Priya estava frustrada. Poucos minutos atrás, ela tinha falado com muita firmeza durante uma chamada de vídeo em equipe.
Para um executivo em ascensão em uma das empresas de tecnologia mais bem-sucedidas do mundo, o argumento de Priya era perfeitamente correto. Mas sua entrega apaixonada foi recebida por um silêncio repentino e constrangedor.
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Um de seus colegas quebrou o silêncio para ajudá-la. “Acho que o que Priya quis dizer foi que…”, começou ele, antes de reafirmar sua posição pensativamente. A equipe aceitou tal versão e começou a traçar planos de execução na hora.
No entanto, essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. Priya começou a perceber que poderia estar parecendo forte demais e, assim, afastando possíveis apoiadores. Seu chefe já tinha dado esse feedback algumas vezes, assim como um colega de sua confiança na equipe.
Uma característica de personalidade pode impedir o sucesso?
Priya se perguntava como mudar de abordagem. “Às vezes, eu apenas vejo coisas que os outros não conseguem”, ela pensou. “E eu sinto que tenho que acordá-los. Mas não sei como fazer isso.”
Ela sabia de uma coisa: aquilo não estava funcionando. As pessoas se fechavam e paravam de ouvir.
Ela começou a questionar se a sua própria personalidade poderia ser um problema. “Talvez seja apenas quem eu sou”, ela pensou. “E se eu não tiver o que é preciso para ter sucesso nesse nível? E se eu simplesmente não conseguir superar isso?”
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Foi nessa época que a empresa onde Priya trabalhava me contratou. Longe de pensar que ela não conseguiria, sua chefe apreciava seus muitos talentos e estava disposta a investir em seu desenvolvimento. Ela sabia que Priya tinha habilidades técnicas impecáveis. Mas ela também entendia que a colaboradora precisava melhorar sua habilidade interpessoal para ter sucesso em grandes empresas.
Como a autoconsciência gera perspectiva e influência
Na minha experiência como coaching e em mais de 25 anos como executivo sênior em empresas como Microsoft e Novartis, já vi essa história muitas vezes. Felizmente, ela tem uma solução muito efetiva.
Eu expliquei a Priya como, sem consciência, o que resta é hábito e padrão. Mas, com consciência, há perspectiva e escolha – e responsabilidade. Se ela pudesse cultivar uma consciência elevada de suas características mais incômodas, ela poderia se autogerir melhor em momentos de apostas altas e influenciar seus colegas de forma mais efetiva.
Intrigada, Priya se perguntou como exatamente ela deveria fazer para aumentar sua consciência. “Existe uma ótima técnica para isso”, eu disse, “mas você tem que praticá-la. Quando você fizer isso, eu prometo que os resultados vão surpreendê-la.”
Registre seu desempenho para chegar ao autoconhecimento
Atletas de elite assistem a vídeos de si mesmos em ação para melhorar o desempenho. Isso os ajuda a ver o que estão fazendo certo e o que precisam corrigir. Eles então trabalham com o treinador para ajustar tais pontos.
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Atores, apresentadores de televisão, palestrantes públicos e muitos outros usam a mesma técnica. Na verdade, qualquer pessoa que queira melhorar sua performance pode colocar o princípio em prática – e as gravações de vídeo não são necessárias.
A Stagen Leadership Academy, onde faço parte do corpo docente, desenvolveu uma técnica poderosa que os executivos podem usar para analisar suas performances como jogadores de golfe profissionais e bailarinos. Ela é chamada “Performance Journaling”, e funciona da seguinte maneira:
Etapa 1: Repetição
Primeiro, pense em uma situação em que você não se comportou da maneira que gostaria. Talvez tenha sido durante uma reunião de negócios ou durante uma conversa com alguém da família. Coloque no papel o que aconteceu, descrevendo a situação da melhor maneira possível. Mantenha sua descrição breve e baseada em fatos, como em uma gravação de vídeo. Não edite, interprete ou atribua motivos.
Em seguida, anote os resultados doe seu comportamento, incluindo as consequências e implicações de sua ação. Novamente, mantenha sua descrição sucinta e atenha-se aos fatos.
