Uma onda de compra de dólar deu a tônica no mercado de câmbio brasileiro hoje (24), o que derrubou o real a novas mínimas recordes e impôs à moeda brasileira a pior semana em mais de 11 anos, resultado do combo de expectativa maior de corte de juros e temor de que a escalada na tensão política respingue na condução da agenda econômica.
Como resultado, a volatilidade implícita no câmbio – medida da percepção de risco – disparou a máximas em torno de um mês. E o giro no dólar futuro de primeiro vencimento superou 556 mil contratos, já o mais forte desde 5 de março, numa evidência da extensão do ajuste do mercado.
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O BC vendeu US$ 3,175 bilhões das reservas nesta sessão – US$ 2,175 bilhões em quatro leilões no mercado spot e mais US$ 1 bilhão em duas operações extraordinárias de swap cambial. Mas tamanho volume apenas conseguiu suavizar a alta da moeda, a mais intensa em mais de um mês.
O sentimento do mercado – já abalado pela virada na política fiscal, pela deterioração das expectativas para a economia e pelo intenso fluxo de saída de moeda – piorou ontem (23) com os rumores da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.
O humor azedou de vez quando Moro confirmou sua saída nesta sexta-feira, acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferência política, abrindo uma crise que pode colocar a condução da economia num rumo não esperado.
“A percepção do mercado seria de que o governo está perdendo o rumo político e o Executivo está se isolando, em meio aos problemas ligados à pandemia global, inclusive com o esvaziamento da pasta de Paulo Guedes”, disse a Infinity Asset Management em nota.
Chamou atenção nesta semana o fato de o governo ter anunciado um pacote para retomar o crescimento após a crise do coronavírus sem a participação da equipe econômica.
“Isso mostra que o ministro da Economia está em atrito com a Casa Civil”, disse Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset.
“Aos olhos do mercado, Paulo Guedes não teria mais seu cargo garantido ‘para sempre’. Isso assusta os investidores”, afirmou Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. “Acho que o cenário para o Brasil se tornou muito mais incerto e negativo até, no mínimo, termos uma visibilidade do que será este ‘novo governo'”, completou.
Na avaliação do UBS, os fatores-chave de atenção ao mercado agora serão um “contínuo” apoio do presidente Bolsonaro ao ministro da Economia e a relação do governo com o Congresso.
O dólar à vista subiu 2,54% nesta sexta-feira, a R$ 5,6681 na venda, máxima recorde para um encerramento de sessão. É a maior alta desde 18 de março (+3,94%).
No pico do dia, a divisa foi a R$ 5,7491, valorização de 4%.
Na semana, a cotação saltou 8,25%, maior ganho desde a semana finda em 21 de novembro de 2008 (+8,38%), no auge da crise financeira global.
Em abril, o dólar ganha 9,12% e salta 41,25% em 2020.
O real liderou as perdas globais pelo segundo pregão seguido e se mantém como a divisa de pior desempenho no ano.
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Na B3, o dólar futuro subia 1,36%, a R$ 5,6135, às 17h47 desta sexta.
Mesmo quem mantinha posição comprada em real recentemente precisou desfazê-la devido à velocidade da piora do cenário, caso da Paineiras Investimentos.
“Nossa visão é que este é um momento fundamental de preservação de capital para poder aproveitar as oportunidades que inevitavelmente aparecerão mais a frente, quando a incerteza e a volatilidade diminuírem”, disse a Paineiras em carta mensal. (Com Reuters)
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