Autor de Pai Rico, Pai Pobre ataca escolas e elogia Trump

19 de dezembro de 2017

De acordo com Robert Kiyosaki, as instituições de ensino estão loteadas com falsos professores e o presidente norte-americano sabe como fazer dinheiro. (Divulgação)

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De acordo com Robert Kiyosaki, as instituições de ensino estão loteadas com falsos professores e o presidente norte-americano sabe como fazer dinheiro. (Divulgação)

A busca pela independência a partir do empreendedorismo ou da remuneração derivada de investimentos aplicados é cada vez maior à medida que o nível de educação da população aumenta. Centenas de livros e páginas de auto-ajuda financeira se proliferam, deixando as pessoas mais desorientadas do que informadas com uma quantidade absurda de dados disponíveis que, muitas vezes, soam contraditórios.

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Mas este não parece ser o caso dos ensinamentos do nipo-americano Robert Kiyosaki. As ideias do empresário, investidor e autor expressas em livros, nas redes sociais e em jogos de tabuleiros fizeram dele um dos autores mais vendidos do segmento, como prova o best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”, que teve 32 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. As palavras proferidas por Kiyosaki são referências no assunto, sem deixar a polêmica de lado.

"Você tem que encontrar o professor verdadeiro, a maioria dos professores universitários não sabe do que está falando"

O escritor conversou com FORBES Brasil em setembro, antes de sua participação no National Achievers Congress (NAC Brasil 2017), evento sobre desenvolvimento pessoal e profissional. Resumiu a ideia central do seu livro, recomendando que as pessoas procurem seus “pais ricos”, ou seja, pessoas que realmente sabem ganhar dinheiro. Kiyosaki diz ter encontrado o seu aos 9 anos, apesar da desconfiança que algumas pessoas têm sobre sua real existência.

O autor não titubeou em criticar o sistema de ensino, por não abordar a questão financeira na educação de crianças e adolescentes. Tampouco os cursos de MBAs escaparam das críticas: ele acusou as instituições universitárias de estarem loteadas com “falsos professores”, que lecionam matérias com as quais nunca tiveram experiência.
Por fim, Kiyosaki explicou por que o dinheiro atualmente é irreal e fala quem são seus verdadeiros “pais ricos”. Leia, a seguir, a conversa com o escritor de “Pai Rico, Pai Pobre”.

FORBES BRASIL: Qual foi a inspiração para escrever “Pai Rico, Pai Pobre”?
ROBERT KIYOSAKI: Uma história verdadeira. Quando eu tinha 9 anos, perguntei ao meu professor na escola: “Quando vamos aprender sobre dinheiro?”. O professor respondeu que não se ensina isso na escola. Retruquei: “E por que não?”. Ele disse, então, que o dinheiro era uma coisa ruim. Quando cheguei em casa, fiz a mesma pergunta ao meu pai pobre – que era PhD em Stanford. Ele me respondeu que o governo não permitia os ensinamentos sobre dinheiro na escola. Aquilo me soou estranho. Por isso, aos 9 anos, fui ao meu pai rico – que nunca tinha ido à escola – e começou a me ensinar sobre dinheiro.

FB: As escolas melhoraram o ensino sobre dinheiro depois do lançamento do livro?
RK: Nossa economia está pior, com o real e o dólar se desvalorizando, a dívida pública norte-americana subindo. Essa dívida, depois de 2008, é uma bomba relógio, e os EUA vão entrar em colapso, pois temos políticos que não sabem fazer dinheiro. Donald Trump e Steve Forbes, meus amigos, são pessoas ricas e sabem fazer dinheiro. Por isso eles não precisam roubar as pessoas.

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FB: Aprender sobre dinheiro, então, é somente na prática?
RK: Você tem que encontrar o professor verdadeiro. Não pegue conselho com gente pobre. A maioria dos professores de escola é pobre, que precisa do contracheque, do emprego e da pensão. Não os ouça. Eu ouço Steve Forbes e Donald Trump, enquanto não dou ouvidos para professores universitários, como Janet Yellen, presidente do Federal Reserve [o Banco Central dos EUA], e o ex-presidente Barack Obama.

FB: Qual é o principal conselho financeiro que você dá para as pessoas?
RK: Ouça os professores de verdade, que são as pessoas ricas, como Trump e Forbes. Além disso, é preciso saber que dinheiro, atualmente, é irreal. Não há mais dinheiro de verdade, pois em 1971, o presidente Richard Nixon tirou o dólar do Padrão Ouro*, permitindo aos EUA imprimir dinheiro. Hoje, todo o dinheiro é contrafactual: dólar americano, real, iene, yuan. Esse dinheiro é baseado em dívida, portanto dinheiro é dívida. E todo mundo contrai muita dívida. Trump e eu usamos dívida, nós sabemos como usá-la como dinheiro. A educação financeira, por isso, deveria ensinar como se usa a dívida para se tornar rico.

