Mais da metade da população brasileira (53%) está em grande sofrimento psíquico, segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos realizada a pedido do Fórum Econômico Mundial. O medo, a insegurança, a depressão e a ansiedade impactaram grandemente a força de trabalho, mas foi nos CEOs e nas altas lideranças que os seus efeitos puderam ser sentidos mais fortemente. Essa foi a conclusão de uma pesquisa feita pela Oracle em parceria com a empresa de consultoria em recursos humanos Workplace Intelligence.
Em meu consultório, tenho atendido muitas pessoas do alto escalão que sofrem porque têm medo de perder colaboradores, clientes e o próprio negócio. Elas estão inquietas, passaram a ter problemas com o sono e até a beber mais.
Por quê? Uma das razões possíveis pode ser explicada pelo modelo “monárquico” de liderança que ainda vige em muitas empresas, do líder que administra e toma decisões sozinho do alto do seu escritório (em muitas organizações, realmente é do alto, pois os escritórios dos CEOs ficam em andares diferentes, geralmente superiores aos dos demais colaboradores). Esse é o modelo de líder de quem se espera ter uma resposta para tudo. Quem consegue ter resposta para tudo em um momento em que a pandemia sacudiu todas as certezas? Quem acredita que deve entregar uma solução rápida e eficiente 100% do tempo está sofrendo, está ansioso.
O mundo mudou e o mundo corporativo também. Nunca o termo “recursos humanos” foi tão importante. Dado que as pessoas são a peça-chave das políticas de sustentabilidade tanto em moda, os recursos humanos ganharam ainda mais relevância e importância.
As empresas – e os CEOs, portanto – começam a perceber que cabe a elas, na figura das mais altas lideranças, aumentar o senso de pertencimento de todos os colaboradores e abrir espaço para a co-criação e a participação, em vez do antigo “comando e controle”.
Assim, as empresas precisam rever os seus valores, sob o risco de não conseguirem dar os saltos que o mercado pede. Os CEOs também precisam rever os seus valores, a começar por suas atitudes. Neste mundo complexo em que vivemos, ninguém mais dá conta de ter, sozinho, todas as soluções. Elas deverão ser construídas e dadas coletivamente.
Talvez esse seja o primeiro passo para que os líderes não sofram tanto: mudar o seu estilo de condução. Estamos num momento de transição. Já vemos modelos de liderança mais semelhantes aos de um anfitrião do que aos de um herói em algumas empresas e, provavelmente, veremos ainda mais nos próximos anos.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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