A ideia no “cancelamento financeiro” dos bilionários russos era de que eles fossem chorar as pitangas a Putin e pedir a ele que colocasse fim aos ataques contra os ucranianos, além, é claro, de impedir que o dinheiro deles continuasse a financiar as loucuras do czar das bombas.
Leia mais: Os Dylans digitais
“O homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio.” (Nicolau Maquiavel)
A frase de Maquiavel em destaque encapsula bem o sentimento de que o dinheiro move o homem – ainda que seja mais fácil prever o tempo por meses a fio do que interpretar a tempestuosa cabeça de Putin.
Dá até para imaginar o que o repressor russo tenha dito aos seus parças, além de algumas ameaças: “A riqueza não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades”. E, em seguida, deve ter soltado um “não me venham com chorumelas.”
Longe de querer fazer piada com um assunto tão sério (a destruição de um país soberano em meio a um banho de sangue), o fato é que esse bloqueio de bens privados, nunca feito antes nessas proporções, estabelece uma nova forma de pressão para inibir aventuras expansionistas futuras à base da força.
Sugiro até que a praça da Liberdade, em Kiev, em que se destaca a imagem de São Miguel, o anjo guerreiro, se torne o símbolo de uma nova postura econômica global contra golpes descabidos e o financiamento de ditaduras.
Sim, o Ocidente rico que se fingia sonâmbulo quando cobrado por financiar regimes autocráticos será moralmente (ou na marra?) obrigado a estabelecer um modelo de compliance a partir da guerra de Moscou contra a Ucrânia.
Vale destacar a atitude das empresas de tecnologia e plataformas digitais, como o Facebook e o TikTok, que bloquearam o acesso às fontes de notícias apoiadas por Moscou, e a Microsoft, que bloqueou downloads de seus aplicativos e o conteúdo da agência Sputnik no MSN. Somam-se ainda as inúmeras empresas estrangeiras que interromperam suas atividades no país de Putin.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Artigo publicado na edição 94, de março de 2022.