Bem humorada e direta, ela resume o impacto do mobiliário urbano junto ao público com uma cena rápida. Alguém da equipe foi até sua sala e protestou: “Poxa, vocês tiraram o relógio que tinha na frente da minha casa e, hoje de manhã, sem saber a temperatura também não sabia o que vestir. Faltou informação”. Ana Célia ri e explica que isso aconteceu durante a troca de equipamentos antigos por novos e completa: “Quase dei um beijo na garota, porque ela estava provando o quanto nosso trabalho é realmente eficaz e faz parte da cidade”.
Filha de um dos maiores publicitários do país, Nelson Biondi, Ana é economista por formação e conta nunca ter trabalhado diretamente em agências ou na criação de grandes campanhas: “Mas a publicidade sempre esteve ao meu redor”. Apaixonada por números desde criança, ela foi fisgada pelo mercado financeiro ao se formar e conseguiu emprego em uma corretora no Centro de São Paulo. Virou gente grande na área quando foi trabalhar em um banco na Suíça, onde viveu por cinco anos. “O aprendizado foi gigante e fundamental para a profissional que sou hoje. Mas o Brasil oferece mais oportunidades, minha família, meus amigos e minhas raízes estão aqui. Então, voltei”.
Na volta, em 1997, convidada para fazer análise de viabilidade econômico-financeira para um projeto de instalação de relógios de rua, em São Paulo, conheceu o conceito de mobiliário urbano e gostou do combo mídia + serviços. “Ia além dos outdoors que a gente conhecia, feitos com papel e cola”, lembra.
O affair progrediu, Ana passou a dirigir o projeto e começou a pesquisar quem no mundo se destacava nesse tipo de mídia e chegou na JCDecaux – que criou e implantou o modelo na França, nos anos 1960 estabelecendo uma parceria com a empresa, em 2004. Dez anos depois, a parceria de sucesso a levou à direção geral da operação brasileira do negócio.
Segundo ela, o mobiliário urbano da empresa fornece informação e aproxima as marcas e os consumidores em seus trajetos cotidianos: “As pessoas dialogam com a nossa mídia o tempo todo. Agora, com a evolução do combate à pandemia, todo mundo está com mais vontade de rua”, completa otimista.
A seguir, alguns momentos da nossa conversa:
“Cresci em uma família de quatro filhas, minha mãe e meu pai. Claro que ele era a minoria. Por isso, costumo brincar que durante muito tempo eu não soube o que era machismo. Viviam me perguntando se eu não queria ter um irmão e eu nunca quis. Em casa, minha mãe mandava e a gente obedecia. Então, éramos todos iguais. Fui me deparar com o machismo quando comecei a trabalhar na corretora e ouvi: ‘Queria te convidar para almoçar no restaurante do Jockey, mas lá não entra mulher’. Como assim? Em outras ocasiões eu sentia que, em alguma mesa de decisão, um homem ia subir o tom de voz comigo mas não subia, porque o machismo dele não deixava. Devo ser honesta, nesses momentos eu acho que o machismo agiu a meu favor.”
Diversidade sempre
“Nós mulheres funcionamos em estéreo, em vários canais, porque temos vários papéis a cumprir. Por isso a diversidade é tão importante. Um ambiente diverso é mais produtivo e pode contar com o melhor dos mundos. Diferentes ângulos de visão, diferentes backgrounds, diferentes histórias. A diversidade é fértil.”
Trabalho em equipe
“Sou uma chefe com a mente aberta e gosto muito do contato direto com as pessoas. Prezo o diálogo e a transparência nas relações no trabalho. Por isso senti tanta falta dessa troca durante a quarentena. Não acredito na gestão do medo, da ameaça, do terror. Acredito na motivação, deixar as pessoas se expressarem em um ambiente onde elas possam dar o melhor de si.”
Match point
“Na verdade eu queria mesmo era ser tenista. Eu saía do colégio e treinava quatro horas todo dia. Participei de vários torneios pelo Clube Paineiras, mas a minha paixão pelos números foi mais forte e acabei na faculdade de Economia. Mas o esporte foi a minha grande escola de vida. Ele te ensina a ter humildade e resiliência, além de fazer muito bem à saúde. Como sempre fui muito ansiosa, o esporte é minha maneira de extravasar. Por isso, até hoje continuo fazendo muita ginástica.”
“Além da ginástica, eu amo ler. Tenho a fase dos romances, depois dos livros históricos e das biografias, que são minha leitura favorita. Sempre tenho mais de um livro começado. No momento estou lendo ‘Berlim Noir’, que é uma trilogia policial de um autor escocês, Philip Kerr. E também ‘Cisnes Selvagens’, de uma escritora chinesa, Jung Chang, que eu descobri depois de ler uma biografia de Mao Tsé-tung. Recomendo muito a biografia de Santos Dumont, ‘Asas da Loucura’, do americano Paul Hoffman. Nesse livro eu descobri que o parque das Cataratas do Iguaçu existe por causa do Santos Dumont. Ele herdou uma fazenda onde estava a área que hoje é atração turística. Ele fez questão de que o governo transformasse a propriedade em um parque público. Adorei.”
Com Mario Mendes
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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