O levantamento ouviu 381 mulheres usuárias de internet no Brasil para analisar suas percepções sobre como os casos de assédio são detectados e tratados. Uma das constatações é que uma em cada seis vítimas pede demissão do trabalho após vivenciar uma situação do tipo. Outro dado alarmante: quase metade das mulheres ouvidas já sofreu assédio sexual. E 47,12% delas revelaram que isso aconteceu no ambiente de trabalho. Deste universo, a maioria é formada por mulheres negras (52%) e mulheres que recebem entre dois e seis salários mínimos (49%). Além disso, o Norte (63%) e Centro-Oeste (55%) têm uma concentração de relatos superior às demais regiões.
Os dados econômicos são coerentes com o resultado de perfis profissionais que mais apareceram na pesquisa. A maioria afirmou ocupar cargos de assistente (32,5%), posição pleno ou sênior (18,6%), estagiária (18,1%) e posições júnior (13,4%). Mulheres em cargos de direção representam o menor número, com 2,4%.
Apesar deste cenário, a pesquisa concluiu que as mulheres estão cada vez mais dispostas a falar sobre o tema. Elas o conhecem e sabem do que se trata. Do total de entrevistadas, 51,4% disseram conversar frequentemente sobre o assunto e 95,3% afirmaram saber o que é assédio sexual no ambiente de trabalho. Apenas 0,3% das mulheres ouvidas disseram desconhecer o fato. A renda familiar tem uma influência neste aspecto. Quanto maior o rendimento, maior a frequência com que as discussões relativas a esta pauta acontecem.
Das ações mais associadas a esse tipo de abuso, o estudo apontou a solicitação de favores sexuais (92%), contato físico não solicitado (91%) e abuso sexual (60%). Portanto, ao mesmo tempo em que as mulheres conversam mais sobre o assunto, existe um desconhecimento sobre as melhores formas de identificar situações de assédio sexual. Esse contexto aparece quando 10% das entrevistadas dizem não saber se já passaram por algum episódio de assédio, assim como outras 10% não sabem identificar situações correlatas em seus ambientes de trabalho.
MERCADO DE TRABALHO E ATUAÇÃO DO RH
Com a pandemia, a situação se agravou. Um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), indicou que a participação das mulheres no mercado de trabalho é a menor em 30 anos. Isso significa que o risco de perder o trabalho e entrar para as estatísticas de 13 milhões de desempregados contribui para o silenciamento e aceitação dos episódios de violência. A pesquisa revelou que 60% não denunciam por medo de serem demitidas.
E isso se reflete nas condições atuais da força de trabalho feminina. Entre as mulheres entrevistadas, 35% sentem constante medo e dificuldade; 32% desânimo e cansaço; 30% diminuição da autoconfiança; 28% sintomas de ansiedade e/ou depressão; 23% afastamento dos colegas de trabalho; e 22% diminuição da autoestima.
Outra conclusão do estudo é que apenas 5% das mulheres ouvidas recorrem ao RH da empresa onde trabalham. Mudar este caminho é o maior desafio para evitar que mais profissionais afastem-se dos seus objetivos. Para 78,4% das respondentes, a impunidade é a maior barreira para a denúncia, seguida de políticas ineficientes (63,8%) e medo (63,8%). A sensação de impotência faz com que o silêncio e a solidão sejam os resultados mais recorrentes. Metade delas prefere dividir o ocorrido apenas com pessoas próximas; 33% não fazem nada e 14,7% optam pela demissão.
ASSÉDIO NAS REDES
Para reforçar os resultados, o LinkedIn – a principal rede social usada para fins profissionais – aplicou um questionário dentro da própria plataforma. No total, 1.600 pessoas participaram da pesquisa, cujo foco era analisar como as usuárias são atingidas por casos de assédio sexual nas redes sociais.
Numa escala de vulnerabilidade de 1 a 5, sendo 5 mais vulnerável e 1 menos, o LinkedIn recebeu uma nota média de 2,32. As redes com maior possibilidade de sofrer assédio sexual, segundo as participantes, são o Facebook (4,13), Instagram (4,12), WhatsApp (4,08) e Twitter (3,29). O fato de o LinkedIn ser a rede em que as pessoas se sentem menos vulneráveis pode estar relacionado ao fato desse ser um espaço mais ligado ao ambiente profissional e, por isso, estar associado a um comportamento que carrega estes valores.
AMBIENTE SEGURO
A pesquisa serviu de subsídio para a criação de um projeto de promoção de um ambiente de trabalho seguro para as mulheres – dentro e fora da internet. A iniciativa das empresas, batizada de “Trabalho sem Assédio”, orienta como identificar casos no ambiente de trabalho.
“Mais do que falar, queremos trazer a discussão para um nível de consciência e de quebra de um mercado profissional que pouco age em casos de denúncia. Temos como objetivo chamar lideranças empresariais e vozes relevantes nas redes sociais a assumirem um compromisso público e aberto de combate ao assédio no ambiente de trabalho, conclamando para a adoção de ações preventivas de contenção e proporcionando, assim, um ambiente mais seguro”, afirma Ana Plihal, executiva de soluções de talentos e líder do Comitê de Mulheres do LinkedIn Brasil.
Outras ações incluem a implementação de um novo ciclo de feedbacks para as usuárias que denunciam conteúdo impróprio, informando-as sobre as medidas que foram tomadas em relação à sua denúncia, além da criação de campanhas educacionais recorrentes.
A campanha de educação conta ainda com o lançamento de um vídeo para demonstrar quais comportamentos não são considerados profissionais e também peças online que mostram como denunciar. O LinkedIn apresenta em sua ferramenta de denúncia uma opção dedicada ao registro de assédios como meio de garantir a segurança e privacidade dos usuários contra comportamentos indesejáveis.
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