A alavancagem financeira, no mercado acionário, é uma estratégia que permite que um investidor potencialize os seus ganhos através da utilização de recursos de terceiros, multiplicando os retornos em dezenas de vezes. Por conta dos riscos dessa operação, porém, ela é indicada principalmente para investidores experientes e arrojados.
Como funciona a alavancagem?
Para que um investidor possa alavancar os seus investimentos, ele precisa pegar um “empréstimo” de um terceiro – geralmente, uma corretora ou banco, que disponibilizam linhas de crédito especiais para essas movimentações financeiras.
É dessa forma que o investidor irá multiplicar o seu aporte inicial em um determinado investimento e, consequentemente, multiplicar os seus ganhos. O limite para o valor do empréstimo é definido pela própria instituição: algumas o definem em cinco, outras em dez, e outras em até 40 vezes o aporte inicial.
“Imagine que você tem R$ 100,00 em conta. Para a ação PETR4 damos, por exemplo, 15 vezes de alavancagem. Dessa forma, com esses R$ 100,00, o cliente poderia comprar até R$ 1.500,00 de ações de PETR4, tendo a possibilidade de atingir ganhos maiores”, exemplifica Roberto Indech, vice-presidente de relações institucionais da Clear Corretora.
Nesse caso, se a ação PETR4 valorizar 3%, o investidor obterá ganhos de R$ 45,00, ao invés de R$ 3,00, como seria na situação original.
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O especialista destaca que é necessário disponibilizar uma margem de garantia que será utilizada pela instituição financeira em caso de perdas. A garantia pode ser em dinheiro ou em ativos financeiros, como ações de alta liquidez – nesse caso, o investidor deve considerar um possível deságio, que costuma ser de 20%.
“Caso o mercado vá contra a operação alavancada do cliente e os R$ 1.500,00 mil de PETR4 desvalorizem para R$ 1.400,00 mil, a operação do cliente poderá ser encerrada compulsoriamente pelo time de risco”, acrescenta Indech. “Isso acontece uma vez que o cliente perdeu os R$ 100,00 que ele havia colocado em garantia, nesse caso.”
O investidor tem a obrigação de devolver à instituição financeira o montante que ele pegou como empréstimo de acordo com o prazo acordado, que costuma ser no final do pregão. Se isso não ocorrer, há incidência de juros.
Tipos de alavancagem
Existem três modalidades de operações financeiras em que a alavancagem costuma ser utilizada:
Day trade: o objetivo dessa modalidade é obter lucros a curtíssimo prazo, em um mesmo pregão, ganhando com as pequenas oscilações diárias nos preços dos ativos. A alavancagem, nesse caso, ajuda a transformar as pequenas oscilações positivas em ganhos um pouco mais expressivos.
Mercado futuro: nessa modalidade, o investidor negocia contratos futuros de commodities, índices ou moedas, por exemplo, ao invés de ações, visando ganhar com a valorização ou desvalorização em uma data futura. Em geral, o limite de alavancagem oferecido para essas operações é maior do que para o day trade.
“Em um contrato de dólar futuro, por exemplo, você coloca R$ 150,00 de garantia na corretora e consegue operar um contrato de mini dólar que vale US$ 10 mil (R$ 47 mil). Isso dá uma alavancagem de 330 vezes”, explica Felipe Vella, analista de renda variável da Ativa Investimentos.
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Venda a descoberto: o objetivo desse tipo de operação, também conhecida como “short selling”, é ganhar com a queda de um ativo. O investidor aluga as ações que acredita que irão cair e as vende pelo preço atual. Então, se a queda se concretizar, o investidor recompra os papéis por um preço menor para devolvê-las ao doador, lucrando com a diferença.
A alavancagem, nesse caso, ajuda a aumentar o volume da negociação.
Riscos e vantagens
A alavancagem financeira é uma estratégia considerada arriscada e não foge à regra geral: quanto maiores as possibilidades de rendimento, maiores os riscos. Assim, da mesma forma que essa operação pode multiplicar os ganhos de um investidor, ela também pode multiplicar as perdas.
“Dependendo do tamanho do prejuízo gerado, é até possível que o investidor chegue a uma situação de insolvência e tenha que entregar todos ativos que possui em carteira. Ou, no jargão do mercado, ele pode ‘quebrar’”, comenta Felipe Ruiz, sócio do AGF (Ações Garantem Futuro).
Indech, porém, lembra que atualmente as corretoras possuem uma ferramenta chamada “stop loss”, que encerra as posições de um investidor automaticamente quando a operação atinge o limite de perdas máximas definido pelo próprio cliente.
Ainda assim, a alavancagem é indicada apenas para investidores arrojados e que tenham anos de experiência no mercado acionário. Isso porque, como é uma estratégia de alto risco, é mandatório que ele tenha pleno conhecimento do seu funcionamento na prática e ciência do risco que está correndo.
Como brinca Vella, “o investidor iniciante só faz conta para frente, e esquece de avaliar as perdas.”
Ruiz aponta que, para diminuir a dor de cabeça, é fundamental estabelecer um baixo grau de exposição do patrimônio à alavancagem, para que as perdas possam ser suportadas. Mas para quem está disposto a correr os riscos, a alavancagem financeira é uma das principais maneiras de atingir rentabilidades que, de outra forma, seriam inalcançáveis.