Nova CMO do Santander: "Uni bagagem no setor financeiro ao branding e varejo"

29 de fevereiro de 2024

Há mais de 20 anos no mercado, Juliana Cury, nova CMO do Santander, aprendeu a observar o entorno e replicar apenas o que considera positivo

Juliana Cury retorna ao mundo dos bancos este ano ao assumir como CMO (Chief Marketing Officer) do Santander. “A receita foi uma bagagem grande no setor financeiro, aliada à experiência mais recente de varejo em uma marca criativa”, diz a executiva sobre o que a destacou para chegar à cadeira. Antes de ser diretora e vice-presidente de marketing e vendas na Zamp, máster franqueada do Burger King e Popeyes no Brasil, Juliana trabalhou por 13 anos no Itaú, onde viveu a fusão com o Unibanco.

Empresas de segmentos distintos agregaram de maneiras igualmente distintas à sua carreira. “No Itaú, aprendi os fundamentos de construção de marcas fortes. Na Zamp, foi uma aula de marketing como centro da estratégia de negócios”, afirma. No banco, liderou projetos das Bikes Itaú, “Leia para uma Criança”, lançamento de novas marcas, como o Iti, e estratégias de comunicação para as Copas do Mundo de 2014 e 2018. Com os restaurantes, fez ações com Netflix, Mattel, no filme da Barbie, e NBA.

Trabalhar em grandes marcas foi o turning point da trajetória de Juliana, que começou a vida profissional do outro lado do balcão, nas agências Africa, WMcCann e DM9. “Queria entender de onde os briefings surgiam, quais eram os desafios de negócios e os efeitos pós-campanha.”

Leia também:

mais de 20 anos no mercado, a marketeira fala sobre seus diferentes momentos de carreira e as habilidades que desenvolveu para chegar à alta liderança.

Forbes: Como sua formação te ajudou a construir sua carreira?

Juliana Cury: Minha formação se deu a partir de três eixos principais: minha família, meus estudos e a experiência prática no dia a dia de trabalho e troca com as pessoas. Venho de uma família com trajetórias ligadas ao empreendedorismo. Com meus pais, pude aprender e ver ao vivo os valores do trabalho duro, da lealdade e humildade acima de tudo. E esses são os eixos condutores do meu modelo de trabalho. Na faculdade e pós, eu aprendi as disciplinas, os fundamentos. Mas sempre digo que marketing e comunicação é uma cadeira que exige long life learning, todo dia algo pode mudar a forma como o marketeiro precisa pensar e criar. No dia a dia do trabalho, entendi o valor das relações. Desde uma posição mais junior, com habilidades de influenciar lateralmente e colaborar em projetos, até a capacidade de liderar times de alta performance, criando um ambiente de segurança e acolhimento para que as pessoas possam explorar seu máximo potencial.

F: Quais habilidades foram mais importantes para desenvolver ao longo da carreira?

JC: Capacidade de aprender e desaprender. Com o mundo em constante movimento, cada dia mais acelerado e caótico, é preciso estar pronto para aprender novos conceitos e formas de trabalhar e pensar. Ao mesmo tempo, é preciso desapegar e desaprender, para não ficar preso em coisas ou ideias que não fazem mais sentido. Talvez esse último seja o mais complexo, porém o mais importante para um profissional.

Outra coisa que aprendi e considero extremamente importante é estar aberta e saber ouvir mais do que falar. É na escuta e na observação que se tiram os grandes insights. Saber fazer boas perguntas para extrair mais profundidade também é algo importante para posições de liderança. Além disso, a capacidade de criar redes de apoio que fortaleçam o trabalho e potencializem os resultados. Profissionais que andam sozinhos não geram o mesmo impacto e legado dos que sabem trabalhar o coletivo.

F: O que você acredita que te destacou para assumir essa nova posição?

JC: Acredito que a receita foi uma bagagem grande no setor financeiro, com experiências ligadas a branding, produtos e canais, aliada à experiência mais recente de varejo em uma marca criativa, challenger e bold. Essa mistura faz todo sentido para o momento atual da marca Santander no Brasil. O setor financeiro está passando por uma transformação e temos uma grande oportunidade de expandir a marca e aumentar nossa relação com os clientes.

F: Como as experiências em empresas de diferentes setores agregaram para a sua carreira?

JC: No Itaú, aprendi os fundamentos de construção de marcas fortes e comunicação. Tive a honra de ter os melhores profissionais por perto que me inspiraram e guiaram durante essa jornada. Pessoas como Eduardo Tracanella, Fernando Chacon e Andrea Pinotti foram lideranças extremamente inspiradoras por aspectos ligados ao conhecimento técnico de marketing aliado ao modelo de liderança e conduta ética e leal.

Na Zamp, foi uma aula de marketing como centro da estratégia de negócios. Com o Ariel Grunkraut, aprendi a mixar a visão criativa com KPIs de resultados concretos comerciais. Como pilotar a marca e o resultado de negócio na mesma alavanca de marketing, no ritmo frenético do varejo.

F: O que considera mais importante para ser uma líder de marketing?

JC: Capacidade de entender e influenciar positivamente as pessoas, sejam elas de dentro da empresa ou os clientes. Um bom profissional de marketing precisa ter inteligência emocional para se conectar com pessoas. É no coletivo que o marketing se potencializa. E é entendendo o comportamento humano, os motivadores de seus clientes que conseguimos criar planos e estratégias relevantes e bem-sucedidas. Criar um ambiente de colaboração para dentro e para fora é uma das habilidades-chave na minha visão.

F: Qual foi o turning point da sua carreira?

JC: Com certeza a transição de agência para marketing. Essa mudança foi fundamental. Depois, a experiência mais recente no varejo que me deu uma bagagem mais robusta de negócios.

F: O que você busca em um profissional da sua equipe?

JC: Busco pessoas que tenham bons valores pessoais, gostem de gente, que saibam jogar em grupo e que demonstrem grande capacidade e vontade de aprender e desaprender. São coisas difíceis de captar em uma conversa ou entrevista, mas é possível sim e tenho a honra de ter construído muitos times repletos de pessoas assim ao longo da minha jornada.

F: O que gostaria de ter ouvido no início e que poderia ter feito a diferença?

JC: Observe os comportamentos e replique do seu jeito, da forma mais autêntica possível. Quem espalha bons modelos de trabalho ajuda a transformar positivamente as empresas. Mas aprenda também a observar e guardar com você o que viveu de experiências negativas no ambiente de trabalho, para não replicar. Tudo é aprendizado nestes estágios mais iniciais de carreira, até as experiências ruins, inclusive sendo elas às vezes as mais marcantes para moldar seu comportamento futuro. E por fim: divirta-se. Passamos muito tempo no trabalho, mais tempo ali do que com a família e amigos. Se não trouxermos leveza, diversão e carinho no dia a dia de trabalho, a vida fica mil vezes mais difícil.

Por quais empresas passou

Creata, Africa, McCann, Dm9, Itau, Zamp (Burger King e Popeyes)

Formação

Comunicação social, com habilitação em marketing pela ESPM São Paulo.
Pós-Graduação em administração de empresas pelo Insper São Paulo.

Primeiro emprego

Creata

Primeiro cargo de liderança

Coordenação de marketing no Itaú

Tempo de carreira

20 anos