A apenas uma hora de San Juan, a capital de Porto Rico, na cidade de Humacao, está a Puerto Rico Industrial Commercial Holdings, ou como é mais conhecida, Prich Biotech, a maior empresa de cannabis da América Latina. No comando está o venezuelano Mounir Kabche, que foi para Porto Rico atraído por perspectivas de negócios abundantes, mudança que lhe permitiu prosperar nos setores de cannabis e imobiliário, entre outros.
As vendas totais em toda a América Latina em 2022 são estimadas em cerca de US$ 82,3 milhões. Apesar de a estimativa ser de um crescimento de 390% em quatro anos, para cerca de US$ 404 milhões em 2026, o consumo total ainda é uma fração do mercado de Porto Rico, que movimentou US$ 250 milhões em 2022.
A localização da Prich não é um acaso. A empresa se beneficia da situação única deste território americano no Caribe, que oferece um ambiente excepcional para empresas de cannabis, que se beneficiam de sua posição legal como corporações estrangeiras. Isso as isenta do imposto de renda federal e de certas responsabilidades fiscais locais.
Graças a esses benefícios, a Prich conquistou uma presença robusta neste mercado em expansão. “Nosso sucesso reflete as tendências mais amplas que estamos testemunhando na América Latina”, diz Andrew Berman, COO da Prich. “A região está progressivamente aceitando a cannabis tanto para uso medicinal quanto recreativo”, diz.
Inovação e mudanças regulatórias
No entanto, a história vai além do sucesso da Prich. O mercado latino-americano de cannabis é uma narrativa de mudanças regulatórias, visão empreendedora e inovação científica, além do abandono de um viés negativo histórico. Esse processo pode colocar a América Latina como uma potência global da cannabis, apesar de esse cenário ainda não ter se concretizado.
Tomemos o Brasil como exemplo. Suas vendas para 2022 são estimadas em US$ 37,1 milhões, segundo a consultoria britânica Prohibition Partners. Este número é significativamente menor do que as vendas de Porto Rico, que excedem os números brasileiros em mais de seis vezes, apesar de Porto Rico ter 1,7% da população brasileira. Mesmo as vendas projetadas do Brasil para 2026, estimadas em US$ 181 milhões, não chegam nem perto das vendas atuais de Porto Rico.
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A solução, diz Kabche, é agregar tecnologia ao processo. “O que poderia ser uma porta de entrada melhor para a indústria da cannabis do que uma instalação farmacêutica repleta de tecnologia de ponta?”, pergunta. Segundo ele, Porto Rico é o local ideal. “As condições tributárias são únicas e há muitos talentos, pois aqui são produzidos 12 dos 20 medicamentos mais vendidos nos EUA”, diz ele. “Atualmente empregamos cerca de 350 pessoas, operamos 20 dispensários e temos 40% do mercado.” Graças a isso, a Prich é a empresa de cannabis com maior receita na América Latina: suas vendas anuais chegam a US$ 50 milhões.
Disseminando informação
Para entender a relevância da empresa, é preciso analisar o setor, em especial a Colômbia, onde as empresas estão mais desenvolvidas e o investimento atingiu seu ponto mais alto na região. Por exemplo, a Allied Corp e a Flora Growth, duas das maiores empresas da região, ambas de capital aberto. A Allied vale US$ 19,4 milhões e a Flora está avaliada em US$ 17,77 milhões, respectivamente. Já as canadenses PharmaCielo e Avicana valem, respectivamente, US$ 20,19 milhões e US$ 17,05 milhões.
O sucesso da Prich em atender mais de 300 dispensários serve como um estudo de caso, especialmente considerando o estigma em torno da cannabis. Kabche credita esse sucesso à mudança no sentimento público em relação à cannabis, provocada pela disseminação da informação.
Houve alguns desafios no caminho. A tradicional família venezuelana de Kabche, de origem libanesa, recebeu com espanto sua decisão de entrar na indústria da cannabis. A virada ocorreu em 2016, quando uma pesquisa revelou uma taxa de aprovação de 65% para cannabis medicinal entre os porto-riquenhos. Kabche acredita firmemente que “uma vez que as pessoas estejam munidas de informações confiáveis, a transformação é inevitável”.
O empresário ressalta do papel importante do setor imobiliário. Seja reinventando laboratórios, estufas abandonadas e até prisões, ou garantindo locais estratégicos, os imóveis servem como um ponto de entrada viável na economia da cannabis. “Nossa perspectiva de investimento é holística”, diz Kabche. “O negócio de cannabis não é unidimensional; abrange agricultura, manufatura e varejo. Esse entendimento abrangente nos impulsiona em direção à nossa visão de Cannabis 2.0“, diz.