Acordo nuclear com o Irã: corrigir ou anular

21 de dezembro de 2017
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Acordo pôs o Irã numa trajetória tranquila para desenvolver armas nucleares legalmente em menos de uma década (iStock)

Em outubro, o presidente Trump ouviu um coro de vaias quando se recusou a “recertificar” o cumprimento, por parte do Irã, do equivocado acordo de armas nucleares com aquele país. Os europeus, a Rússia, a China e diversos analistas e políticos nacionais (inclusive alguns do próprio governo Trump) criticaram.

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Negociado em 2015, o acordo pôs o Irã numa trajetória tranquila para desenvolver armas nucleares legalmente em menos de uma década. É importante recordar que Obama somente retardou o processo, mas não impediu o Irã de fazer exatamente o que a Coreia do Norte vem fazendo: obter armas nucleares e estruturar uma formidável força atômica para o futuro. Além disso, o Irã acabou ganhando liberdade de ação para desenvolver os mísseis balísticos que poderão levar essas armas de aniquilação até os Estados Unidos, sem mencionar a Europa e os vizinhos do Irã no Oriente Médio, principalmente Israel.

O ex-presidente era tão mau negociador, que não insistiu em condições como a de o Irã cessar seu enorme apoio ao terrorismo, suas graves violações de direitos humanos e suas ambições imperialistas de transformar a Síria, o Líbano, o Iêmen (situado ao longo de uma das vias navegáveis mais cruciais do mundo) e o Iraque praticamente em subordinados de Teerã e de converter o Egito, a Arábia Saudita e os países petroleiros do Golfo em satélites.

A censura básica a Trump no que diz respeito a esse acordo é que, supostamente, o Irã não o violou do ponto de vista técnico. Portanto, por que deveríamos nos preocupar com o que vai acontecer lá na frente, sendo que há tanto comércio a ser feito com esse ex-estado pária? Afinal, até os Estados Unidos poderiam dividir esse butim, como indica a venda de aeronaves pela Boeing no valor de US$ 17 bilhões.

Os mulás mortíferos, contando com a miopia das nações diante do dinheiro rápido (consta que Lênin gracejou que os capitalistas vendem a corda com a qual eles mesmos serão enforcados), estão seguindo com força total na ampliação de seu funesto programa de mísseis, financiando fartamente seus representantes (principalmente o Hezbollah, que já tem cerca de 150 mil foguetes que pode lançar contra Israel) e enviando suas forças (bem como milícias recrutadas no Afeganistão e no Paquistão) para promover suas ambições imperialistas na região, ao mesmo tempo que perseguem minorias e esmagam dissidências internas e supostos hereges. E nos provocam, é claro, com eventuais prisões de norte-americanos, baseadas em acusações inventadas.

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Para coroar essa insensatez letal, há o fato de que o horrível acordo de Obama não determina que inspetores internacionais monitorem os inúmeros laboratórios e instalações militares do Irã para assegurar que o país esteja realmente cumprindo o acordo.

O presidente Trump não se retirou do acordo, o que ele tem o direito de fazer, já que Obama se recusou a apresentá-lo ao Senado para ser ratificado formalmente como um tratado. O antecessor de Trump nem sequer conseguiu que a maior parte do Congresso aprovasse o acordo. Aliás, a grande maioria deixou registrada sua posição contrária. Em vez disso, o chamado Plano de Ação Conjunto Global ganhou força de lei meramente pela assinatura de Obama. Trata-se de um acordo executivo, o equivalente, em política externa, a um decreto presidencial, nada mais. Mesmo assim, com base nele, Obama suspendeu as sanções arrasadoras que, ao longo dos anos, tinham sido colocadas em vigor de forma meticulosa e com aprovação internacional. Naturalmente, outros países logo seguiram o exemplo. E esses estados deixaram claro que não desejam reimpor as sanções.

No que tange ao lúgubre acordo de Obama com o Irã, nosso lema deve ser claro: corrija-o ou anule-o

No entanto, mesmo nos termos desse acordo, os Estados Unidos têm o direito de botar a boca no trombone se descobrirem que sua segurança está em risco. E, com o fim da certificação, os Estados Unidos poderiam impor sanções novas e direcionadas, com base nas muitas outras transgressões do Irã, como seu programa de mísseis.

O Congresso tem o direito de fazê-lo, mas, dada sua incapacidade de fazer qualquer coisa hoje em dia (a piada que se conta é que, se você quiser deter o processo de envelhecimento, basta apresentá-lo ao Congresso), é improvável que venha a agir. A Casa Branca poderia, então, tomar a iniciativa.

Se nossos parceiros comerciais tivessem de optar entre o acesso ao mercado norte-americano e o acesso ao mercado iraniano, não há dúvida sobre qual seria sua escolha. Considerando-se a crise evidente causada pela Coreia do Norte, por que nós não faríamos todo o possível para evitar uma repetição disso com os extremistas islâmicos do Irã?

