Como o boi pode ser o caminho para produzir biofertilizantes e até energia elétrica

12 de novembro de 2021
Continental_Divulgação

Fazendas de pecuária, cada vez mais, estão implantando modelos de gestão do ambiente que vai do gado para melhoramento genético ao confinamento

Vamos falar hoje sobre biodigestores, uma solução para mitigar as emissões da pecuária enquanto produzimos biofertilizante e energia elétrica. Muito tem se falado sobre as emissões da pecuária. O Brasil acaba de assinar na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), um compromisso global pela redução de emissão de gás metano em 30%. Os produtores terão que se adaptar, buscando uma pecuária mais intensiva e eficiente.

Paralelo a isto, o setor está encarando uma alta vertiginosa de mais de 100% nos preços dos fertilizantes, item que representa cerca de 30% dos custos de lavouras como milho e soja. Tem sido um desafio constante para o agronegócio brasileiro produzir em larga escala mantendo o crescimento da produção, aliado também aos pilares da sustentabilidade.

ASSISTA TAMBÉM: Cadeia de etanol de milho cresce expressivamente no Brasil

Desta necessidade, vem o interesse pelos biodigestores. Com foco na redução de custos com adubação, buscando a autonomia energética, enquanto damos destinação aos resíduos, implantamos em nossa propriedade um biodigestor. O projeto foi idealizado para funcionar em um ciclo fechado, começando em uma fábrica de ração integrada a um confinamento e ao biodigestor, seguido de um motogerador, terminando em um sistema de distribuição de biofertilizante.

A ração produzida na fábrica é distribuída aos animais no confinamento anexo, que é calçado para garantir a qualidade do dejeto. A estrutura é parcialmente coberta e conta com um sistema de aspersores, garantindo, assim, sombra e conforto respiratório e térmico. Os dejetos são direcionados ao biodigestor por desnível e auxílio mecânico. O confinamento tem capacidade estática de 1.000 animais e se comercializam mensalmente 300 bois muito bem acabados, entre 19 e 22 arrobas.

O biodigestor é um equipamento que proporciona um ambiente controlado para a decomposição da matéria orgânica presente nos dejetos, por meio da biodigestão, que tem sido avaliada como uma das tecnologias mais eficientes em termos energéticos e ambientais para a produção de bioenergia. Desse processo resulta um biofertilizante e um biogás.

CONFIRA MAIS ESSE VÍDEO: Como a educação pode apresentar o agro para a nova geração

O biofertilizante é um composto líquido que sai do biodigestor para uma lagoa anexa e depois é aspergido nas pastagens e nas lavouras. O fertilizante contém nitrogênio insolúvel, de liberação lenta, que aumenta os mecanismos físicos e biológicos de nutrientes do solo, mitigando o risco de excesso de fertilização e mantendo a umidade do solo.

A economia em nitrogênio foi em torno de R$ 160 mil em quatro meses. Marcelo Otenio, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) defende que o biofertilizante substitua 100% do adubo nitrogenado na lavoura de cana e 60% na de milho. O uso de biofertilizantes pode se tornar uma oportunidade. Nosso país importa 80% dos fertilizantes utilizados nas lavouras para fornecer nutrientes, de acordo com a necessidade das plantas e do solo. O Brasil é o quarto maior importador de fertilizantes do mundo, como discutimos na última coluna, os produtores estão tendo que se adaptar à diminuição de oferta que estamos passando no momento.

CONFIRA A COLUNA AQUI: Por que os fertilizantes encarecem a produção de alimentos

O segundo produto da biodigestão é o biogás, que pode ser utilizado na geração de energia elétrica, energia térmica ou biometano.
No nosso projeto, o biogás é utilizado como combustível de um motor de ciclo diesel adaptado para queima de gás metano. Esse motor aciona um eixo direto, um gerador de 150kVA que produz energia para a fábrica de ração e a iluminação de toda a estrutura, fechando, desta maneira, o ciclo. Adquirimos assim autonomia energética, podendo o excesso ser consumido na propriedade ou comercializando por geração distribuída, conforme a Resolução Normativa número 482/12 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Utilizando o material do biodigestor, economizam-se adubo e energia e se dá destino aos dejetos dos animais, transformando, portanto, um passivo ambiental em um ativo energético. A necessidade de diversificação da matriz energética brasileira e de implantação de fontes alternativas de energia tem sido estimulada e os bioinsumos servirão para abrir e manter os nossos mercados consumidores. E não é que deu certo: transformamos um passivo ambiental em um ativo energético e biofertilizante, tudo através do boi!

Conheça, a seguir, as etapas da construção de uma estrutura de confinamento com biodigestor:

Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.