Lançado por João Rubens Costa Fonseca, Carlos Henrique Vilela e Marcos David em 2016 com o intuito de transformar vidas – na cidade, na região e além – através do compartilhamento de experiências e saberes, o festival é um contraste surpreendente entre a calmaria da cidade e a inquietude do mundo da inovação. Se por um lado, o agronegócio e o turismo rural e religioso seguem relevantes para a economia local, por outro a cidade atende pela alcunha de “Vale da Eletrônica” e é atualmente sede de mais de 160 empresas tecnológicas e instituições que avançam em campos de pesquisa como o 6G.
Esta vocação inovadora não é uma novidade, já que Santa Rita tem estado no mapa da tecnologia e inovação há décadas. Desde os anos 1960, a cidadezinha mineira é a base de instituições como a ETE FMC, primeira escola de eletrônica de nível médio da América Latina, e o Instituto Nacional de Telecomunicações (Anatel), instituição de ensino pioneira na oferta de um curso superior de Engenharia com foco em telecomunicações, que consolidaram o local como um hub de talentos e ideias.
Esta coluna esteve presente no festival e conversou com um dos fundadores, João Rubens Costa Fonseca, sobre autenticidade, diferenciais do evento e mais. Leia, a seguir, alguns dos melhores momentos da conversa:
Rumo Futuro: Quais foram as principais conquistas do Hack Town ao longo dos últimos oito anos?
João Rubens: O Hack Town tem uma visão de desenvolvimento regional, não só com foco em Santa Rita, mas em todas as cidades do entorno. Além disso, é sobre dar mais atenção para o interior, que é onde a metade dos brasileiros moram. Já percebemos em várias outras edições que acabamos sendo também uma fonte de inspiração para muitas outras cidades, em termos da sua própria produção de autenticidade. Nossa visão está muito relacionada à economia criativa do futuro, em que trazemos o ser humano para dentro do processo. Uma economia em que vários lugares se encontram, todos com seu próprio jeito de ser.
Ao mesmo tempo que o interior nos traz muitos desafios, também traz muitas vantagens, como o aspecto da imersão do evento, a perspectiva das pessoas se conectarem de uma forma muito mais natural, fora de suas próprias bolhas e conexões, que sempre vão trazer o mesmo resultado.
Nossa visão sobre inovação é muito transversal. Não queremos propor conversas que sejam somente sobre trazer os principais CEOs do Brasil para discutir inovação. Acreditamos em trazer mais players, e envolver outros elementos nessas discussões. No Hack Town, você vê pessoas de grandes marcas de tecnologia e outras da música, da gastronomia e da arte dentro do mesmo ambiente, porque acreditamos que é dessa forma que vamos conseguir trazer a inovação de verdade, que estoura o pensamento linear, que vem de um pouco de caos.
RF: O Hack Town começou de uma ideia sem apoio para se tornar um evento com o apoio de múltiplas marcas. Como se deu essa evolução?
Muitas cidades e pessoas vêm para o Hack Town e querem levar o evento do tipo para outros lugares. É muito legal perceber que, nesse caminho, esse pessoal sempre encontra e esbarra nas características autênticas da própria cidade. São elementos dos quais que elas não podem fugir, por conta de fatores como o que a cidade já entrega e a sua própria história. A gente só acelera o que já existe.
Pessoas que ouvem falar deste festival mas nunca vieram precisam ver para crer no que a gente está falando. Quando elas se deparam dez palcos de música, mais de 800 palestras das mais diferentes áreas com speakers que vão desde CEOs de grandes startups até pessoas das áreas de desenvolvimento humano, criativos, artistas, entendem que esse mix é necessário para boas discussões de futuro. Sempre digo que o Hack Town não é um evento para discutir a ferramenta que vai melhorar sua produtividade. São discussões mais profundas que não focam em um futuro tão distante, mas também não são sobre um futuro tão próximo.
RF: Para além do impacto para a comunidade de inovação, como vocês explicam o valor que o evento trouxe para a cidade?
Também existe um impacto muito maior e duradouro. Normalmente, o interior está longe de onde as coisas acontecem, e ao trazer mais de 900 palestrantes de altíssimo nível para uma cidade do interior e promover discussões em locais de fácil acesso, você se transforma em uma referência. Falamos muito sobre pensar global e agir local, e Santa Rita é um exemplo disso.
RF: O que levou vocês a abordar a reinvenção como tema neste ano?
JR: A escolha do tema vem do processo muito doloroso que foi a pandemia, onde vimos que muita gente saiu machucada, dolorida. O ano passado foi uma celebração dessa volta e agora, acreditamos que o momento de muita gente é repensar e se recriar em um novo contexto em que tudo mudou.
RF: Qual é o futuro de festivais que tratam de temas relacionados a tendências, tecnologia e criatividade?
JR: Acredito que é pensar sobre o que é possível fazer com autenticidade. Vemos muita coisa surgindo neste espaço, mas são sempre as mesmas fórmulas, celebrações do mais do mesmo.
Já recebemos propostas [de potenciais patrocinadores] para levar o Hack Town para São Paulo, por exemplo. Mas não é sobre isso: nosso objetivo é justamente conseguir mostrar para as marcas [o valor de] ser autoral e, consequentemente, trazer resultados mais autênticos. Nossa fórmula funciona muito por conta desse contexto. A partir do momento em que a gente sai de lugares confortáveis de discussão, do que é óbvio, fácil, ou simples de entender, é possível fazer coisas muito mais legais.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.