Com o avanço do uso do ativo em El Salvador – que adotou o bitcoin como moeda principal e registra dois milhões de CPFs inscritos no aplicativo do governo – e a aceitabilidade por empresas ao redor do mundo, comércios brasileiros também encontram no bitcoin uma estratégia para modernizar seus meios de pagamento. Mas o uso por parte dos clientes ainda é relatado como baixo.
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Devido à porcentagem pequena de pagamentos, o valor recebido em cripto pela Gelato não é convertido para reais. A empresa preferiu manter os pagamentos em bitcoin como reserva de emergência. “Na minha visão o risco é desproporcional. É um valor que não faz falta para o nosso fluxo de caixa e que pode se multiplicar muito, então vale a pena mantermos em BTC.”
Os sorvetes vendidos por Garbin custam em média R$ 30,00, bem longe da cotação do próprio bitcoin. A boa notícia é que as transações feitas com a criptomoedas podem chegar a seis casas decimais. Portanto, a estratégia utilizada pela sorveteria é manter o cardápio em reais e, durante o pagamento, o funcionário responsável pelo caixa converte o valor para BTC e a transação é feita pela plataforma Coinbase. “Nós olhamos a cotação desses bitcoins apenas uma vez por ano, mas desde 2019 a reserva já se valorizou bastante”, afirma Garbin.
Para negócios locais e com pouca aceitabilidade de criptomoedas, manter o bitcoin como reserva pode ser uma estratégia neste momento. Rodrigo Alvez, diretor financeiro do Nobile Plaza Hotel, em Brasília, comenta que a empresa também optou por manter os recebimentos do ativo sem convertê-lo.
A empresa também aceita outras criptomoedas, como Ethereum e Solana, mas nunca houve demanda para pagamentos com elas. Alves explica que as transferências em BTC são realizadas diretamente para a conta do hotel por meio da plataforma Kamoney. Porém, apesar da oferta permanecer no hotel, o diretor financeiro não acredita em um crescimento do uso do bitcoin como forma de pagamentos. “Me parece que investidores em BTC têm mais interesse em manter do que em gastar”, diz. O criptoativo também é o único investimento de risco elevado do hotel.
Para Ricardo Dantas, CEO da corretora de criptomoedas Foxbit, o oferecimento de bitcoin como forma de pagamento por estabelecimentos comerciais ainda é utilizado mais como estratégia publicitária do que para atender demanda reprimida dos consumidores. “O BTC está sendo cada vez mais falado, então há apelo de marketing em aceitar o ativo”, avalia. “Em empresas cujo ticket médio é elevado, a demanda por criptomoedas por parte dos clientes é mais forte”.
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A solução é voltada principalmente para o e-commerce, no qual o cliente recebe um QR Code para o pagamento com criptoativo. Dantas destaca a praticidade do pagamento com bitcoin para o comprador. Em imobiliárias e concessionárias, por exemplo, a compra pode superar o valor máximo de uma transação via PIX, cujo teto atualmente é de R$ 10 mil.
Em pagamentos maiores, o CEO sugere que uma parte seja mantida em reais para que a volatilidade da moeda digital não prejudique o balanço da empresa. A diminuição de taxas é outra vantagem. Em transações de R$ 100 milhões, por exemplo, Dantas estima que a taxa cobrada pelos mineradores de BTC – responsáveis por resolver os algoritmos e fazer com que as vendas e compras com os cripto ativos sejam realizadas – seja de R$ 5,00.
Ainda que existam soluções, a falta de procura pela forma de pagamento pode desanimar os empreendedores. A construtora Tecnisa, por exemplo, passou a aceitar bitcoin em 2017, mas não deu continuidade à tecnologia devido à baixa procura por parte dos clientes.
Segundo ele, alguns clientes entraram em contato interessados pelo pagamento com a moeda, mas nenhum deles residia em São Paulo, estado em que a clínica atende. “Acredito que ainda falta conhecimento e interesse por parte das pessoas. O mercado é muito restrito”, afirma.
A Cervejaria Dogma também decidiu adotar a criptomoeda em busca de modernidade. As unidades da rede começaram a aceitar bitcoin como pagamento no último dia 2 de novembro, mas apenas uma transação foi feita com o ativo desde então. “A empresa acredita que mais cedo ou mais tarde o BTC será aceito em todo o Brasil, então quisemos implantar o quanto antes”, explica o sócio Leonardo Satt.
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Para Tasso Lago, especialista em finanças corporativas e bitcoin, a volatilidade não é um problema para que o ativo cresça como meio de pagamento. Ele explica que a conversão pode ser realizada no momento da compra e a empresa pode imediatamente converter o valor para reais. “A maior barreira é cultural. As pessoas ainda não têm esse costume, mas a popularização do termo está cada vez mais forte”, aponta.
Lago acredita que a onda de valorização do bitcoin deve continuar até o início de 2022 e, então, a moeda pode sofrer correções de 30% a 50%. O especialista também enxerga com bons olhos crescimento nas transações de BTC do ponto de vista turístico, com consumidores brasileiros, por exemplo, viajando ao exterior e realizando pagamentos com a criptomoeda. “Além de ser mais prático, é mais barato, pois o consumidor paga pelo dólar comercial, não turístico.”