Como a arte transforma

4 de agosto de 2020
Oscar LECONTE/Getty Images

A série da Catedral de Rouen de Claude Monet foi pintada em 1890

Esta semana é meu aniversário, por isso decidi compartilhar algo pessoal aqui: como a arte transforma a minha vida em todos os sentidos. É uma ferramenta poderosa para engrenar mudanças no mundo.

São tantas obras e exposições que trazem momentos repletos de todos os tipos de emoções e também experiências que me transportam para lugares e situações desconhecidas, esta capacidade de nos colocar no lugar do outro e entender o mundo através de suas lentes.

Uma das primeiras obras que fisgou o meu coração foi a série da Catedral de Rouen de Claude Monet, pintada em 1890, são trinta pinturas da fachada da catedral em horas diferentes do dia e do ano, eu achava e acho tão lindo como ele traz uma forma concreta de perceber a passagem do tempo. Todas as vezes que penso nela me transporto para o D’orsay, em Paris, onde estão algumas das obras desta série e volto a minha infância.

Também em Paris me vem o museu do Branly ou Museu das Artes e Civilizações da África, Ásia, Oceania e Américas, inaugurado em 2006 com projeto de Jean Nouvel. Quem me levou a primeira vez lá foi a minha mãe e o meu avô, fiquei muito impressionada, encontrei e descobri tantas culturas diferentes e tão conectadas.

Em 2014, me emocionei com a retrospectiva de 40 anos de carreira de Anselm Kiefer, na Royal Academy, em Londres. Ele consegue capturar poderosamente a experiência humana e se baseia em história, mitologia, literatura, filosofia e ciência, aquele dia eu senti a história alemã e o Holocausto.

A exposição que mais marcou a minha vida foi a de Tino Sehgal, no Palais de Tokyo, onde percorri o museu com performers de diferentes idades, como se fosse uma caminhada pela vida, onde trocávamos experiências, terminando o percurso com um senhor que ensinava uma lição sobre a vida.

Ainda no campo da performance, Francis Alÿs: “Quando a fé move montanhas”, realizada em 2002, no Peru, retrata um enorme esforço com efeitos pouco visíveis, mas necessários e vitais. Ela traz a estreita relação entre arte e vida e costura as reflexões trazidas no encontro com a arte.

Falando sobre arte e vida, nunca esqueço a primeira vez que eu peguei uma bala de Felix Gonzalez-Torres, em 2011 na exposição da COLEÇÃO ASTRUP FEARNLEY na Bienal em São Paulo. Este trabalho “Sem-título” (da série Placebo) de 1991, era um grande tapete formado por balas embaladas em papel prateado cujo peso total somava o peso real do artista somado ao de seu companheiro, que morrera de Aids seis anos antes dele. Os visitantes eram convidados a levar uma bala consigo. Obra e espectador se unem numa ação que pretendia expurgar a dor da perda de seu companheiro, morto em decorrência do vírus da Aids.

James Turell ou Walter de Maria em Naoshima que elevaram a minha vibração de forma mágica. A primeira vez que saboreei a “Roda dos Prazeres”, 1968 de Lygia Pape, que então entendi que a arte vai muito além do que é visível aos olhos.

Aqui em São Paulo, na Pinacoteca, o trabalho de Grada Kilomba, Illusions Vol. II, Oedipus (2018), a obra apresenta o mito de Édipo, lembrando que ninguém pode escapar ao próprio destino ou passado.

São tantos, que ficaríamos aqui durante muito tempo, mas eu fico feliz em saber que ainda terei muitas emoções e memórias através da arte , assim como a memória das Madeleines de Proust no icônico livro em busca do tempo perdido.

Para encerrar, a obra de Regina Vater “Procure no invisível então a beleza aparecerá”.


Camila Yunes é formada em arquitetura pelo Mackenzie e pela Ecole Nationale d’Architecture Paris Val de Seine. Cursou Sotheby’s em Contemporary Art and Its Market, How the Art World Works e Foundations in History of Art. Trabalhou com sales & liaisons nas Galerias Continua e Nara Roesler e na equipe de produção da Galeria Aveline. Hoje é VIP Representative das feiras Armory Show e ARCO. Foi cofundadora do GoART Art Advising de 2015 a 2018. É a fundadora da KURA.

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