“Acho que não há nada melhor do que viver os valores de uma empresa familiar”, diz Gabriela Baumgart

9 de setembro de 2021
Reprodução

Gabriela é, atualmente, membro de conselhos de administração de diversas empresas e mentora de governança familiar

Gabriela Baumgart, da terceira geração do Grupo Baumgart, é a quarta entrevistada do Forbes GX Series, uma série comandada por Flavia Camanho Camparini, especialista em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e professora convidada dos programas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), FBN (Family Business Network) e FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), com apoio da PwC.

Após 18 anos como executiva do negócio da família, Gabriela é, atualmente, membro de conselhos de administração de diversas empresas e mentora de governança familiar para outros empresários. Na entrevista, ela fala sobre a importância da sua criação no seu crescimento profissional e de uma visão de mundo mais ampla para tocar uma empresa familiar com maestria. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra:

LEIA MAIS: “Foi com muita autenticidade que eu consegui me encontrar e colocar potência no legado da minha família”, diz Pedro Wickbold

Flavia Camanho: Quem é você?

Gabriela Baumgart: Faço parte da terceira geração da família Baumgart, que tem um grupo empresarial que começou em 1936 com meu avô. Tive a oportunidade de trabalhar no grupo por 18 anos e hoje sou membro de conselhos de administração, além de mentora de alguns empresários.

FM: Como você se percebeu membro de uma família empresária? Quando caiu a ficha de que tinha uma empresa por trás da história da sua família?

GB: Eu acho que eu vivi intensamente esse DNA empreendedor vendo a minha família acordar cedo, ir para o trabalho e voltar com brilho nos olhos. Eu percebia uma energia diferente. Aos 11 anos, tive a oportunidade de brincar na obra do Center Norte durante os finais de semana. Depois, quando inaugurou, eu patinava à noite enquanto meus pais e meus tios trabalhavam. Com 15 anos, eu comecei o meu primeiro emprego como vendedora de loja. Tenho paixão pelo varejo até hoje. Então, você vai vivendo e vai percebendo o peso do sobrenome e a responsabilidade que vem com toda essa história.

Nasci na Zona Norte de São Paulo, na Voluntários da Pátria. Depois, fiquei até a juventude morando nas redondezas. Então, eu percebia o respeito, a confiança e a tradição que a minha família representava na região. A Vedacit, que foi fundada pelo meu avô em 1936, também é da Zona Norte, então o peso da fidelidade com a região sempre foi muito forte. E acho que não há nada melhor do que viver os valores de uma empresa familiar. Não só o que se ouve, mas o que se vive. Eu percebi que tinha oportunidade por conta de tudo isso.

FM: Com essa história de tanto envolvimento, como você encontrou o seu lugar no mundo?

GB: Minha vida é marcada por ciclos. Eu tive uma infância muito legal, à qual sou muito grata, e acho que meus pais sempre me desafiaram. Eram super meritocráticos e investiram muito na minha educação. Eles falavam que eu podia escolher viagens, mas desde que fossem relacionadas ao estudo ou ao trabalho. Eu aproveitei essa oportunidade. Passei por um ciclo onde era muito estudiosa, depois fui advogada, tive meu ciclo em bons escritórios de advocacia em São Paulo, percebi que não queria continuar com aquilo e passei, finalmente, por uma transição de carreira. Nunca imaginei que iria trabalhar nos negócios da família, porque eu sempre quis ter uma carreira minha, fora deste ecossistema. Um dia contribuir, mas não necessariamente como executiva.

Até que meu pai falou: “Gabi, o que você acha de trabalhar comigo?” E eu era apaixonada. Como já disse, cresci brincando naquele espaço. Fazia parte dos meus finais de semana ir aos negócios da família. Então, eu fui seduzida pelo convite e fui muito feliz nesses 18 anos como executiva. Depois, tive um ciclo grande de governança familiar, que foi um movimento muito importante vindo da terceira geração, com o consentimento da segunda. E só aí veio o meu novo ciclo, de ser conselheira para outras organizações. Eu comecei a ser conselheira fora dos negócios da família aos 35 anos. Abri uma consultoria para ajudar famílias empresárias. Então, minha resposta é: eu estou em eterno movimento. Troco informações e aprendizados com pessoas e sou apaixonada por isso. Estou sempre procurando novas formas de auxiliar empresários e empreendedores. Também sou mentora do Winning Women há muitos anos, um programa focado em mulheres empreendedoras.

FM: Você é uma referência em governança familiar. Qual seria o seu conselho para jovens de famílias empresárias?

GB: Eu sempre recomendo que eles entendam um pouco da história e dos valores de suas famílias. Acho que esse resgate é muito importante. Além disso, tentar entender como eles podem participar dessa jornada de uma forma que os faça felizes. Quais são as suas competências? Qual o seu grande sonho? É preciso saber se você se identifica ou não com o negócio da família e se tem vontade – e as competências necessárias – para ser um executivo, um membro do conselho da família, um membro do conselho de sócios ou para se preparar para uma cadeira de um conselho de administração. Tudo de forma muito aberta e transparente. Eu sinto que, às vezes, há uma pressão forte da família para que o  jovem seja um executivo. E, talvez, esse não seja o melhor lugar para ele. Enquanto isso, outras famílias não deixam o jovem trabalhar no negócio, sendo que ele seria um ótimo executivo.

VEJA TAMBÉM: “Eu acho fundamental pensar em iniciativas que promovam a intimidade. Só assim a gente gera confiança”, diz Paula Setubal

Eu também sempre recomendo que eles tenham uma experiência fora do negócio da família. Para mim, isso foi uma experiência riquíssima. Ter outros chefes, sentir o que é o mercado de trabalho e entender como é difícil começar uma carreira do zero com outros pares. Também acho que é importante ter vivências fora do país, caso haja oportunidade e interesse do jovem.

O que mais me apaixona em famílias empresárias é que não existe uma solução de prateleira, uma regra que funcione em todos os casos. Não funciona. Cada família tem sua cultura, seu sistema e seus valores. Uma pessoa que eu adoro sempre diz: “É necessário ouvir o que não é dito”. E isso tem muito a ver com sentir os valores, as dinâmicas, as risadas, as alegrias e as mágoas. Isso até me arrepia. Os jovens precisam entender tudo isso e perguntar: que lugar eu quero ocupar?

FM: E qual é a marca que você quer deixar no mundo?

GB: Quero ser lembrada como uma executiva, amiga e mentora que trouxe provocações para empresários e que ajudou famílias empresárias a olharem os seus negócios com essa grande lente de impacto que eu acho muito importante. O poder que as empresas e as pessoas têm de tornar uma sociedade e um mundo melhor.

*No próximo dia 23 de setembro, vai ao ar a quinta entrevista da série, com Rodrigo Pipponzi, CEO da Editora Mol.

Siga FORBES Brasil nas redes sociais:

Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn

Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão

Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.

Tenha também a Forbes no Google Notícias.