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Além disso, o trabalho de muitas mulheres não termina quando elas saem do escritório. O sexo feminino é, frequentemente, responsável por cuidar dos filhos e lidar com as tarefas domésticas.
Os custos ocultos não param quando elas entram no escritório: pense em quanto tempo você gasta reescrevendo emails para não ofender alguém por parecer severa demais ou o número de vezes que a tarefa de tomar notas em uma reunião recaiu sobre você.
Farta da discrepância de gênero, Gemma Hartley escreveu uma história para a “Harper’s Bazaar” no ano passado intitulada “Women Aren’t Nags – We’re Just Fed Up” (“Mulheres Não São Rabugentas – Apenas Estamos Fartas”, em tradução livre). Com sinceridade, a escritora compartilhou sua frustração sobre assumir um trabalho mais emocional em seu próprio casamento. A história rapidamente se tornou viral, provocando uma conversa mundial sobre a desigualdade de gênero. Gemma, agora, é autora do livro “Fed Up: Emotional Labour, Women, e the Way Forward” (“Farta: Trabalho Emocional, Mulheres e o Caminho a Seguir”, em tradução livre), que explora a “carga mental” que as mulheres carregam.
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FORBES: Como você define o trabalho emocional?
Gemma Hartley: Eu defino o trabalho emocional como a atividade não remunerada, muitas vezes despercebida, que envolve manter todos ao seu redor confortáveis e felizes. É a combinação do gerenciamento das emoções e da vida. Essa definição envolve muitos outros termos associados a esse tipo de tarefa: a carga mental, preocupação, invisibilidade. Muitas mulheres acham esse conceito de trabalho emocional uma chancela útil para pensar em todas as suas obrigações e compromissos emocionais e mentais subvalorizados.
F: Como o trabalho emocional é transferido para as carreiras das mulheres?
trong>F: Quais são os sinais mais comuns de alguém que está realizando muito trabalho emocional na profissão?
GH: Se você é aquela pessoa com quem os demais sempre contam para organizar as festas e happy hours do escritório, ou descobre que seu tempo é consumido por colegas “que pegam ideias suas” ou pedem conselhos (sem reciprocidade), o trabalho emocional desempenhado provavelmente está diminuindo seus objetivos de carreira. É uma posição difícil de ocupar, porque as mulheres que deixam de lado as expectativas estabelecidas para o trabalho emocional são, muitas vezes, negativamente rotuladas por não quererem arcar com essa tarefa baseada no cuidado. Mesmo quando está claro que a mesma expectativa não existe para os colegas do sexo masculino, supomos que elas são “simplesmente melhores nessas coisas” naturalmente e, portanto, devem estar inclinadas a fazê-lo.
F: O que pode ser feito para lidar com o estresse do trabalho emocional tanto na carreira quanto no “terceiro turno” em casa?
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F: Qual foi sua reação quando a história da “Harper’s Bazaar” se tornou viral? Como você lidou com a repercussão?
GH: Eu já escrevi artigos que se tornaram virais antes, mas nada nunca havia atingido uma circulação tão alta [foi compartilhado nas redes sociais quase 1 milhão de vezes]. Fiquei completamente surpresa com o número de pessoas que se identificaram com a história, e é por isso que mergulhei mais fundo no tema do trabalho emocional e decidi escrever um livro sobre o assunto. Estou longe de ser a primeira pessoa a explorar essa definição expandida de trabalho emocional, mas acho que meu artigo saiu em um momento decisivo – logo antes do movimento #metoo de Tarana Burke ressurgir – e as mulheres estavam, literalmente, fartas do desequilíbrio continuado que elas vivenciam em tantas áreas de suas vidas. A maior parte da reação com que lidei foi sobre o fato de que meu artigo não apresentava múltiplos ângulos, porque se concentrava bastante na minha experiência pessoal. Essa é uma crítica construtiva que eu pude levar em conta quando escrevi o livro, certificando-me de que eu olhava para o trabalho emocional de diferentes perspectivas. Quanto aos trolls e ativistas dos direitos dos homens? Seus emails foram para o lixo sem serem abertos.
GH: Eu acho que o maior impacto do meu artigo sobre trabalho emocional foi que ele aumentou a conscientização em torno desse “tarefa sombria” que as mulheres fazem. Eu ouvi homens dizendo que estavam ouvindo aquilo pela pela primeira vez e prometendo se comprometer a fazer melhor. Eu ouvi de casais queer (pessoas não binárias) que haviam notado que essas dinâmicas heteronormativas caíram em seus relacionamentos. Mas, mais comumente, eu ouvi de mulheres que se sentiram representadas porque eu tinha ajudado a esclarecer o fato de que o trabalho emocional é trabalho e, além disso, é valioso. Há muita dor em sentir-se invisível, e é exatamente o que o sexo feminino sente quando realiza trabalho emocional.
Tornar-me mais consciente do trabalho emocional mudou drasticamente o meu próprio relacionamento. Meu marido suportou conversas intermináveis sobre o assunto enquanto eu escrevia meu livro, e acho que nós dois saímos disso com uma melhor compreensão um do outro e de nós mesmos. Agora que podemos ver claramente o trabalho emocional em nossa casa, somos mais capazes de lidar com isso juntos.
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GH: Eu acho que o “equilíbrio” perfeito é um mito. É empurrar e puxar, mas eu tento não me machucar com isso. Ninguém pergunta aos homens se eles aspiraram a casa ou lavaram a roupa enquanto estão arrasando no escritório. Então eu tento não minar meu sucesso ao apontar para coisas que não foram feitas em outras áreas da minha vida.