O gosto por exatas sempre correu na família de Luana. Seu pai é engenheiro eletricista e já trabalhou na IBM; sua mãe é professora de matemática, e sua irmã é formada em engenharia química e também mora nos Estados Unidos, onde desenvolve seu PhD. “Ela é minha irmã mais velha, então eu sempre a vi como uma inspiração”, diz a engenheira.
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“Mas o ballet também era algo que eu amava fazer”, diz. Em Joinville, ela ingressou na Escola do Teatro Bolshoi, única filial fora da Rússia. Até o final do ensino médio, Luana conta que o ballet foi o seu foco – ela dançou profissionalmente em Salzburgo, na Áustria, antes de trocar definitivamente as sapatilhas pela matemática.
“Eu sempre quis ser o melhor que eu poderia ser”, afirma. “Por isso, eu batalhei para dançar no Bolshoi, e depois decidi ir atrás das melhores universidades no mundo. Quando eu contei para os meus pais que esse era o meu plano, eles basicamente disseram, ‘Bem, deixa ela tentar, quem sabe dá certo’.”
Apesar de ter iniciado o processo de preparação para o ingresso nas universidades norte-americanas mais tarde do que o normal – em geral, isso ocorre no primeiro ano do ensino médio – Luana foi bem-sucedida. Além de ter sido aprovada no MIT, ela também foi aceita pelas universidades Harvard, Yale e Stanford. Foi em Massachusetts, porém, que ela encontrou a melhor oportunidade de se aperfeiçoar academicamente, acreditando que o instituto a “tiraria da zona de conforto”.
Foi também no MIT que Luana conheceu Tarek Mansour, de 25 anos, com quem mais tarde fundaria a Kalshi, em 2018. Em poucas palavras, a engenheira define a empresa como “um mercado onde os investidores compram e vendem contratos relacionados a eventos, em vez de ações ou criptomoedas.”
A plataforma permite que os usuários façam apostas sobre qualquer tópico, evento ou acontecimento global, como: “o Carnaval do Rio de 2022 será cancelado?” ou “a PEC dos precatórios vai ser promulgada pelo Congresso até o final de 2021?”. A única condição é que a pergunta permita apenas respostas diretas como “sim” e “não”. Investidores, então, podem comprar “contratos” da resposta que eles acreditem ser a correta, e ganhar ou perder dinheiro de acordo com o resultado real.
Para melhor ilustrar esse funcionamento, o site da Kalshi dá um exemplo: se você é um residente de Nova York e está interessado em saber se os valores dos aluguéis irão subir mês que vem, você pode investir nesse evento por meio da plataforma. Se você acha que os aluguéis vão subir, você pode comprar cem contratos “sim” por US$ 50 no mercado correspondente ao evento. No mês seguinte, caso forem publicados dados dizendo que os aluguéis de fato subiram, você recebe de volta US$ 100 pelo seu investimento.
“Geralmente, apenas grandes corporações têm exposição a eventos como esses. Vimos isso bastante no caso do Brexit, em que diversas empresas que tinham operações na Inglaterra queriam a oportunidade de especular sobre o que iria acontecer”, explica Luana, complementando que, embora o preço de ações seja influenciado por eventos globais, os investidores não têm exposição direta aos eventos em si.
A Kalshi se destaca por ser a primeira e única empresa regulada pela CFTC (Comissão de Negociação de Futuros de Commodities) dos Estados Unidos a oferecer produtos do tipo. Em fevereiro deste ano, a startup levantou US$ 30 milhões em uma série A liderada pela Sequoia Capital, com participação de Charles Schwab, da Charles Schwab Corporation, Henry Kravis, co-CEO da KKR, SV Angel e outros nomes que já tinham feito aportes na empresa, como Neo e YC Continuity.
Embora as operações estejam restritas aos EUA e o foco no momento seja ganhar espaço no mercado norte-americano, Luana diz que há planos de expandir para outros países, incluindo o Brasil. Desde o lançamento oficial, em julho deste ano, a plataforma movimentou US$ 10 milhões em apostas.
Luana conta que, quando morava no Brasil, a ideia de criar uma empresa ainda parecia distante. Essa percepção mudou, porém, quando ela ingressou no MIT. “A grande vantagem da universidade, para mim, não foram as aulas e as coisas que eu aprendi, apesar de elas terem sido excelentes. Foram as pessoas com as quais eu tive contato.”
A engenheira diz que se sentia inspirada por seus colegas e professores, muitos dos quais já colecionavam conquistas no meio acadêmico, e conta que foram eles quem incentivaram-na a iniciar sua própria jornada. Uma das dicas importantes que ela recebeu foi levar sua startup ao Y Combinator, uma aceleradora que foi responsável por investir em empresas como Dropbox, Airbnb e Reddit.
Luana lembra da insegurança que sentiu quando começou o processo de seleção para as universidades norte-americanas. Ela afirma que tinha receio que seu passado artístico não fosse levado em conta pelos recrutadores, ou que fosse visto como um ponto negativo de sua trajetória.
Luana, que estudou no MIT com uma bolsa de estudos da Fundação Estudar, conta que escolheu atuar na área de ciências exatas porque acreditava que encontraria mais oportunidades profissionais e que poderia fazer uma contribuição mais relevante à sociedade dessa maneira. Apesar de ter sido uma bailarina de destaque, ela considera que seu ponto forte é a matemática.
Sobre ter sido escolhida para integrar a lista Forbes 30 Under 30, que reúne líderes, empreendedores e inovadores com menos de 30 anos que mais se destacam em seus setores de atuação, a engenheira diz: “É uma honra ser reconhecida pelo nosso trabalho. É claro que a Kalshi ainda tem muita coisa pra fazer, mas, quando você ainda está no meio do caminho, um reconhecimento como esse é um grande incentivo.”