Evidentemente, a frase tem os seus equívocos, mas tem algo de verdade. Alguns animais, como é o caso do homem, tendem a se sentir melancólicos depois da relação sexual.
Digo isto para tratar de uma outra verdade. Muitos homens vão desenvolver uma forma de depressão depois do nascimento do filho – e não necessariamente do primeiro filho. A depressão pós-parto masculina é, sim, uma realidade.
Só que, ao contrário da depressão que muitas mulheres que deram à luz vão experimentar, a do homem se manifesta de forma bem diferente. Nelas, geralmente surge uma tristeza profunda, uma sensação de desânimo com relação à vida que pode, inclusive, levá-las a abandonar os cuidados do bebê. É um quadro gravíssimo e que precisa ser tratado e acompanhado de perto.
Neles, a depressão não é aquela clássica. Ela costuma se expressar na forma de agressividade, de enorme irritabilidade, de grande tensão e ansiedade. Os homens com esse tipo de depressão também estão mais suscetíveis ao aumento do consumo de álcool e drogas, por exemplo.
Muitos homens, particularmente os mais velhos, ainda relutam em buscar ajuda – e aqui eu não me refiro apenas a homens com essa condição. Parte desse comportamento está ligado à ideia de uma masculinidade à moda antiga, de que o homem deve ser o provedor da família, ser o lado forte da balança. O mundo mudou, e não foi hoje.
Some-se a isso o fato de que a paternidade/maternidade ainda é cercada de tabu. É difícil, para muitas pessoas, admitirem estar deprimidas em um momento que deveria ser de grande felicidade.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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