Última entrevistada em 2020 da série de lives #ElasQueInspiram, Bianca Andrade fala sobre os desafios superados com paixão que a colocaram entre os maiores nomes na indústria de maquiagem brasileira. Abaixo um resumo do nosso incrível bate-papo!
Francine Mendes: Quem é a Bianca Andrade?
FM: Você começou sua trajetória depois de um curso no Senac. Como foi isso?
BA: Eu comecei na internet e foi a partir dela que eu construí toda a minha base, entendi o que queria fazer da minha vida. Eu não sabia que a internet era o meu futuro. Assim que eu comecei a me interessar por maquiagem busquei me profissionalizar, já que eu queria ser maquiadora. No começo, eu não imaginava que eu seria empresária, dona de marca, eu imaginava ser maquiadora. Fiz o curso no Senac e lá eu aprendi muita coisa também sobre postura profissional, até mais do que a própria arte. Eu sempre fui muito boa com a maquiagem, é uma arte que sempre esteve na minha veia e foi dela que eu consegui explorar todo um universo maior, mas eu precisava de um diploma. Era muito nova, comecei a maquiar profissionalmente aos 16 anos e queria um diploma e, por isso, fui para o Senac.
FM: Qual é a diferença entre a Bianca Andrade e a Boca Rosa?
FM: Neste ano você se assumiu pansexual. O que é ser pansexual e como foi esse processo de autoconhecimento?
BA: Eu resolvi abrir isso porque era realmente uma coisa pouco falada, sobre sexualidade, ser bissexual, pansexual e etc. Não era um assunto que eu tinha fácil acesso e um dos meus maiores compromissos, que caiu no meu colo esse ano, foi o de me posicionar sobre assuntos que eu não sabia. Antes, na experiência que eu tive no Big Brother Brasil, por exemplo, tiveram vários temas e assuntos que eu ainda não sabia me posicionar porque eu não tinha acesso à essa informação. Foi quando eu comecei a falar sobre sexualidade, parando de fazer isso um tabu e fui me entender antes de qualquer coisa. Eu nunca tive um tipo físico de pessoa. Eu gosto de menina morena, loira, alta, baixa. Gosto de homem alto e baixo, nunca tive muito isso, sempre foquei na personalidade. Não era apegada a gênero, a características físicas, a nada. Eu só queria ficar com alguém que eu admirasse.
E eu fui me descobrindo e pensando: “eu sou bissexual, mas eu já peguei transgênero e tudo… o que eu sou?” Foi quando eu comecei a ler sobre pansexualidade, comecei a falar sobre isso e eu acho que chamou atenção porque não existem muitas pessoas falando sobre isso, muitas mulheres nem sabem que são.
BA: Exatamente, o pansexual não se apega a gênero e etc.
FM: No começo do canal no YouTube, em 2011, você imaginava chegar tão longe?
BA: No começo foi tudo muito natural. Eu brinco que cheguei na internet quando era tudo mato. Eu e mais umas 10 influencers de make na mesma época, tudo capinando, a gente não sabia o que estava fazendo. No começo, eu não tinha muita perspectiva do que ia acontecer com a minha vida, até porque eu comecei bem novinha, aos 16 anos, mas pouco tempo depois eu já conseguia enxergar o meu negócio como trabalho, mesmo sendo na internet. Eu entendia que tinha um interesse das marcas e eu tinha visibilidade, e aí já começava o meu primeiro cross. Sobre business, eu amo desmistificar isso falando: “galera da internet, pode falar com paixão que o trabalho de vocês é um negócio. Mesmo que seja sobre a sua vida pessoal. Se você tem um canal de vlogs é um negócio porque você inspira outras pessoas. É um trabalho que inspira e que muitas pessoas sonham em ter também.” Quando eu comecei, isso não existia muito. No começo foi muito no amor, mas sempre com muita persistência. Eu não durmo no ponto, sempre fico ligada em tudo o que está acontecendo e me pergunto por que isso está acontecendo? Mas por que isso? Por que aquilo? E sempre fui muito ligada à minha intuição. Então, no começo, eu tive muita dificuldade porque eu morava numa comunidade (e morei até os 20 anos, hoje eu tenho 26), não tinha muita estrutura para gravar os meus vídeos e, mesmo assim, eu ficava ali gravando.
