A intrínseca relação entre celebração e champanhe

30 de dezembro de 2020
Foto: Ira Heuvelman-Dobrolyubova/Getty Images

O marketing funciona, mas como o champanhe se encaixa na sua vida é algo muito pessoal, unicamente seu

De um vinho medíocre oferecido como brinde aos compradores de lã na região de Champanhe ao suprassumo da celebração de praticamente todos os eventos históricos. Esse é o champanhe, um caso tão bem-sucedido de marketing que já não é possível separar a forte conexão que existe entre esta bebida e ocasiões festivas.

O primeiro grande fato que desencadeou esta tradição foi o batizado do Rei dos Francos, Clóvis, em 496 d.C., num berço cheio de champanhe. A partir daí, criou-se o hábito de que todo rei da França deveria ser coroado na catedral de Reims, em Champanhe. Estava criado o link entre a bebida sagrada e festiva e os eventos luxuosos e de pompa de uma minoria privilegiada.

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E o legado ganhou força. Outro momento de frisson envolvendo a bebida foi quando Luís 14, o Rei Sol, degustou pela primeira vez o vinho na catedral de Reims, com apenas 16 anos. Foi ele o responsável pela associação do champanhe à moda, prestígio e luxo, suas obsessões.

Luís 15, bisneto de Luís 14, foi quem autorizou o transporte do champanhe em garrafas – até então, a permissão era apenas em barricas. A mudança significou uma grande ajuda para a retenção de gás carbônico e para o impulso de marketing e comunicação. Personagens como Maria Antonieta, Joana d’Arc, oficiais militares, nobres e artistas viraram etiquetas de champanhe.

Com a revolução francesa, a associação da bebida à aristocracia não era muito bem vista e a atenção se voltou à Voltaire quando o filósofo citou o champanhe como a imagem brilhante da nação. “A expressão mais gloriosa da civilização francesa”, disse ele. Agora já não era só uma questão de luxo e riqueza, mas também um patrimônio nacional.

Napoleão Bonaparte, Titanic, Exposição Universal de Paris em 1889, inauguração da Torre Eiffel, batizados de navios, James Bond, Audrey Hepburn, Beyoncé e Jay Z, Brad Pitt e Angelina Jolie são apenas alguns dos inúmeros exemplos de celebrações, momentos, pessoas e personagens associados à bebida. Sempre que a situação é positiva, pra cima, sinônimo de começo, recomeço, vitória, nascimento e reconhecimento, ela está lá.

Apesar dessa conexão com a celebração, o champanhe vem sendo, lentamente, introduzido na vida cotidiana das pessoas. Um dos motivos é a elevada qualidade que estes vinhos adquiriram com o passar do tempo, transformando-os em uma bebida que harmoniza gloriosamente com refeições e aperitivos. Outra questão que contribuiu é o fato de trazermos a celebração para o hoje – e não somente para um evento específico.
Mas, tem para todo mundo? Não!

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Mas tudo bem, pois a variedade de vinhos tranquilos e espumantes é tanta, assim como o paladar das pessoas, que o sol brilha para todos. Quem quiser priorizar isso na sua vida faça, quem não achar interessante, não faça.

A questão de ser associada à celebração também faz com que a bebida viva seus momentos de crise, afinal, quem vai comemorar a distância entre as pessoas, pandemia, mortes, privações, falências e um momento econômico desfavorável? Ninguém, ou quase ninguém. Por isso, as vendas deste vinho caíram tanto no mercado interno francês e no volume exportado para o mundo.

Eu sou uma pessoa champanhe, mas, a minha associação pessoal é não apenas com a celebração, mas também com momentos de reflexão, luta, gratidão, memórias, superação, saudade, otimismo e consciência do nosso processo de evolução.

O marketing é maravilhoso e funciona, mas como o champanhe se encaixa na sua vida é algo muito pessoal, unicamente seu.

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O ano de 2020 foi um dos mais difíceis da nossa humanidade. Apesar do grande sofrimento, a lição e a superação, em diversos aspectos, estão gravadas em nós. Assim, a celebração não pode cessar, jamais. Cada vitória e cada derrota tem sua importância em nossas vidas. Viva-as com presença de espírito e, se possível, com uma taça de champanhe para relembrar o quanto temos para celebrar – do ar que podemos respirar às grandes conquistas intelectuais e físicas.

Tchin tchin, com segurança nas festas de final de ano!

Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.

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