Harley-Davidson tem três novos protótipos de bicicletas elétricas

30 de agosto de 2019
Maskot/GettyImages

A mudança nos gostos dos consumidores obrigou a Harley-Davidson a investir no mercado de ebikes

Resumo:

  • Três modelos de bicicletas elétricas (ebikes) foram revelados na seção de futuros veículos da Harley-Davidson;
  • A entrada da empresa neste novo mercado pode causar estranhamento e revolta entre os clientes mais velhos da montadora, conhecida pelas motos;
  • Para sobreviver financeiramente, a Harley precisou abrir a visão para os gostos da nova geração, que não quer motos para se locomover;
  • O maior desafio da marca é vender as ebikes para um público acostumado às motocicletas e atingir alvos diferentes.

Em um movimento que, com certeza, vai fazer seguidores fiéis da Harley franzirem sobrancelhas e talvez soltarem alguns palavrões, a empresa de motocicletas apostou de vez no seu projeto de motocicletas elétricas LiveWire, com três novos protótipos de bicicletas.

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As três bicicletas expostas na postagem da seção “Future Vehicles” do site da Harley-Davidson parecem estar mais próximas de prontas para produção do que para protótipos em desenvolvimento. Elas também estão misturadas a três outros modelos “futuros”, incluindo o Livewire, o próximo modelo streetfighter e o modelo Pan American dual-sport que está programado para breve.

Depois de algumas manobras no Photoshop, é possível notar que as bicicletas na imagem são sofisticadas e avançadas, equipadas com o que parecem ser eixos traseiros de diferentes velocidades, correia de transmissão (em vez de correntes), disco de freio e motores elétricos colocados entre os mecanismos de pedalar. As baterias parecem estar presas entre o quadro da bicicleta em vez de ficarem fora da caixa, em um configuração de rápida troca. Três modelos são expostos, incluindo um sem tubo superior na caixa. Os avisos padrão também estão presentes na página (protótipos em exposição, ainda não está disponível etc.), então, ainda não há nenhuma garantia de que os modelos irão ser comercializados.

Também não há especificações sobre performance concretas além do “pedal-assist” e nada foi dito a respeito de preços.

Mas voltando: existe uma tendência de tentar fazer as ebikes parecidas com as bicicletas tradicionais, mas a Harley decidiu não seguir este caminho. Os modelos são claramente máquinas elétricas, com estilo moderno e notável que combina a familiaridade de uma bicicleta com o visual pesado de uma máquina potente. E ficaram bons.

Se os modelos chegarem a ser produzidos (e eu apostaria que a chance de eles serem é alta), só irão mostrar que a empresa está dedicada às promessas de desenvolver mais modelos elétricos e fora do padrão. E, mesmo que um conceito de bicicleta elétrica estivesse nos planos, não imagino que muitos pensassem que um trio de híbridos movidos por pedal estivessem próximos de serem lançados.

A pergunta que fica para muitos aficionados provavelmente é: por quê? E por que agora?

Para muitos da base de fãs da Harley, essas bicicletas (e outros projetos) podem parecer algo amaldiçoado, uma heresia ou desespero. Ou tudo isso junto. Bicicletas elétricas? O CEO Matthew Levatich ficou maluco? Provavelmente não.

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Todos que acompanham o declínio contínuo da fortuna (e valor das ações) da Harley-Davidson entendem que a empresa precisa diversificar seus produtos para além de seus modelos tradicionais robustos e de alto custo se quiser sobreviver.

Lembre-se que Levatich é mais do que um assinador de papéis ou alguém que caiu de paraquedas na empresa. Ele está na Harley-Davidson há mais de duas décadas. Ele também é engenheiro mecânico e presenciou a retração econômica ir de uma gota até uma correnteza. Os problemas que a empresa está enfrentando são muitos e variados.

Motos da Harley podem ser caras, mas o real problema é que o ganho dos trabalhadores não seguiu o mesmo ritmo de crescimento da economia, enquanto aluguéis e outros gastos (como preço de casas e cuidados com a saúde) definitivamente seguiram. Motociclistas das antigas ou que estão voltando à ativa estão envelhecendo, saindo do mercado de motocicletas e entrando na segurança dos carros. As gerações mais jovens não gostam tanto de motos como seus pais e avós gostavam, elas preferem gastar com celulares, video games, patinetes elétricos e serviços de transporte urbano compartilhado. Para os jovens (e cada vez mais pessoas), carros são um luxo bem caro. E motos? Perigo, muito perigo!

Crianças que foram criadas em carros cada vez mais seguros, com uma dúzia de airbags, proteções para o corpo e capacete para bicicletas não vão aceitar o estilo de rebelde de estrada com muita facilidade quando adultas, pelo menos não em uma quantidade que ajude a Harley-Davidson a se manter funcionando como no passado. Os analistas podem discutir e opinar o quanto quiserem, mas a rua mostra a verdade: as pessoas estão dividindo conduções e andando de bicicleta, patinetes e novas máquinas. As bicicletas elétricas estão aumentando sua popularidade conforme os preços caem e a qualidade aumenta. As ebikes representam um forte vetor deste popular novo paradigma de transporte elétricos e oferecem novas oportunidades de design, marketing e lucros para fabricantes de bicicletas. Porque as de motos deveriam ficar de fora disso?

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Eu imagino que a conversa que aconteceu na empresa enquanto o projeto do LiveWire era desenvolvido nos últimos cinco anos não foi do tipo “Por quê?”. Provavelmente, a pergunta foi “Por que não?”. Claro, isso é um risco gigante de produção e direção para a Harley, que passou décadas comercializando motos sob uma ideia de rebeldia, liberdade e machismo. Mas,como vender bicicletas elétricas? É possível esperar que os possíveis compradores realmente entrem nos showrooms da empresa para fazer um teste no estacionamento?

A Honda dominou os Estados Unidos (e quase acabou com a Harley) nos anos 1960 com a campanha “Você conhece as melhores pessoas em uma Honda”. A Harley-Davidson deveria se espelhar nas propagandas icônicas e mirar as novas bicicletas e motos elétricas em uma nova audiência fora do seu alcance normal. Uma Harley em uma loja de bicicletas seria algo que eu teria curiosidade de conhecer.

Embora eu aplauda a visão mais ampla da Harley e a nova mentalidade, tenho certeza de que eles estão cientes do fato que a competição nas ebikes já existe e está crescendo, vinda de Japão, China, Europa e qualquer lugar que possa colocar motores e baterias em bicicletas. A Harley produz ótimas motocicletas, eu já dirigi muitas delas por muitos anos, mas eles vão precisar do melhor e mais atípico esforço para fazer os clientes aceitarem as bicicletas Harley e sentirem o prazer que os faz comprar mais produtos da marca, especialmente se eles quiserem adquirir as ebikes dos sonhos.

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