FM: Você citou que fazia os vídeos como dava, com o que tinha em mãos. Você já tinha o principal pilar da resiliência que é a capacidade de improviso…
BA: Muito. No começo me chamavam de rainha da gambiarra e eu amava isso. Eu sempre fui aquela que dava um jeitinho para tudo. O meu primeiro tripé foi um cabo de vassoura, que eu usava para pendurar a luz. Colocava a minha câmera em cima dos livros do colégio. Eu sempre improvisei muito e sempre fui muito apaixonada. Por isso eu falo: “você é apaixonado por alguma coisa? Consegue enxergar nisso um negócio? Então vai.” Não é o dinheiro que te faz passar por cima dos perrengues. Resiliência são os altos e baixos e você conseguir passar pelos baixos. Porque no alto está tudo bem, e quando você está lá embaixo, quando algo não dá certo, não é dinheiro, não é posicionamento, não é nada. É muito mais sobre qual é o seu combustível para continuar. Tem que amar a parada, e eu amo muito o que eu faço, por isso eu estou há 10 anos. Já passei por perrengue, já passei por polêmica e falo delas de uma maneira muito aberta para que ninguém tenha medo de passar por isso. Porque se você está na internet, a última coisa que precisa ter medo é de cancelamento, de polêmicas, porque o seu nome está ali vulnerável. O que é necessário é estar preparado para ser você. Ser uma pessoa honesta, se errar, admitir que errou. Eu até me emociono de falar isso, eu não imaginava nada disso que ia acontecer. Eu imaginava que ia ser atriz, enquanto isso eu fazia maquiagem. Acabou que a maquiagem me levou para o cinema, me levou para o teatro, fiquei dois anos fazendo teatro. Então é isso, cara, você precisa ter paixão, quando você tem paixão as coisas vão acontecendo, boas e ruins, e você vai passando por elas de uma maneira brilhante.
FM: Para resolver a dor de alguém são necessárias três coisas: produto, pessoas e paixão. Mas como identificar que o que a gente ama pode ser um negócio também?
O que eu mais tenho falado nas últimas semanas, e que também fala muito sobre mim, é que eu tento sempre colocar os meus princípios e o meu propósito dentro da minha arte. O produto é quando você vê que aquilo pode se tornar um negócio. No meu caso, eu pensei: “eu faço vídeos para internet que são gratuitos, logo, eu tenho um público e eu tenho marcas com produtos. Ou seja, eu posso fazer um cross com elas.” Sobre o propósito, eu sempre falo muito sobre história também. Se tem uma coisa que vai conectar a sua marca com o seu público é a história, porque a história conecta as pessoas e por isso eu comecei a estudar storytelling. No começo da marca, quando ela foi lançada, a gente colocou uma drag para recepcionar os convidados no dia de um evento. Eu sempre falei que era a pessoa do make drag, porque eu gosto de muito contorno, muito iluminador e antes eu não entendia muito sobre a causa porque para mim era tão comum, eu sempre tive amigos gays, amigas drags e eu nem entendia muito sobre a causa. Depois de um tempo eu comecei a estudar mais, comecei a entender e aprender como realmente levar representatividade para dentro da marca. Não é só no mês LGBTQI+ você introduzir uma campanha com pessoas da bandeira, é realmente colocar dentro da marca e isso sempre esteve dentro da minha vida.
Eu falo muito sobre paixão porque o que eu aprendi foi muito intuitivo e eu sou uma menina que gosta muito de se informar, então a primeira vez que eu vi a palavra storytelling eu percebi que eu já fazia aquilo.
FM: Como é a administração das suas finanças. Você começou cedo e com muito improviso, como você organiza isso hoje, você investe?
Eu sempre bebi de muitas fontes, aprendi com muitas pessoas e sempre abria reuniões com a minha mãe falando que a gente precisa investir nisso, investir naquilo. Minha mãe sempre teve uma regra de três que me ajudou. Ela falava: “regrinha de três. O seu produto tem que se sustentar sozinho, dar o seu salário e o dinheiro para você investir nele.” Na hora de gastar, desde novinha, eu comprei o meu primeiro apartamento pensando nisso. Eu não gastava por nada. Eu comprei o meu primeiro apartamento com 20 anos e eu lembro nessa época que eu ia ao cinema com amigos e eles compravam um lanche caro e eu pensava: “não, com o que eu ganho por mês, não sei se consigo ter esse luxo agora, talvez em longo prazo. Eu já tinha um horizonte de crescimento”. A minha mãe sempre me ensinou a lidar com os gastos e isso me ajudou a ser hoje a empresária que eu sou, a fazer a gestão financeira. A minha mãe é hoje quem cuida dos salários da equipe inteira, e temos uma equipe grande, ela é quem faz os meus investimentos e eu já falei para ela que, em 2021, é o ano que eu quero sentar com ela e virar fera nisso.
