Os impactos do ChatGPT nas carreiras de publicidade e marketing

21 de fevereiro de 2023
Getty Images

Muitas pessoas não conseguem diferenciar a escrita do ChatGPT com a escrita de um humano.

O ChatGPT tem ganhado muita publicidade recentemente. Não há melhor maneira de fazer as pessoas se interessarem – e, talvez, se preocuparem – com a  IA (inteligência artificial) do que mostrá-la em ação. O ChatGPT é, com certeza, uma poderosa demonstração do que a IA pode fazer nos dias de hoje.

Peça ao ChatGPT para te responder uma pergunta, ou criar um conteúdo escrito, e ele irá te atender em uma linguagem bem estruturada e parecida com a de um humano, a qual muitas pessoas não saberiam que foi feita por uma máquina. E, claro, ele fez as pessoas imediatamente se perguntarem quais são os impactos disso para nós, humanos. Uma das primeiras profissões a temer se perderiam seus empregos são os publicitários e profissionais de marketing.

Essa lógica parece ser racional, porque muitos aspectos de marketing e publicidade envolvem criar textos – seja para anúncios, e-mails ou textos de redes sociais. Agora que máquinas acessíveis conseguem ter essa função, as pessoas que trabalham nesses empregos correm o risco de se tornar superfluos?

O fato é que, ao longo da história, vimos que as inovações tecnológicas tendem a criar novos empregos tão rápido quanto tornam outras desnecessárias. Outra característica é que as profissões criadas são geralmente mais técnicas, criativas ou requerem mais habilidades – o que as levam a ser melhor remuneradas.

Por exemplo, a invenção de máquinas agrícolas reduziu a necessidade de trabalhadores não qualificados nas lavouras, mas gerou uma necessidade para engenheiros e técnicos qualificados. Depois, o surgimento dos computadores tornou desnecessários os mal remunerados funcionários administrativos e datilógrafos, mas criou empregos melhor remunerados em engenharia de software e análise de dados. Da mesma maneira, o Fórum Econômico Mundial prevê que, apesar de empregos serem substituídos pela IA, ela irá gerar novas profissões no longo prazo. Então, vamos ver como a chegada dessa tecnologia transformadora poderia afetar seu futuro profissional em publicidade e marketing.

O ChatGPT é um assistente virtual – isto é, um chatbot –, que usa uma forma de aprendizado conhecida como processamento de linguagem natural. Ele é um exemplo de IA generativa, porque cria algo que não existia antes, e inclui um banco de dados massivo com 175 bilhões de parâmetros, incluindo livros, jornais, pesquisas e informações da internet. Apesar dos resultados poderem ser surpreendentes, os algoritmos que constituem o ChatGPT são simples e baseados em estatísticas. A performance da inteligência é possível por conta da imensa quantidade de treinamento com dados e a rapidez com que ele consegue processar os pedidos.

Empregos em marketing e publicidade serão afetados pelo ChatGPT?

Se você trabalha em um cargo criativo nas áreas de publicidade ou marketing, é muito provável que a escrita de conteúdo seja uma das suas responsabilidades. Isso significa que a primeira vez que você vê a linguagem natural que a IA é capaz de reproduzir, você pode se perguntar se, em algum tempo, será substituído no seu trabalho. 

Em teoria, as companhias agora podem usar tecnologias para criar conteúdos para publicidade, email marketing, posts de redes sociais e anúncios. É importante lembrar, no entanto, que tudo que o ChatGPT cria ou escreve é baseado no que ele entende de algo que já foi feito antes. Ou seja, ele não consegue criar pensamentos originais ou ter criatividade igual aos humanos.

Por exemplo, uma forma popular de marketing na atualidade é o marketing de influência. Os influenciadores, em teoria, são pessoas que desenvolveram uma relação com seu público baseada em conexão humana. Os seguidores não estão interessados no conteúdo por causa de quem o escreveu ou criou, eles não querem um conteúdo criado genericamente por um robô.