Etapa 2: Reflexão
Agora é hora de escrever o que você estava pensando e sentindo durante a situação. O que se passava na sua cabeça? Como você estava – bravo, animado, pessimista, estressado, vulnerável? Descreva tudo o que puder lembrar sobre seu estado interior.
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Em seguida, anote o que você realmente fez e disse. Depois, descreva qual era o seu mindset durante esse comportamento. Por exemplo: você estava se vitimizando? Você estava perseguindo outros colegas? Você estava resgatando outras pessoas da equipe? Evite a tentação de explicar o que os outros fizeram. Basta se descrever.
Etapa 3: Plano de ação
Até então, você tem investigado uma situação passada. Mas agora você se concentrará no que deseja para o futuro.
Comece identificando e anotando todos os insights críticos obtidos nas etapas 1 e 2. Quais hábitos e padrões você percebeu em si mesmo? Qual comportamento apareceu dessa vez que se repetiu no passado? O que parece desencadear esses comportamentos?
Pergunte a si mesmo o que você realmente deseja em situações como essa. Uma excelente maneira de compreender os resultados desejados é examinar seus valores essenciais. Considere que um comportamento alinhado aos seus valores pode ajudar a alcançar o que é mais importante para você. Por exemplo: se a transparência for um de seus valores essenciais, você pode ter o objetivo de ser claro e direto com os demais.
Finalmente, faça um plano de ação. Anote sua próxima etapa ou o que pretende fazer de forma diferente na próxima vez que enfrentar uma situação semelhante. Seja o mais específico possível. Escrever seu plano de ação ajuda a cimentar sua intenção de seguir adiante.
A liberdade para escolher uma postura melhor
Por recomendação minha, Priya se comprometeu a fazer um “diário de desempenho” pelo menos uma vez por semana durante um determinado período. Em nossas sessões de coaching, ela revisou suas anotações comigo, compartilhando suas percepções e intenções.
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Em algumas semanas, ela percebeu padrões claros em seu comportamento e reconheceu que gatilhos semelhantes se repetiam. Essa consciência permitiu antecipar situações potencialmente problemáticas e fazer um planejamento com antecedência para se comportar de maneira melhor.
Pouco tempo depois, ela percebeu que observar continuamente seu próprio comportamento proporcionava uma perspectiva que ela nunca teve antes. Ela também concluiu que essa nova visão lhe oferecia a opção de continuar se comportando como antes ou escolher um novo caminho.
Priya se sentiu livre com essa nova possibilidade. No mesmo instante, ela reconheceu que seus comportamentos desagradáveis não podiam mais escravizá-la, mesmo que sua personalidade a expusesse a eles. Em vez disso, protegida com a consciência de seus gatilhos e padrões, ela agora podia avaliar as situações e escolher opções melhores.
Presença executiva
No meio do nosso trabalho de coaching, Priya e eu nos encontramos com sua chefe e com o líder de recursos humanos. Eu perguntei a eles que mudanças eles tinham constatado nos últimos meses.
Ambos aplaudiram a reviravolta de Priya e enfatizaram a mudança positiva que viram em sua mentalidade e estilo de comunicação. Eles também destacaram o grande aumento no que chamam de “presença executiva”. Em resumo, estavam encantados com a transformação e parabenizaram a colaboradora por sua coragem em mudar.
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Priya ficou emocionada com sua capacidade recém-descoberta e orgulhosa por outras pessoas estarem vendo uma mudança positiva nela. Mais tarde, ela compartilhou comigo que sua chefe estava escrevendo uma recomendação formal para sua promoção – algo que ela estava de olho há vários anos.
A ferramenta dos campeões
De todas as habilidades que ensino aos meus clientes, aumentar a consciência tem, de longe, o maior impacto positivo no desempenho profissional – sem mencionar sua satisfação geral e alegria. A prática deliberada e repetida de “observar” seu próprio desempenho por meio de um diário aumenta a consciência mais do que qualquer ferramenta que conheço, especialmente quando feita sob a tutela de um hábil coach executivo.
Se você está lutando contra um comportamento que o está impedindo de chegar ao próximo passo na carreira (e quem entre nós não está?), eu o desafio a começar a seguir essas etapas. Você ficará surpreso com o que aprenderá com suas auto-observações.
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