FM: Você pode citar cinco características fundamentais para mulheres que querem chegar onde você chegou?
BA: Ambição. Estamos acostumadas a olhar essa palavra com um viés negativo e, quando estudamos sobre empreendedorismo, essa é uma das maiores características de um empreendedor, que não é igual a ganância. A ambição é o que você quer, o que você almeja, qual é o seu sonho? Se achar merecedora do que pretende conquistar.
Confiança. Confia na sua intuição, confie no que você quer, confie no que você ama. Às vezes a gente fica muito em dúvida, porque a mulher é provada o tempo todo, né?. “Você não é boa nisso, você não é boa naquilo. Tem certeza que você gosta disso? tem certeza que você entende daquilo?”. A gente pensa que é bobeira, mas desde pequena vem um monte de ‘serás’ na cabeça, e a gente tem que ter menos ‘será’ e mais eu quero isso, eu vou conquistar isso, eu vou chegar lá. Acho que essa autoconfiança me ajudou muito. Porque antes eu tinha medo de me posicionar, de falar o que eu realmente penso, de expor quem eu realmente sou, medo de falar sobre os meus defeitos. A autoconfiança é muito importante.
Verdade. Se você não tem verdade, não é verdadeiro com as pessoas e com tudo o que você convive, não se cria um solo forte. Você monta todo o seu império em cima do nada. Não crie personagens, não faça coisas que você não quer, aprenda a falar não. Acho que a verdade esbarra muito na autenticidade, que é você se questionar: “o que eu quero?” Eu não tenho que comprar o que todo mundo está comprando para fazer social. Isso é até legal no momento, mas não te leva a lugar nenhum em longo prazo.
Paixão. Se você não tem tesão pelo negócio, se não te pulsa, não te deixa felizona, não vai funcionar. Estes são alguns pontos que toda mulher precisa ter para chegar onde quer, em qualquer área da vida. Isso me ajudou muito e são coisas que eu fui aprendendo. E cada coisa que eu aprendia eu via o quanto aquilo precisa ser falado até para nós mesmas, sabe?
BA: Eu aprendi muito sobre ser influenciadora me inspirando no meu círculo de amizades. O que eu converso com as minhas amigas, qual é o nosso papo? O que a gente conversou que ficou na minha cabeça e me fez recalcular a rota? Teve uma época da minha vida que eu fiquei meio perdida, porque eu só falava de maquiagem. Daí eu pensei: “eu adoro tanto falar com as minhas amigas sobre vários outros assuntos, sobre o que eu quero ser, sobre o que está acontecendo, sobre o que eu quero mudar.” As conversas com as minhas amigas me fizeram trazer esses assuntos para o meu público. Se me ajudou, com certeza vai ajudar outra mulher que está me assistindo. Tem aquela frase: as pessoas que estão à sua volta, resumem quem você é. Dentro do meu negócio, por exemplo, eu só consigo contratar e conviver com pessoas amorosas e que amam trabalhar. Porque a gente consegue falar sobre o trabalho de uma maneira engraçada, positiva, feliz e ainda estamos falando de trabalho, estamos falando da próxima campanha, em como surpreender, em como bater a próxima meta, como ser o maior dentro da nossa categoria. O meu trabalho virou o meu amor. O meu coach me ensinou a usar o chapéu de amiga e o chapéu de trabalho. Eu trabalho com a minha melhor amiga, nós somos amigas desde os oito anos e ela é hoje a minha chefe de produção, ela que faz tudo acontecer, é a engenhoca que faz do zero a 1 milhão.
É importante ter o seu bando. Tem que andar com a galera que pensa com você, que sonha junto com você, de uma forma que os seus sonhos virem os sonhos deles, e que eles façam isso felizes. São essas pessoas que me ajudam a recalcular a rota. Eu acredito muito em time porque é isso, a gente pensa junto, se um está mal um dia, o outro leva um café da manhã. Se eu estou mal um dia, alguém me abraça ou chora junto.
Francine Mendes é educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicanálise do consumo pela Universidade Kennedy. Apresentadora do canal Mary Poupe, no YouTube, e comunicadora na RiCTV Record. Instagram: @francinemendes
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