Aposta no venture debt ganha força entre startups brasileiras

8 de junho de 2021
GettyImages

Consolidado no exterior, modelo já foi utilizado para alavancar empresas como Airbnb, Facebook, Uber e Spotify

Os desafios de financiamento no universo das startups não são distintos daqueles enfrentados por inúmeros empreendedores, mas algumas soluções importadas do exterior têm contribuído para o desenvolvimento de empresas que apostam na tecnologia para criar produtos e serviços, como é o caso do venture debt, uma modalidade de financiamento com lastro (garantias) que tem avançado entre as startups brasileiras. Lá fora, Airbnb, Facebook, Uber e Spotify são algumas companhias que escalaram seus negócios dessa forma.

Gabriela Gonçalves, manager partner do Brasil Venture Debt, uma das primeiras gestoras a oferecer venture debt no país, afirma que existem dois momentos em que uma empresa pode recorrer ao financiamento. O primeiro deles é na alavancagem da sua própria rodada: “enquanto realizam uma captação de equity, os sócios podem escolher fazer um venture debt. Assim, captam o montante total necessário para entregar o business plan, mas se diluindo menos”. Por exemplo, caso seja levantado R$ 100 milhões, sendo R$ 30 milhões em debt, será preservado 30% do montante levantado.

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A segunda opção é utilizar o venture debt entre rodadas de investimentos. Com o montante levantado via debt, as startups conseguem apresentar resultados melhores, como crescimento de receita e valuation, que pode potencializar o montante captado em uma rodada futura. “Temos casos, no nosso portfólio, de empresas que mais que dobraram seu valuation”, afirma Gabriela.

O venture debt é um financiamento oferecido a empresas em estágio inicial, que não conseguem recorrer a empréstimos bancários ou captar grandes aportes financeiros. Os empréstimos são realizados com garantias ou compra de ações para compensar o risco de inadimplência. Nos EUA, o venture debt já é uma prática consolidada. De acordo com o Pitchbook, apenas em 2020 as startups ou empresas em estágio inicial arrecadaram US$ 25 bilhões via venture debt, ante US$ 5 bilhões há dez anos. A análise apontou ainda que o modelo de financiamento cresceu em ritmo mais rápido que o mercado de venture capital e private equity, pois se beneficiou do aumento da atividade de risco nos últimos anos.

Joao Zecchin, cofundador da Fuse Capital, gestora de um fundo híbrido em que 70% do capital é alocado em equity e 30% em debt, explica que um dos maiores diferenciais desse financiamento são os lastros. Em geral, as instituições financeiras pedem garantias reais ou e imóveis para a concessão de empréstimos – “algo que uma startup não tem”, diz Zecchin. No debt, os fundos lastreiam seu patrimônio por meio da cessão de outros instrumentos de crédito, como contratos não performados ou fluxo de recebíveis.

“No primeiro modelo, a gente analisa os contratos que a startup assina para confirmarmos se a empresa vai conseguir entregar conforme o prometido. Já no segundo, verificamos o montante que a empresa conquistou na venda de produtos e serviços”, justifica Zecchin. “Normalmente, a gente cobre três vezes a receita da startup.”

O banco digital mexicano Vexi encontrou no venture debt oferecido pela Fuse Capital uma saída para capitalizar a carteira de recebíveis, além de todos os novos desenvolvimentos tecnológicos, levantando US$ 300 mil. Já a Ambar, solução para eficiência na cadeia da construção civil, optou por se capitalizar com o Brazil Venture Debt, e destinou o montante (não informado) em tecnologia e crescimento. “Foi uma alternativa incrível para não diluir em um momento onde estávamos construindo um valor ainda não percebido para um eventual captação de equity. Além disso, o venture debt entende as empresas de tecnologia de forma bem mais holística do que um banco”, explica Bruno Balbinot, fundador da Ambar.

Do outro lado da moeda, Zecchin destaca que o investidor nesses fundos também obtém benefícios com o modelo, pois as empresas que recorrem ao financiamento já estão consolidadas em seus mercados. Segundo ele, “as chances de quebrar são mínimas” neste contexto: “normalmente são companhias de tecnologia, por consequência, possuem um alto crescimento, ou seja, o risco é muito menor e o retorno é maior, se comparado a outros fundos no mercado”, avalia. O retorno médio do fundo da Brasil Venture Debt é entre 20% e 25% ao ano, já no fundo da Fuse o percentual histórico fica em torno de 20% ao ano e é auferido em dólar, portanto a rentabilidade ainda pode variar de acordo com a cotação da moeda norte-americana.

O fundo da Brasil Venture Debt tem R$ 140 milhões em ativos sob gestão e sete empresas investidas, todas nacionais, como Kenoby, Smartmei e Legurmê. O fundo da Fuse Capital possui US$ 25 milhões sob gestão e seis investidas, sendo quatro no Brasil – como a W.Dental, odontotech voltada a ampliar o acesso à saúde bucal no Brasil -, além de outras duas no México, com tíquete médio de R$ 1 milhão. “A gente tem feito pouca coisa no Brasil porque o mercado brasileiro é extremamente arbitrado. Ou seja, é um mercado super competitivo, possui taxas muito baixas e já tem muita gente atuando aqui”, explica Zecchin.

Para o futuro, Gabriela diz que espera finalizar o investimento do fundo até o final de 2021 e captar um novo com as mesmas características. “Nós temos uma visão que este negócio será dominado pelas gestoras e também fará parte da realidade da grande maioria das startups”, avalia.

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