Em sua primeira “loja circular”, inaugurada no fim de 2021 no Rio de Janeiro, a Renner montou uma espécie de vitrine de suas iniciativas de sustentabilidade. Ali, amostras da pauta de sustentabilidade da empresa estão presentes desde a arquitetura – com uso de materiais reciclados e recicláveis e reaproveitamento de 97% de resíduos – até o abastecimento com energia originada de fonte eólica.
Estão também na seleção de peças com Selo Re (indicativo de que geram menor impacto ambiental na produção), no coletor do serviço de logística reversa e no espaço dedicado ao Repassa, plataforma de revenda de vestuário, calçados e acessórios adquirida ano passado. Hoje, a Renner conta com mais uma loja circular. E recebeu, por essas e outras estratégias, a maior pontuação entre as empresas de varejo no S&P Global Sustainability Yearbook 2022.
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“É um reconhecimento importante de que estamos em um bom caminho”, diz o diretor presidente da Lojas Renner, Fabio Faccio. “O S&P integra as empresas de capital aberto com as melhores práticas de sustentabilidade no mundo, e já estamos pelo quinto ano consecutivo no índice, sendo que neste último atingimos a classificação máxima. Mas sabemos que ainda temos bastante coisa para fazer, por isso lançamos metas para continuar evoluindo no tema.”
Em 2021, a Renner fechou um ciclo de compromissos públicos, chegando a 100% das operações com abastecimento de energias renováveis e de baixo impacto, redução de 20% das emissões de gás carbônico em relação a 2017 e 80% do portfólio formado por produtos menos impactantes ao meio ao meio ambiente. E agora lançou novos desafios, como estender a transição energética para a cadeia de parceiros e fornecedores, ter 100% de produtos de impacto reduzido até 2030 e chegar à neutralidade climática até 2050.
Para Faccio, a economia circular está no alicerce dessa jornada. “Conseguimos construir uma moda cada vez mais responsável ao planejar desde o início ações de circularidade que permitam o menor uso de recursos naturais – seja nos nossos produtos, na matéria-prima, nos processos ou no modelo construtivo das lojas”, afirma o presidente da Renner.
Há um custo para iniciar essa transformação, claro. “Requer bastante investimento, pesquisa, trabalho em alguns pontos”, diz o executivo. “Mas a gente entende que é o que faz sentido para todos os stakeholders. E por isso a gente investe há muitos anos nisso, em pesquisa de como ter materiais reciclados ou menos impactantes a um custo não tão maior, como modificar os modelos produtivos com menor uso de água, como, nos equipamentos da loja, usar materiais que possam ser reciclados no futuro.”
O esforço passa por inteligência para evitar perdas – tanto no processo de fabricação como nos pontos de vendas. “Investimos um pouco mais no produto, mas, com o uso de dados, procuramos ser cada vez mais assertivos nas coleções. Assim conseguimos gerar mais valor, com menos estoque”, diz Faccio. “Desenvolvemos os produtos com nossa equipe de estilistas e designers e com apoio de cientistas de dados, trazendo o que o cliente quer, evitando o desperdício do que o cliente não quer e, com isso, fazendo uma equação financeira positiva.”
As iniciativas atingem desde o início da cadeia, com o lançamento recente de um jeans 100% rastreado por tecnologia blockchain (que permite acessar informações sobre a origem certificada do algodão), até depois de passar pelo consumidor. Isso é feito tanto por meio da logística reversa, que começou com o recebimento de embalagens de perfumes em 2011, quanto pelo apoio para estender o tempo de circulação das peças. Entra, nesse último caso, a aquisição do brechó online Repassa. “É uma empresa nativa digital que proporciona ao cliente um ciclo de vida ainda mais longo para seus produtos”, diz Faccio.
Uma pilha de roupas
No dia 17 de maio, Dia Mundial da Reciclagem, uma instalação da artista plástica Carol Almeida na avenida Paulista procurava chamar a atenção dos transeuntes para a questão do descarte de produtos têxteis. Era parte de uma ação da Malwee para lançamento do Des.a.Fio – um moletom que não pode ser comprado, só trocado.
Durante a campanha, os consumidores entregaram cinco peças usadas, encaminhadas para doação à Cruz Vermelha ou reciclagem, e receberam de volta um moletom feito com malha de fio desfibrado produzido a partir de roupas usadas que seriam descartadas (e foram coletadas em parceria com o Repassa).
“A doação costuma ser o fim do ciclo das peças que escolhemos vestir, porém elas não acabam assim”, declarou Guilherme Moreno, Gerente de Marketing da Malwee. “Em algum momento, todos os produtos que um dia já fizeram parte do nosso guarda-roupas serão descartados e quando esse momento chegar, precisamos buscar alternativas de menor impacto para que esse descarte aconteça.”
Para o lançamento, foram produzidos 1.500 moletons de modelo unissex e dupla face, nos tamanhos infantil 4 ao adulto plus size, em cor cinza mescla original do fio sem tingimento. A ideia é que seja o ponto inicial para um processo de coleta de roupas usadas em pontos de venda da marca. Ao entregar suas peças para doação ou reciclagem, o consumidor terá desconto nas compras.
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“A gente conseguiu arrecadar 8 mil peças na ação”, diz Karen Hofstetter, diretora criativa e fundadora da Nama, estúdio que desenvolveu a campanha com a Malwee. Segundo ela, a conscientização do consumidor sobre o descarte dos produtos têxteis ainda é uma questão no Brasil. “Uma pesquisa do Instituto Modefica mostrou que quase 90% das pessoas fazem doações para projetos sociais, mas 50% delas não sabem que existe a possibilidade de reciclagem e só 20% têm hábito de revender peças”, diz.
Baseada em Berlim, na Alemanha, Hofstetter conta ter participado do projeto de uma loja piloto da fast fashion H&M na cidade onde se oferece uma curadoria de produtos de segunda mão. Ressalta também que lojas da rede de origem sueca oferecem pontos de coleta de usados e assistência para pequenos consertos e ajustes de roupas. “Economia circular é tudo que faz com que o produto aumente o ciclo de vida dele e não seja descartado. A reciclagem é uma alternativa, mas não é a única. Se você faz um pequeno reparo, vende ou repassa, aumenta o ciclo de vida da peça”, diz.
* Reportagem publicada na edição 97, lançada em maio de 2022
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