Trump e Biden se enfrentam nas urnas em 34 dias em um contexto desafiador. Os Estados Unidos acumulam mais de 200 mil mortes por coronavírus e mais de 7 milhões de infectados. Na economia, o mercado de trabalho esboça leve recuperação, com dados de setembro revelando a criação de 749 mil postos de trabalho, apesar dos pedidos por auxílio-desemprego permanecerem em altos patamares, com 870 mil solicitações realizadas na semana encerrada em 19 de setembro.
Também reflexo do coronavírus, espera-se nesta eleição uma ampliação no número de votos enviados pelo correio no país. Embora não seja uma novidade no sistema eleitoral norte-americano, o volume de votos neste ano deve atrasar o resultado das eleições e aumentar as tensões sociais no país. As autoridades já se preparam para um aumento da violência nas próximas semanas em função do acirramento da disputa.
No debate de ontem, Trump endossou a retórica de que o envio das cédulas eleitorais pelo correio irá resultar em fraudes nas urnas e que o próximo nome para a Casa Branca pode ser decidido pela Suprema Corte dos EUA.
O mercado de ações, como usual em períodos pré-eleitorais, acompanha o contexto político com cautela e volatilidade. Para o bem ou para o mal, embora não decida as eleições, o mercado costuma antecipar a economia real e, por sua vez, os fatores que a impactam, como o cenário político.
O que aponta o mercado para as eleições nos EUA?
Segundo o jornal, em 1932, 1960 e 2008, todos anos em que os democratas venceram os republicanos na disputa pela Casa Branca, o S&P 500 atravessou os três meses que antecederam as eleições em um mercado de urso. O mesmo aconteceu em 1952, 2000 e 2016 quando os republicanos tiraram os democratas do poder.
A análise mostra ainda que, desde 1928, em 90% das vezes em que houve a reeleição do candidato ou partido no poder, o S&P 500 experimentou uma tendência altista nos três meses anteriores à eleição.
O mercado é influenciado por muitos outros fatores e tendências, mas setembro foi um mês de grande volatilidade para o S&P 500, com recuo de quase 6% no acumulado do mês. Já no trimestre encerrado hoje (30), os ganhos são de 8,5% para o índice. Se o S&P 500 irá, mais uma vez, apontar o caminho do resultado eleitoral, só o tempo irá dizer. As próximas semanas prometem movimentar o humor dos investidores.
Em relatório divulgado neste mês, o time de Análise Política e Estratégia Macro da XP Investimentos elaborou uma análise com três diferentes cenários para as eleições nos EUA e, em apenas um deles, o presidente Donald Trump aparece reeleito.
O primeiro deles, considerado o mais provável pelos especialistas da corretora, aponta Joe Biden eleito com um Congresso dividido. A Câmara dos Representantes, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, seria composta por maioria democrata, enquanto os republicanos manteriam o controle do Senado.
“Consideramos que seria um cenário positivo para os investimentos, já que as propostas mais arrojadas de Joe Biden teriam que ser negociadas e moderadas para ser aprovadas. Além disso, um resultado eleitoral acirrado daria pouco espaço para que a ala mais progressista, que defende propostas como quebrar o monopólio de empresas de tecnologia ou a proibição de seguros de saúde privados, ganhe maior influência nas decisões da Casa Branca”, afirma o relatório.
Já o segundo cenário da XP aponta Trump reeleito em um Congresso dividido, algo semelhante ao quadro político atual, com republicanos mantendo a maioria no Senado e os democratas na Câmara. Este também é um cenário positivo para os mercados, segundo o relatório, já que uma vitória de Donald Trump representa a manutenção do sistema de saúde atual e o não aumento dos impostos no país.
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“A reeleição de Trump daria continuidade aos atritos comerciais com a China, assim como a adoção de um possível pacote de investimentos em infraestrutura com efeitos para o mercado interno norte-americano, ao dólar e às ações em Wall Street”, avalia Lucci, do BGC.
Já o terceiro cenário, considerado menos provável, indica Biden eleito com ampla vantagem e um Senado também democrata, uma possibilidade considerada menos favorável para os investimentos, já que novo presidente teria menos resistência na implementação de propostas mais arrojadas, como o aumento de tributos, regulação antitruste mais agressiva e controles de medicamentos. Os setores que poderiam ser mais afetados neste cenário, de acordo com o a XP, seriam o farmacêutico e de energias não renováveis.
Alberto Bernal, estrategista global da XP, acredita que o “S&P poderia cair até 2.900 pontos no final do ano, 18% abaixo do cenário base atual”, impactando o Ibovespa, que ficaria entre “90-93 mil pontos, cerca de 10% abaixo do nível atual e 19% abaixo do cenário base”.
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