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No que tange ao lúgubre acordo de Obama com o Irã, nosso lema deve ser claro: corrija-o ou anule-o. Por sorte, o governo Trump não tomou, até agora, o rumo fácil de procrastinar e empurrar esse problema nuclear com a barriga.

O poderoso Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica do Irã, que controla quase um terço da economia iraniana, acaba de ser declarado uma entidade terrorista pelo Tesouro dos Estados Unidos, o que nos permitirá impor dolorosas sanções ao país. Nessa mesma linha, também devemos impor sanções paralisantes ao Hezbollah. Há outras medidas, como zonas interditadas ao voo na Síria, que ajudariam a frustrar as ambições imperialistas iranianas. Um Irã ambicioso, fanaticamente religioso e detentor de armamentos nucleares é uma ameaça muito maior, no longo prazo, do que a Coreia do Norte.

A me$ma coi$a de $empre

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O Fed sai impune de apropriações de poder e longos períodos de mau desempenho (Getty Images)

A nomeação de um novo presidente do Federal Reserve deveria ensejar uma análise completa dos fins e princípios dessa instituição que servem de base para suas ações. Contudo, isso não vai acontecer. Por motivos psicológicos insondáveis, a política monetária é um desses assuntos que intimidam a maioria das pessoas, o que faz com que o Fed saia impune de apropriações de poder e longos períodos de mau desempenho.

Jerome Powell, nomeado por Trump para suceder Janet Yellen no comando do Fed em fevereiro, não deu nenhuma indicação de ter questionamentos fundamentais no que se refere às operações do banco central mais poderoso do mundo. Em grande medida, ele tem sido complacente em seus cinco anos como conselheiro da instituição. Quem sabe ele surpreende a todos e publica algo equivalente, em termos do Fed, às 95 Teses de Martinho Lutero?

Aqui vão algumas áreas que ele pode enfocar.

• A crença de que o Fed é capaz de guiar o desempenho da economia de forma construtiva

Os economistas e estrategistas têm como dogma sagrado a quimera de que a economia pode ser dirigida, como se fosse um carro, e que a tarefa do Fed é assegurar que a economia não se “aqueça demais” nem se “desaqueça demais”.

Para o Federal Reserve, ou para qualquer outro banco central, controlar uma economia é tão impossível quanto era, muito tempo atrás, para os planejadores centrais da União Soviética. De que modo isso seria factível, com 330 milhões de pessoas nos Estados Unidos, 7 bilhões de pessoas no mundo todo e incontáveis milhões de entidades de todos os tipos envolvidas em mais de 100 bilhões de transações a cada dia? Já que o Fed segue nessa empreitada inútil, a única pergunta sensata a fazer é: quanto dano nosso banco central vai causar? Desde 2008-2009, a triste resposta é: muito. Reagir de forma rápida e decisiva a um pânico financeiro é ótimo. Mas a violenta supressão das taxas de juros realizada depois pelo Fed (equivalente a controles de preços ou aluguéis), juntamente com seus frequentes programas de “afrouxamento quantitativo”, bagunçou o funcionamento dos mercados de crédito, prejudicando gravemente o acesso a ele por parte de famílias e empresas novas e menores.

• A crença na superstição da Curva de Phillips

O Fed é apegado à ideia de que a prosperidade causa inflação e que induz o desemprego – ou seja, tentar fazer com que milhões de pessoas percam o emprego é a solução. E ainda tem o mantra de que é necessário elevar o nível de inflação para tirar a economia de sua letargia posterior a 2008-2009. A experiência no mundo real provou que se trata de uma ideia absurda.

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• A crença na hiper-regulamentação dos bancos – e de todas as outras instituições financeiras

Com entusiasmo, e incentivado por políticos de Washington, o Fed e outros órgãos regulatórios vêm sufocando os bancos com dezenas de milhares de novas regras. Se você deixar de lado o fato de que os bancos eram a parte mais fortemente regulamentada da nossa economia, a verdade inconveniente é que, se todas essas regulamentações estivessem em vigor uma década atrás, mesmo assim teríamos passado por um grande desastre, já que a raiz do problema foi a fragilidade do dólar.

• A crença no dólar flutuante

Os mercados funcionam melhor com pesos e medidas fixos. Todo mundo sabe como a vida seria caótica se o número de minutos em uma hora ou de gramas em um quilo fosse variável. O mesmo vale para o dinheiro, cuja função é medir o valor. Até acabarmos com isso no início da década de 1970, os EUA haviam tido um valor fixo para o dólar desde que Alexander Hamilton o definiu com um padrão-ouro em 1791. Não é coincidência que o ritmo médio de crescimento econômico do país tenha caído acentuadamente desde então.

*Steve Forbes é editor-chefe de FORBES

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