cofundou a Appian há 20 anos; Inicialmente, ele criou ferramentas de software, como um portal de intranet para o exército dos EUA. Desde 2004, a empresa vem lidando com o problema de tornar a digitalização menos intensiva em codificação para os programadores. Com o software da Appian, um cliente corporativo pode criar seus próprios aplicativos (como, por exemplo, um que possibilite aos usuários de um banco verificarem seus saldos ou outro para uma agência do governo lidar com pagamentos) a um custo menor do que se criassem por conta própria.

O que isso tem a ver com o design de jogos? Ambos envolvem quebrar cada grande conceito ou regra para sua mecânica mais simples. “Eu gosto de entender as coisas complicadas e torná-las compreensíveis”, afirma Calkins.

Criado ao norte de São Francisco, com pai do setor imobiliário e mãe professora de matemática, Calkins passou boa parte de sua vida acampando, estudando música e jogando. Em Dartmouth, onde se formou em 1994 como o melhor aluno de economia de sua classe, migrou das táticas do jogo de estratégia “Diplomacy” para as complexidades da teoria dos jogos (escreveu uma tese que explicava quando um time de hóquei perdedor deveria puxar seu goleiro). Ele fez alguns cursos de ciência da computação e, depois da faculdade, juntou-se à MicroStrategy, uma fornecedora de softwares de negócios que viveu um sucesso meteórico (e depois uma quebra no mercado de ações) na bolha das empresas online.

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Em 1999, Calkins e três amigos se encontraram para ensinar um ao outro a codificar idiomas. Ele deixou a MicroStrategy naquele ano para lançar a Appian em conjunto com eles. “Eu pensei: ‘Eu posso fazer isso’”, diz Calkins. “O excesso de confiança ajudou.”

Outras startups cresceram depois de levantar grandes somas de capitalistas de risco e, em seguida, dispararam com a mesma rapidez. Calkins foi quem deu o primeiro passo. A Appian não buscaria grandes financiamentos externos até 2008, quando arrecadou US$ 10 milhões, seguido por uma rodada de US$ 36 milhões liderada pela empresa de capital de risco NEA, em 2014.

O talento da Appian é low coded (código baixo). Ao oferecer blocos de código para as empresas, a empresa encurta o tempo do cliente para criar seu próprio aplicativo. A Appian lida com todos os detalhes mais complicados, como garantir que o aplicativo funcione em navegadores da web, dispositivos móveis e computadores. Clientes como Sprint e Bayer AG ganham tranquilidade. No Goldman Sachs, engenheiros bem treinados usaram o software para montar programas rapidamente, sem precisar escrevê-los do zero. “Não é apenas um programa mais rápido, mas mais poderoso”, diz Calkins.

A demanda pelo produto da empresa cresceu à medida que mais empresas perceberam que os clientes esperavam a mesma experiência simplificada de seus aplicativos favoritos para smartphones. As vendas e suas ações, quase o triplo do preço do IPO, dispararam – embora não em lucros. Como muitas empresas de software de serviço, a Appian ainda funciona com prejuízo para suportar o aumento de marketing e pesquisa e desenvolvimento.

Enquanto gerenciava a empresa em crescimento, Calkins manteve seus jogos de tabuleiro competitivos. Ele coletou 700 deles e os disseca para os seus mecânicos. Por quase duas décadas, ele tem sido assíduo no Campeonato Mundial de Jogos de Tabuleiro.

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Calkins diz que os jogos fornecem um ciclo de feedback claro. Cada jogo começa em pé de igualdade. Tem apenas dois resultados verdadeiros, a vitória ou a derrota. Ele não perde muito, mas quando acontece, recria a posição crucial e fica acordado a noite toda estudando-a. “Eu acabei de voltar de um torneio e minha mente está a todo vapor”, diz ele.

Um dos concorrentes da Appian é a Pegasystems, de Boston. A empresa é dirigida por Alan Trefler, também bilionário do Dartmouth que, não surpreendentemente, dividiu o título do mundial de xadrez em 1975. Jogar exige que você aprimore suas habilidades de reconhecimento de padrões e avaliação profunda e desenvolva um sexto sentido para erros, diz Trefler. “Se você perder a concentração, você morre. E isso acontece de verdade nos negócios”, diz.

A criação de jogos de tabuleiro força Calkins a extrair narrativas históricas e centenas de escolhas de características em um conjunto coerente de regras. O resultado também deve ser divertido – seus amigos avaliavam as primeiras versões de “Sekigahara” como entediantes e excessivamente complexas. O fluxo de trabalho das necessidades de um cliente da Appian requer um processo semelhante.

Os mundos de jogos e software se cruzam na Appian, que possui sua própria biblioteca de versões de tabuleiro. Os funcionários são convidados mensalmente para as noites de jogatinas na casa de Calkins. Todos os 42 estagiários compareceram a uma sessão no ano passado. “Eles querem tentar ganhar jogos contra o chefe”, diz David Metzger, vice-presidente de talentos da empresa, que fez amizade com Calkins nos campeonatos de jogos de tabuleiro e depois se juntou à companhia. “Mas não obtiveram muito sucesso na missão.”

O desafio pode ser suficiente para impedir que jovens talentos saltem para um empreendimento mais chamativo no Vale do Silício. Joel Fishbein, analista da BTIG, observa que embora a Appian tenha uma tecnologia bem posicionada e um forte relacionamento com empresas de consultoría como Accenture, PwC e a KPMG, ela enfrenta uma batalha difícil em sua categoria, já que não tem inteligência artificial ou foguetes.

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Entre junho e agosto, Calkins voltará a competir em Seven Springs, em busca de repetir seu desempenho de 2018, quando venceu duas categorias e terminou em 7o no ranking geral. Ele não se incomoda com a atenção e diz que planeja resolver problemas em ambos os ambientes por um longo tempo. “Você é o que você fez no seu último jogo”, diz ele. “Não nos diga quem você é. Apenas sente e mostre.”

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