Rachel Maia: uma CEO contra todas as estatísticas

8 de maio de 2018

Rachel Maia: uma CEO contra todas as estatísticas

É com imenso prazer que faço minha estreia como colunista da FORBES, publicação que tanto admiro e que acompanho desde sempre. Para aqueles que não me conhecem, farei uma breve apresentação de minha vida pessoal e da evolução da minha carreira.

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Nasci há 47 anos em São Paulo, caçula de sete irmãos. Vivíamos em uma casa simples, mas confortável, no bairro de Jordanópolis, no extremo sul da capital paulista.

Gosto de me lembrar da minha infância, de como nos divertíamos em nossas férias de verão na cidade natal de meus pais – Entre Rios de Minas, a 60 quilômetros de São João del Rei –, do pão de queijo quentinho toda manhã e dos gelados banhos de rio com meus irmãos. Esse é um de meus valores mais caros: estar junto das pessoas que amo sempre que a vida permitir.

Por muito tempo, no entanto, tive de abandonar os prazeres de Minas e o aconchego familiar para me tornar alguém no mundo corporativo. Com bastante esforço, meu e de meus pais, formei-me em ciências contábeis, fiz pós e MBA em finanças, especializei-me em cursos de instituições renomadas como USP, FIA, FGV, Harvard e University of Victoria, sempre em busca de agregar valor ao meu currículo. Passei muitos anos no exterior, onde enfrentei limitações financeiras e a saudade dos irmãos, dos meus pais, do pão de queijo e até do rio gelado.

Mas todo o esforço valeu a pena. Tive a oportunidade de trabalhar em grandes empresas: no Banco do Brasil, naveguei no universo da importação e exportação na extinta Cacex; na Seven Eleven, maior rede de lojas de conveniência norte-americana, atuei como controller; na farmacêutica Novartis, também fui contratada para essa função. Não só acumulei uma valiosa experiência em gestão e visão estratégica como também ampliei minha vivência internacional.

Tudo isso somado formou a base para o salto que eu perseguia em minha carreira: a direção financeira de uma grande empresa.

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Assim que saí da Novartis, há 16 anos, decidi morar em Nova York para continuar meu aprimoramento em programas específicos de gestão e liderança. Adorava passear no Metropolitan Museum e apreciar as obras de um de meus artistas favoritos: Pablo Picasso.

Um dia, li a notícia de que Paloma, filha dele, estaria no Brasil para inaugurar a primeira loja da Tiffany em São Paulo – ela é designer da marca desde 1980. Disse a mim mesma: “Preciso estar lá”. Juntei minhas coisas e voltei para o Brasil a tempo de ver a inauguração – pelo lado de fora e por cima do ombro dos seguranças. Dois meses depois, por uma grande coincidência, fui contratada como diretora financeira pela Tiffany.

Apesar de minha paixão pelo trabalho de Picasso e de minha grande admiração pelo talento de Paloma, meu objetivo naquele momento não era entrar para o mundo das joias. Por isso, achei que não ficaria mais de dois anos na empresa. Colaboraria para a consolidação da marca no Brasil e voltaria a perseguir uma posição na indústria farmacêutica, na qual eu acumulara uma boa experiência.

Mas, às vezes, o destino nos mostra oportunidades na carreira que devem ser agarradas com força. Mesmo sem esperar por isso, passei a responder pelas áreas financeira, RH e operações. Fui promovida a CFO Brasil – e os dois anos na Tiffany se tornaram quatro, seis, oito… Foi um período de grande aprendizado. O varejo de luxo tinha entrado definitivamente nas minhas veias.

Mas perceber quando partir também é um sinal de maturidade profissional. Para surpresa de muitos, passados oito anos, concluí que era hora de navegar por outros mares, buscar novos desafios.

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Contrariando cada vez mais as estatísticas, ainda mais no universo de luxo – mulher, negra, criada na periferia –, continuei minha trajetória ascendente, enfrentando preconceitos velados e explícitos, afinal, fomos o último país a abolir a escravatura – temos apenas 130 anos de liberdade e um longo caminho a percorrer. Cheguei a ser insultada no trânsito, para grande temor meu e de minha filha, que estava a bordo, simplesmente por ter um bom carro.

Assim, em 2010, aceitei um novo e grande desafio – o de construir a marca e o conceito no país, partindo praticamente do zero, de uma grife que já era conhecida globalmente.

A partir de hoje, terei o prazer de compartilhar por aqui alguns fatos e aprendizados dessa minha trajetória como CFO e CEO.