Como a investidora Cathie Wood venceu Wall Street ao apostar na Tesla

8 de outubro de 2020
Divulgação/Forbes

As empresas na lista da Ark Investment Management quase triplicaram em lucro na pandemia

As ações da Tesla estavam oscilando em torno de US$ 200 em maio de 2019, aproximadamente o mesmo valor de cinco anos antes, até que o maior impulsionador atual de Wall Street, Elon Musk, tentou um experimento corajoso. Cathie Wood e sua empresa de investimento Ark Investment Management já eram bem conhecidas por suas previsões exageradas de que a Tesla construiria uma frota de robo-táxis no valor de US$ 1 trilhão e que suas ações subiriam 20 ou 30 vezes até 2023. E, desde a publicação online da nova avaliação de US$ 1,4 trilhão da Tesla, implicando um preço de ação acima de US$ 6.000, a Ark chocou os investidores de novo com a precisão de sua estimativa.

Críticas vieram rapidamente. Jim Chanos, famoso por descobrir a fraude da Enron, criticou Wood pelas previsões da Ark sobre a Tesla. “[O] que a Ark produziu foi um preço futuro para a Tesla, não uma avaliação”, disse o especialista Aswath Damodaran, professor de finanças da Universidade de Nova York. O modelo, observou ele, não incluía uma análise de fluxo de caixa descontado e carregava previsões incompletas sobre os custos que a Tesla incorreria para escalar a produção de seus veículos. Aquele valor de US$ 1 trilhão? “Parece mais um conto de fadas do que uma avaliação”, opinou Damodaran.

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Dezesseis meses depois, as ações da Tesla estavam sendo negociadas a US$ 400. Em outras palavras, tiveram um aumento de dez vezes, impulsionados pela especulação e o entusiasmo sobre as tecnologias de condução autônoma, a nova bateria de carros elétricos da empresa e o desempenho financeiro mais forte do que o esperado da Tesla. A montadora de carros agora vale cinco vezes mais do que a Ford e a General Motors juntas, e Wood fez uma fortuna. Os céticos, ela acredita, falharam em ver o panorama geral: conforme os carros elétricos se tornarem cada vez mais populares, a eficiência da produção e os avanços em baterias e outras tecnologias reduzirão os custos de sua fabricação. E, com a queda dos preços, a demanda aumentará, inclusive de empresas de compartilhamento de caronas. Em setembro, Musk prometeu um carro de US$ 25 mil em apenas três anos.

Enquanto isso, Wood, 64 anos, está perfeitamente feliz por ter um coro de críticos: “Para ser honesta, isso quase me conforta, porque significa que se estivermos certos, as recompensas serão enormes”.

O conforto de Wood em seguir seu próprio caminho a ajudou a transformar a Ark em uma das empresas de investimento de maior crescimento e desempenho do mundo. Seu carro-chefe de US$ 8,6 bilhões, o Ark Innovation Fund, subiu espantosamente em quase 75% em 2020, e retornou uma média anual de 36% nos últimos cinco anos, quase o triplo do S&P 500.

Enquanto a maioria dos stock pickers tratam seu trabalho como segredos de estado, Wood torna as pesquisas da Ark disponíveis gratuitamente online e publica registros em tempo real das operações de sua empresa. Em vez de contratar MBAs, ela prefere trazer jovens analistas com experiência em assuntos como biologia molecular ou engenharia da computação, imaginando que eles são mais propensos a detectar a próxima tendência. Até mesmo a estrutura da Ark, um acrônimo para Active Research Knowledge (ou em tradução livre, pesquisa ativa de conhecimento), é original. Wood gerencia sete portfólios projetados para capitalizar descobertas em robótica, armazenamento de energia, sequenciamento de DNA e tecnologia financeira e blockchain, e os torna disponíveis para investidores, especialmente millennials negociando com a Robinhood, como fundos negociados em bolsa com eficiência fiscal.

Sua posição sobre a Tesla e a pandemia que acelerou a adoção das tecnologias incorporadas nas 35 a 55 empresas classificadas pela lista ETF da Ark ajudaram seus ativos a quase triplicar em 2020, para US$ 29 bilhões. “O coronavírus impulsionou nossas plataformas inovadoras em alta velocidade porque elas são solucionadoras de problemas”, diz Wood. “A inovação resolve problemas.”

A Forbes avalia a Ark em US$ 500 milhões, ou cerca de 2% dos ativos sob gestão, quase a mesma cotação de ações da T. Rowe, outra empresa norte-americana de investimentos. A propriedade de mais de 50% de Wood dá a ela um patrimônio líquido de US$ 250 milhões, garantindo o 80º lugar na sexta lista anual da Forbes das mulheres self-made mais ricas dos Estados Unidos.

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É fácil descartar Wood como a cara de uma bolha específica do mercado de ações criada pelas políticas de dinheiro fácil do Federal Reserve. Mas ela sobreviveu à sua participação nas bolhas e nos mercados em baixa. Enquanto era estudante de economia na University of Southern California, estudou com o investidor ilustre Arthur Laffer e foi aprendiz da gigante de fundosLos Angeles Capital Group, observando as taxas de juros se aproximando de 20% esmagando a economia e o mercado em 1977 a 1980. Depois de se formar em 1981, ela ingressou na Jennison Associates, agora um braço de investimentos de capital da Prudential, como economista em Nova York. Lá ela fez uma chamada antecipada de que a inflação e as taxas de juros atingiram o pico. Aquilo fez seus superiores virarem os olhos, mas Wood estava certa –e a experiência inculcou nela uma apreciação pelo lado de potencialmente ir contra o consenso.