Nota do editor: *Kiyosaki se refere ao fim do Padrão Dólar-Ouro, que se estabeleceu depois da Conferência de Bretton-Woods, em 1944, ainda sob o conflito da Segunda Guerra Mundial, que se encaminhava para o final. Durante a conferência, os participantes desenharam as instituições que regulariam a economia internacional no pós-Guerra, fixando a conversão fixa do dólar para o ouro – de US$ 35 a onça do metal dourado. O republicano Richard Nixon encerrou o acordo com a crescente inflação nos EUA, que levava a uma desvalorização real do dólar (mesmo com a conversão fixa) e, por sua vez, à iminência de compra generalizada de ouro pelos países com reservas internacionais em dólar – principalmente os europeus e os japoneses -, reduzindo assim o estoque de ouro dos EUA e sua legitimidade de organizar o sistema monetário internacional. A decisão unilateral de Nixon foi a desvalorização do dólar em relação ao ouro e marcou o início da moeda norte-americana como o único lastro das transações financeiras internacionais.

Crédito: Luiz Franco

O escritor durante a sua passagem pelo Brasil em setembro, durante o National Achievers Congress (Crédito: Luiz Franco)

FB: Você diz que as pessoas devem encontrar um mentor que as inspire e guie?
RK: Sim, é preciso que ele seja um professor real, e esses professores reais não estão nas universidades. Quando eu tinha 26 anos, fui fazer o MBA. Durante a aula de contabilidade, perguntei ao professor: “Você alguma vez foi contador?”. Ele respondeu: “Eu aprendi contabilidade na universidade, e depois me tornei um professor”. Apenas lhe respondi: “Eu sei mais contabilidade do que você, aliás, a contabilidade real”. Retirei-me da sala, porque aquilo era falso. Depois fui à aula de marketing internacional, fiz a mesma pergunta e o professor respondeu: “Eu tenho uma loja de bicicleta”. Então eu lhe disse: “Você está de brincadeira?”. Eu sabia mais de marketing internacional do que ele! Os professores universitários não sabem do que estão falando. É o mesmo que eu ensinasse português aos brasileiros, mas eu não sei falar português!

FB: O que significa, de verdade, dinheiro?
RK: Dinheiro é poder. Com poder, podemos fazer o que queremos. Eu não preciso de um emprego, tampouco de um plano de aposentadoria. Não me importo com os ciclos econômicos, a bolsa de valores e o mercado cambial. É poder, e é libertador, porque eu faço dinheiro com um estalar de dedos.

FB: Quais conselhos você dá às pessoas que querem ficar ricas, além de buscarem seu “pai rico”?
RK: Essa pergunta me lembra a história de Jesus Cristo. A história começa com os três homens sábios, que seguem a estrela. As pessoas estão sempre à procura da estrela, como, onde. Eu tenho muitos professores diferentes, mas eles não estão na escola, eles estão fazendo o que é real. Meu contador faz contabilidade de verdade, assim como meu advogado.
As pessoas param de buscar os seus verdadeiros professores porque elas vão à escola, mas os professores não têm emprego, não poupam, e o dinheiro está se desvalorizando. Tudo isso porque temos professores ruins também. Muita gente está nessa espiral, mas se você quiser sair dele, você não vai precisar de dinheiro depois.

FB: Você mencionou Donald Trump e Steve Forbes como pessoas que servem de inspiração. Quem mais você citaria?
RK: Muitas pessoas não sabem que tenho os dois como professores. Eu fui em uma conferência, encontrei com Steve Forbes, e ele estava falando sobre ouro, que é o dinheiro real. Ele disse uma coisa muito importante anos atrás: por que há muitas guerras hoje? É porque o dinheiro é irreal. Se houvesse um único dinheiro, seria o ouro, daí nós dois não precisaríamos confiar um no outro. Eu posso lhe dar ouro, e você confiaria no ouro. Mas hoje o dinheiro é irreal, então precisamos confiar um no outro. Se eu não confio em você, você tampouco em mim, nós vamos lutar. É por isso que temos que mudar o dinheiro, porque ele é falso. É por isso que eu adoro o Steve Forbes, porque explica a existência do terrorismo, da disputa entre Democratas e Republicanos e do racismo a partir da desconfiança entre as pessoas, cuja origem está na falsidade da moeda.

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FB: A sociedade se desintegra porque a moeda é falsa?
RK: Sim. Isso é o que Steve Forbes me disse. Eu confiava no dinheiro, agora eu devo confiar em você. É por isso que precisamos do dinheiro de verdade, que é o ouro. Não professores e dinheiro falsos.

FB: E é por isso que a taxa de juros é baixa nos EUA, por que ninguém confia no outro?
RK: A taxa de juros é baixa porque eles querem que pessoas como eu peguem dinheiro emprestado. Eu não entendo, parece que é uma operação de caridade. Eu pego dinheiro emprestado a 2% nos EUA. Eu empresto para o Brasil, aplico aqui, retorno em dólares e o real se desvaloriza. É porque nós temos dinheiro falso que tudo é inflacionado, inclusive a bolsa de valores.

FB: Qual é a mensagem/conselho que você deixa para os brasileiros?
RK: Siga os professores de verdade e evite a moeda falsa. Escola nunca vai te ensinar a ganhar dinheiro, porque os professores são pobres, eles não tiveram nenhuma educação financeira. Ph.Ds de Stanford são pobres e despreparados. A maioria dos professores não está preparada para seus empregos.

FB: Você pode mencionar um brasileiro que é um professor de verdade?
RK: Não conheço. Donald Trump e Steve Forbes são meus amigos, eles são os Pais Ricos.