Real se mantém entre moedas de pior desempenho com incerteza doméstica

Apresentado por
27 de abril de 2020
ReutersRicardo-Moraes

O receio é que a instabilidade em Brasília possa fragilizar ainda mais as já combalidas perspectivas econômicas para os próximos meses

O dólar futuro se manteve em firme alta hoje (27), enquanto a cotação no mercado à vista fechou perto da estabilidade, mas distante das mínimas do dia, conforme operadores ainda se mostraram cautelosos sobre o recente noticiário político e seus efeitos potenciais sobre a economia.

O real esteve entre as moedas de pior desempenho nesta sessão e se mantém como a divisa que mais perde ante o dólar em abril e no acumulado de 2020.

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Mais cedo, em uma tentativa de demonstrar união dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro apareceu ao lado de ministros ao deixar o Palácio da Alvorada, entre eles o titular da Economia, Paulo Guedes, e reiterou que é o auxiliar quem manda nas questões econômicas do governo.

A saída atribulada de Sergio Moro – que então gozava de status de “superministro” no governo, assim como Guedes ainda – levantou temores de que o próximo a deixar a equipe de ministros pudesse ser o chefe da Economia.

O receio é que a instabilidade em Brasília possa fragilizar ainda mais as já combalidas perspectivas econômicas para os próximos meses, num movimento que não apenas manteria o investidor estrangeiro afastado como poderia intensificar o desmonte de posições no Brasil.

Na sexta passada (24), dados do Banco Central mostraram que o investidor estrangeiro se desfez em março, em termos líquidos, de um recorde de US$ 22,068 bilhões em investimentos em carteira – somando ações e renda fixa, ambos negociados no mercado doméstico. O resultado foi 29 vezes pior que o de um ano antes.

A debandada se concentrou na renda fixa (perda de US$ 14,624 bilhões). Esse investidor tem pouco estímulo para voltar, dentre outros fatores, pelos retornos menores dos títulos brasileiros em comparação a alguns de seus pares emergentes, na esteira da queda da Selic a sucessivas mínimas recordes.

“A moeda e a bolsa estão demonstrando que o juro não pode cair mais”, disse o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital.

“Mesmo o fluxo sendo praticamente zerado, mesmo com o BC vendendo [dólar], a nossa moeda é a que mais apanha disparado no mundo. Tomar [DI] julho 2020 me parece uma opção de graça”, acrescentou, referindo-se a uma maior atratividade, em sua visão, de posições compradas em taxa de DI.

Esse DI projeta corte da Selic nos próximos dois meses. Mas alguns analistas têm chamado atenção para o risco de uma aposta contundente em queda da Selic diante da turbulência recente nos mercados por causa do clima político local.

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Na B3, o dólar futuro chegou ao fim da tarde em alta de 1,50%, a R$ 5,67, mas chegou a tocar R$ 5,7285 na máxima.

No mercado interbancário, a cotação fechou com variação negativa de 0,07%, a R$ 5,6639 na venda. Na mínima do dia, atingida ainda pela manhã, a cotação desceu a R$ 5,5370 (-2,31%). Na máxima, à tarde, foi a R$ 5,7270, alta de 1,04%.

O BC vendeu um total de US$ 2,1 bilhões via contratos de swap cambial e leilão de dólar spot ao longo da sessão, mas sem impedir a performance mais fraca do real em relação a seus pares.

O dólar australiano – considerado um termômetro da demanda por risco – e o peso mexicano, por exemplo, saltaram 1,2% na sessão.

 

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