Frustrada com sua carreira na Jennison e querendo pesquisar empresas individuais, Wood pediu demissão. Seu mentor na empresa a convenceu a retornar e a transferiu para a pesquisa de ações. Ela cobriu empresas de telecomunicações sem fio nascentes no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, obtendo uma visão básica das enormes mudanças econômicas e sociais que viriam à medida que os telefones celulares se tornassem onipresentes. Em 2001, ela se mudou para a AllianceBernstein, com sede em Nova York, como diretora de investimentos para carteiras temáticas. Mas a crise financeira de 2008 marcou o início de uma era em que gerentes ativos tiveram desempenho inferior ao S&P 500 e trilhões inundaram fundos de índices de baixo custo. Wood decidiu que uma nova abordagem era necessária. Em 2012, ela propôs colocar portfólios geridos ativamente de empresas inovadoras dentro de uma estrutura de ETF. A ideia não chegou a lugar nenhum na AllianceBernstein.

Dois anos depois, ela abriu a Ark em Nova York. O sucesso não foi imediato. Nos primeiros dois anos da empresa, seu fundo principal foi colocado no quartil inferior de seu grupo de pares, de acordo com a Morningstar, empresa provedora independente de dados e análise de investimentos. No final de 2016, Wood atraiu apenas US$ 307 milhões em ativos e a taxa de gestão de 0,75% da Ark não estava cobrindo as despesas gerais. Para continuar, ela cavou fundo em suas economias, vendeu participações minoritárias e firmou parcerias com empresas maiores. A Nikko Asset Management do Japão e a firma de fundos mútuos American Beacon agora possuem 39% da empresa. Quase 10% pertence às duas dúzias de funcionários da empresa.

Em 2017, a Ark decolou, impulsionada pela alta nos preços de ações como Netflix, Salesforce, Illumina, Square e Athenahealth. Os ativos da Ark aumentaram dez vezes, e a empresa começou a construir sua marca com base em previsões ousadas, uma presença ativa no Twitter e as pesquisas gratuitas online. (Também atraiu a atenção de um fundo de criptomoeda disponível apenas para investidores credenciados; Wood começou a comprar bitcoin, que ela chama de “apólice de seguro” contra a inflação, em 2015 por US$ 250 a moeda.)

Wood adota uma abordagem de cima para baixo para construir portfólios, primeiro identificando interrupções por todos os meios possíveis, incluindo crowdsourcing –ela até abre as reuniões de pesquisa de empresa para pessoas de fora, que podem acessar via Zoom. A economia é central. Wood é ainda mais otimista em inovações se ela acredita que seus custos irão diminuir com o tempo, criando uma demanda real. Ao pontuar participações em potencial, a Ark analisa a cultura corporativa e a execução da gestão em iniciativas de crescimento. Apenas no final do processo Wood avalia uma empresa, recusando-se a comprar qualquer coisa que ela não espera que aumente 15% ao ano ao longo de cinco anos, o período mínimo de manutenção esperado pela Ark.

O tumulto de 2020 foi bom para Ark. Em março, quando a pandemia emergiu e as ações despencaram, Wood previu corretamente que as empresas de tecnologia em rápido crescimento levariam o mundo (e os mercados financeiros) à recuperação. Ela concentrou os portfólios da Ark na Tesla e em outras opções importantes, incluindo a empresa de software educacional 2U e a plataforma imobiliária Zillow. Então, no final do verão do hemisfério norte, quando Tesla disparou, ela reduziu suas posses e construiu uma grande posição nas ações danificadas da Slack, plataforma proprietária de comunicação comercial.

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Com todas as inovações de sucesso, é claro, vêm os imitadores. As listas ETFs com temas apelativos proliferaram em toda Wall Street, desde animais de estimação a jogos de azar. As gigantes investidoras Dimensional Fund Advisors, Fidelity Investments e T. Rowe Price lançaram recentemente suas próprias listas de ETFs administradas ativamente.

Otimista por natureza, Wood oferece, no entanto, algumas previsões inquietantes para os próximos cinco anos. Ela espera que uma ampla faixa de grandes setores –bancos, energia, transporte, saúde– passe por uma disrupção por mudanças tecnológicas, com muitos trabalhadores sem cargos. O resultado, ela acredita, é que o crescimento econômico, a inflação e os índices de mercado amplos ficarão todos aquém de expectativas, oferecendo uma oportunidade para os gestores ativos escolherem os vencedores inovadores que continuarão a impulsionar os ganhos de capitalização de mercado.

“Acho que os benchmarks e os índices vão passar por um período terrível. Já estamos vendo isso”, diz ela. “Acreditamos que eles estão sendo cada vez mais povoados por armadilhas.”

E a investidora fundadora da Ark acha que o mercado está agora em uma bolha? Não. A incerteza sobre a pandemia e a eleição significa que o dinheiro está fluindo das ações para a segurança dos títulos, observa ela. “O fato de as pessoas estarem com medo agora de estarmos de volta ao S&P 500 negociando 25 vezes os lucros, me diz que não estamos em uma bolha.”

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