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Muita gente que clicou para ler esse texto talvez tenha feito julgamentos como o meu – condenar os outros precipitadamente é um dos passatempos preferidos dos dias de hoje, afinal –, mas a verdade é que me fez um bem danado ter ido. Conforme conversava com as pessoas, via que a maioria seguiria de lá para compromissos profissionais. Além disso, saí mais leve, me sentindo bem, com a impressão de que aquele monte de gente meio riponga se abraçando e dançando de um jeito meio desconjuntado com bambolês e bolhas de sabão tinha me dado uma energia diferente. Será?
A arquiteta Rhamona Asfora, por exemplo. Chique num macacão colorido, maquiagem e cabelo caprichados, seguiria dali para uma reunião pesada com advogados criminalistas, e o alto astral da festa era uma espécie de contrapeso. “São Paulo é uma cidade tóxica, mas praticar ioga mudou minha vida e me livrou da Síndrome do Pânico ”, disse ela, que já esteve em festas similares em Nova York e Los Angeles.
Com o lema “acordar para despertar”, a Wake foi criada pelo empresário Lourenço Bustani justamente inspirada em eventos similares no exterior. filho de diplomatas brasileiros, nascido em Nova York, ele comanda uma consultoria de inovação que já teve entre seus clientes empresas como Nike, GM e HSBC. Vira e mexe, ele aparece em listas de pessoas mais criativas do mundo dos negócios. Aqui, ao contrário de no dia a dia corporativo, as pessoas que se envolvem na organização trabalham voluntariamente — quem leva comidinhas, aplica terapias ou massagens também. “Aqui não tem essa energia monetária”, afirma. Os ingressos tinham preço sugerido (ou seja, a pessoa paga quanto achar que deve) de até 70 reais. O dinheiro arrecadado foi todo doado para a Associação Vila Nova Esperança, que fica nos arredores de Taboão da Serra. A festa acontece a cada dois meses, sempre em locações variadas. Foi uma experiência interessante conjugar o oooooommm dos participantes com o tatac-tatac dos trens da CPTM passando ao fundo.
Começou com uma sessão de ioga dance, conduzida pela professora Fernanda Cunha. Falando mansinho, primeiro ela botou o povo para caminhar pela sala, sentir o ambiente, o próprio corpo, abraçar o vizinho. “Deixe a música te dançar”, sugeriu. Quando eu vi, todos estavam dançando e acho que nem eles perceberam como passaram tão depressa do relax à batida da música eletrônica da DJ Marina Brant.
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A Wake merece nota dez, sobretudo, no que diz respeito à diversidade. Tinha branco, negro, asiático, pobre, rico, classe média que acha que é rica, figuras exóticas, bem vestidos, desencanados… E eu tenho certeza que as coisas mais legais (e chiques) do século XXI passam necessariamente por essa mistura. Não vi ninguém dando uns beijos, mas não faltava gente bonita para paquerar. Por outro lado, também havia famílias com crianças e até uma grávida, a educadora alimentar Mayra Abbondanza, com 37 semanas de sua quinta gestação. “A festa mostra que é preciso estar desperto, em vez de apenas acordado.”
(Fotos: Leonardo Pelatti/Divulgação)