LEIA MAIS: Mindfulness controla ansiedade e aumenta a produtividade
Sua proposta tem implicações revolucionárias para nossas vidas pessoais e profissionais. É importante observar que sentimentos negativos costumam ocorrer quando nossos egos estão sob ameaça. Ficamos com raiva, por exemplo, quando alguém nos insulta. Ficamos com medo quando iniciamos uma negociação – e frustrados quando ela acaba indo contra nós. Odiamos com base na inveja e na vingança. Ficamos deprimidos quando somos desvalorizados.
Por que essa é uma perspectiva revolucionária?
Uma opção tradicional para lidar com as emoções negativas, advinda de terapias cognitivo-comportamentais, é desafiá-las de maneira ativa. Por exemplo: eu julgava a mim mesmo de forma rígida quando não conseguia atingir uma meta, mas comecei a desafiar essa auto-avaliação. Com o tempo, eu me tornei competente em analisar o meu fluxo de pensamento, interceptando ideias negativas e substituindo-as por alternativas mais construtivas. Pesquisas mostram que, além de exercitar a alma, isso pode ser útil para pessoas com depressão ou ansiedade.
Uma outra opção tradicional, voltada para o âmbito comportamental, é treinar nossos corpos para sustentarem estados incompatíveis com a nossa negatividade. Para isso, podemos aprender técnicas de relaxamento e aperfeiçoá-las por meio da prática. Quando estamos em uma situação que desperta o medo, devemos praticar esses exercícios e entrar em um estado incompatível com a negatividade imediatamente. Assim, podemos nos recompor para saber como responder às situações. Pesquisadores também consideram esse exercício extremamente útil para pessoas com problemas como estresse traumático.
Cada uma dessas opções dá apoio ao eu interior, reduzindo ou até eliminando os pensamentos negativos. No entanto, o Dalai Lama propõe que façamos muito mais do que minimizar a negatividade, podendo treinar para sustentar novos níveis de consciência. Um exemplo é um comerciante com quem trabalhei, que ficou frustrado ao ter um prejuízo nos negócios. Com o passar do tempo, ele aprendeu a direcionar seu foco, melhorar seu fluxo de pensamentos e manter a calma quando as coisas não davam certo. Mas o que realmente transformou sua performance no trabalho foi a habilidade de ser grato mesmo com a perda. Se o comerciante pudesse entender por qual motivo sua decisão não funcionou, isso proporcionaria uma lição valiosa para o futuro. Em vez de encarar a perda como um fracasso, ele poderia aceitá-la como uma mensalidade paga pelo aprendizado. Grato pelo conhecimento, o homem teve mais energia e não ficou esgotado.
Segundo o Dalai Lama, a chave para esse treinamento é “desenvolver uma constante familiaridade” com os estados positivos. Em outras palavras, podemos tratar a vida como uma academia espiritual, na qual os obstáculos proporcionam oportunidades para exercitar sentimentos positivos. “Bons desejos não são suficientes. Devemos nos dedicar de maneira engajada”, escreve o líder espiritual. No livro que estou escrevendo atualmente, chamado “Radical Renewal”, examino tradições espirituais ao redor do mundo e sugiro que elas colaborem para nosso desenvolvimento como seres humanos ao longo de três caminhos: da alegria, da paz e do arrependimento. Cada um deles expande nosso estado de consciência. Em um sentido literal, podemos ver esses caminhos como equipamentos em nossa academia espiritual: podemos exercitar ou negligenciar cada um dele.
Dessa perspectiva, as grandes tradições espirituais do mundo são coleções de boas práticas para cultivar alegria e gratidão, paz e tranquilidade interior, arrependimento e empatia. É a isso que o Dalai Lama se refere como “uma espécie de higiene das emoções”.
E MAIS: 7 dicas de mindfulness para empreendedores
Já o pesquisador David Bryce Yaden descobriu que experiências transcendentes são mais comuns do que imaginamos. Um dos casos mais interessantes pesquisado é o fenômeno de “ser chamado” para um campo particular de empenho. De acordo com Yaden, esse senso extraordinário é surpreendentemente comum, ocorrendo em entre 30% e 40% da população. Além disso, Yaden também estuda o fenômeno das “epifanias morais”, quando as pessoas têm uma mudança dramática de perspectiva. Será que a “higiene das emoções”, imaginada pelo Dalai Lama, pode ser o primeiro passo para uma vida cheia de significado?
Está cada vez mais claro que, com a psicologia, podemos fazer mais do que resolver problemas emocionais. A mensagem do monge budista sugere que podemos, literalmente, treinar a nós mesmo para transcender.