Lições corporativas do fracasso na criação da Superliga na Europa

22 de abril de 2021
Chloe Knott/ Getty Images

Turbulências em torno da tentativa de criar uma Superliga europeia abrem debate sobre geração de valor e perdas de longo prazo

Em círculos corporativos, as “partes interessadas” nos negócios, também conhecidas como stakeholders em inglês, estão na ponta da língua de todos. Há muito debate hoje em dia sobre o que o capitalismo de múltiplos interessados realmente é, como ele é alcançado e o que acontece quando as empresas falham em implementá-lo. Quanto a este último, os eventos desta semana no mundo dos esportes mostraram exatamente o que pode acontecer.

Os planos anunciados para uma Superliga do futebol europeu foram recebidos com indignação, baseada na impressão de que os proprietários dos clubes estão simplesmente tentando enriquecer em vez de levar em consideração seus milhões de interessados – neste caso, jogadores e funcionários do clube, outros clubes de segunda linha e, o mais importante, os torcedores.

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Certamente, a criação de uma liga entre os melhores clubes do mundo seria um lucro inesperado para todos que têm uma participação financeira neles, graças aos contratos de TV e ao aumento da receita com a nova competição. Por que, então, os proprietários e dirigentes dos clubes deveriam se preocupar com as outras partes envolvidas? Porque reconhecer os interesses das partes interessadas é fundamental para criar valor a longo prazo – e subestimá-los é uma maneira fácil de destruir a relação.

A composição da nova Superliga incluiria os atuais campeões da Premier League inglesa, da La Liga espanhola e da Série A italiana – juntos, os 12 clubes somam dezenas de títulos em nível nacional e internacional. Eles são os ativos mais importantes do mercado de futebol. Mas assim que a Superliga foi anunciada, rapidamente começou a entrar em colapso sob a pressão dos torcedores, jogadores e treinadores furiosos.

Qualquer negócio – e certamente no esporte profissional também – deve atender às necessidades de seus diversos públicos. Para a maioria das empresas, isso inclui clientes, funcionários, fornecedores, acionistas e suas comunidades locais. Para um clube de futebol, torcedores, jogadores, treinadores, imprensa, seu órgão regulador doméstico, a FIFA e assim por diante. Cada grupo tem suas próprias necessidades e contribuições distintas para o clube. O que os donos dos possíveis times da Superliga não perceberam é que atender a essas necessidades é essencial para o sucesso do clube tanto quanto é para o desempenho em campo.

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A falha final da Superliga foi presumir que mais receita resolveria todas as outras preocupações. Como Abraham Maslow descreveu na obra “Hierarquia das Necessidades”, uma pessoa pode alcançar sua “auto-atualização” atendendo primeiro a todas as necessidades humanas básicas – fisiológicas, de segurança, pertencimento e estima. O capitalismo com múltiplas partes interessadas funciona de maneira semelhante – vários interesses se combinam para tornar um negócio bem-sucedido. A empresa não precisa escolher entre a satisfação de acionistas ou das demais partes interessadas. Cumprir as responsabilidades com essas partes interessadas cria valor de longo prazo para os acionistas. Esquivar-se dessas responsabilidades, no entanto – mesmo que esteja dentro de seus direitos legais – pode destruir o valor de longo prazo e a reputação da empresa.

Esta lição pode ser aplicada à maioria das empresas. Considerar cuidadosamente as expectativas invisíveis em torno das empresas, reconhecer a gama de partes necessárias para o sucesso, levar em consideração o impacto do negócio na comunidade e considerar as prioridades das partes interessadas, mesmo com algumas despesas de curto prazo, são os elementos críticos de uma construção de valor sustentável para todas as partes principais.

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A Superliga é um exemplo claro do que pode dar errado quando há uma ênfase exagerada nos direitos de propriedade sem um reconhecimento das responsabilidades mais amplas e dos custos para as partes interessadas. O encanto de um sucesso de curto prazo pode ter custos de longo prazo, tanto financeiros quanto de reputação.

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