Outra medida sobre o comportamento de preços na economia brasileira é o IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), medido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), comumente identificado como a inflação do aluguel. Em 12 meses até setembro, o indicador acumula alta de 24,86%. Em 2020, o IGP-M fechou com o acumulado de 23,14%, e forçou muita negociação entre inquilinos e proprietários para a continuidade de contratos.
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O impacto da inflação de dois dígitos
Mas a inflação de dois dígitos reforça muito negativamente a expectativa para o movimento dos preços. “A inflação tem muito a ver com o clima de insegurança. Quando as pessoas acreditam que a inflação vai aumentar, agem em função disso e aumentam os preços”, afirma Rocha. E, diante de uma série de problemas enfrentados pelo Brasil atualmente, as perspectivas de crescimento econômico são colocadas em xeque.
Para Guilherme Cadanhotto, especialista em renda fixa da Spiti, a inflação alta é muito ruim para economia real, porque corrói o valor do dinheiro, e consequentemente diminui a expectativa de atividade econômica. “Os empresários tendem a ter menor recompensa financeira do que teriam por conta da incerteza e enxugam contratação, expansão, investimentos, infraestrutura. Por outro lado, as pessoas de menor renda que não têm acesso a instrumentos financeiros que protejam o dinheiro da inflação, perde seu poder de compra, o que também tira o potencial de consumo da população brasileira.”
O professor Keyler explica que o aumento na taxa de juros, no entanto, afeta as empresas, com custos maiores refletidos nos produtos. “Esse aumento desestimula a inflação futura, porque desestimula o crescimento econômico, então há uma perspectiva de retração pela frente, devido à alta de juros.”
Em resumo: “as soluções existem, mas elas são dolorosas”, resume o professor. A perspectiva para o próximo ano, porém, é que a inflação caia, se a alta dos juros for bem sucedida. Mas, ao mesmo tempo, isso deve provocar uma redução do crescimento das atividades econômicas.
Cadanhotto conta também que o impacto do aumento na taxa de juros leva de seis a nove meses para ser sentido na economia. “As últimas altas na taxa não buscam reduzir a inflação de 2021. Esta inflação já está dada. O BC tenta combater a alta nos preços de 2022 e 2023.”
Cenário em que a inflação se dá
O cenário causado pela pandemia do coronavírus no Brasil contribuiu e muito com o fôlego da inflação nos últimos meses. A isso, somou-se a crise político-institucional. Se a alta generalizada nos preços não é exclusividade o país neste momento, aqui ela tem crescido a passos largos, voltando a um patamar visto pela última vez em 2000.
O analista da Spiti explica a situação por meio de quatro fatores. O primeiro é global, mas exige voltar no tempo para 2020, quando fábricas no mundo todo fecharam, quebraram ou reduziram a produção por causa da pandemia.
O segundo fator mencionado por Cadanhotto é a desvalorização do real frente ao dólar e o consequente impacto nos produtos importados. O economista lembra que, no Brasil, a insegurança era muito grande no início da crise gerada pela pandemia da Covid-19. “Em momentos de aversão ao risco, os investidores tiram o dinheiro de países mais instáveis para realocar em lugares mais seguros, como os EUA e a Europa. Então houve uma desvalorização da moeda ante o dólar, e os produtos importados se tornaram mais caros, porque são pagos em moeda estrangeira.”
Outro fator levantado pelo analista é a quebra de safra, ou redução significativa no resultado de uma colheita, que aumentou os preços dos grãos e, consequentemente, dos alimentos vendidos e consumidos pela população.
Para completar o cenário, o Brasil passa por uma crise hídrica, com o esvaziamento dos reservatórios para a produção de energia hidrelétrica. Há, assim, a busca por outras fontes energéticas mais caras, como as usinas termelétricas, o que reforça a alta do preço da energia.
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