De maneira semelhante, se você escreve posts de redes sociais, é provável que a sua audiência esteja interessada na autenticidade da sua marca e na possibilidade de se conectar com o humano por trás dela. Esse aspecto do trabalho no marketing ainda não pode ser reproduzido bem por uma máquina e, provavelmente, demorarão um tempo para que os robôs consigam aprender.

As tecnologias de linguagem natural podem ser usadas para substituir tarefas rotineiras de um trabalho. Isso pode incluir criar listas, definir a estrutura de um conteúdo e marketing ou de publicidade e garantir que tudo esteja correto.

Outras maneiras como o ChatGPT pode ser usado para automatizar tarefas rotineiras de marketing são:

  • Fazer pesquisas de mercado: a ferramenta pode rapidamente gerar uma lista de potenciais clientes, bem como seus produtos e serviços mais importantes.
  • Gerar um texto otimizado para SEO (Search Engine Optimization): o ChatGPT pode ser usado para gerar textos que mecanismos de busca utilizam para ranquear páginas na internet. Entretanto, você deve tomar cuidado para não cair em armadilhas geradas por esses mecanismos, que penalizam os portais que usam textos gerados por inteligência artificial.
  • Criar descrições de produto: gerar conjuntos de descrições para plataformas de e-commerce nos quais os catálogos são frequentemente atualizados.

Quando for usar o ChatGPT com qualquer um desses propósitos, é importante ter ciência das fraquezas dessa ferramenta. Mais especificamente, que o treinamento dessa ferramenta não está imune a reproduzir preconceitos e vieses inconscientes, sendo possível que esses elementos possam aparecer nos seus resultados. Também, pelo seu treinamento ser baseado em dados coletados em 2021, ele tem informações limitadas sobre qualquer coisa que aconteceu desde então.

Eu trabalho com marketing. O que posso fazer para evitar ser substituído?

Se você conseguir integrar essa ferramenta tecnológica ao seu trabalho para potencializar sua própria criatividade e habilidades, você não tem que se preocupar com a inteligência artificial te substituir profissionalmente. Ao invés disso, se concentre em torná-la um instrumento para você ser um melhor profissional do marketing.

No entanto, a pior coisa a ser feita no momento é se isolar e fingir que essa nova tecnologia não existe e que não vai trazer relevantes mudanças para muitas áreas, inclusive a sua.

Como aprendemos em períodos anteriores de rápidas transformações geradas pela tecnologia, como a revolução industrial ou o surgimento do computador, os que prosperarem serão aqueles que aprenderam a trabalhar junto das tecnologias. Isso significa usar o poder dela para nos ajudar enquanto nos concentramos em desenvolver e explorar nossas características exclusivamente humanas, como criatividade, pensamento estratégico, empatia e inteligência emocional.

Identificar, entender e construir uma relação com um público-alvo é uma parte crítica do trabalho de qualquer pessoa de marketing – apesar do ChatGPT ou do GPT-3 conseguir te ajudar com isso, eles ainda não são capazes de fazê-lo tão estratégica ou efetivamente igual a uma pessoa.

É importante sabermos que ainda estamos vendo os primeiros usos desse tipo de tecnologia. Já temos conhecimento da existência do GPT-4, que foi reportado como 100 vezes mais poderoso do que o seu antecessor GPT-3 – apesar de ainda não ter sido apresentado publicamente.

Como todo esse poder, é possível que o GPT-4 vai se aproximar da simulação de algumas qualidades até então exclusivamente humanas que mencionei anteriormente. Por exemplo, ele talvez seja capaz de desenvolver personalidades com as quais o público se identifica melhor do que com a voz genérica e robótica do GPT-3.

O impacto disso para qualquer um buscando não ser substituído e continuar competitivo como profissional no futuro é a necessidade de continuar se atualizando das últimas inovações do ramo de inteligências artificiais. Que o mundo vai ser mudado para sempre pela inteligência artificial já é certeza – e entender quando e como essas mudanças vão acontecer e como elas vão te afetar é a resposta para que o efeito delas na sua vida seja positivo.

(Texto traduzido do original de Forbes USA por Gabriela Tavolaro Guido)