Desde 2014 na Coca-Cola Brasil, onde entrou atuando na área de finanças, Debora Mattos passou por funções importantes na companhia. Uma delas foi a de líder do staff da presidência, onde ficou por mais de um ano até assumir, em janeiro deste 2022, a gerência regional de Chile, Bolívia e Paraguai. Em entrevista à Forbes Brasil, Debora fala sobre sua trajetória e o papel da inovação na cultura corporativa. “Acredito que inovar é fundamental e essencial para o crescimento de qualquer empresa, especialmente porque os consumidores mudam com o tempo e com a chegada de novas tecnologias. O padrão de consumo vai mudando e as empresas devem ficar sempre muito atentas para atender e resolver a novas demandas e tensões que surgem na vida dos consumidores”, diz Debora.
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Desafios e aprendizados
“Hoje, nosso maior desafio é continuar com o crescimento sustentável, manter a força do portfólio e continuar impactando positivamente a sociedade. No ponto da inovação, o que vejo como maior desafio é o caminho para enraizar esse conceito dentro da organização. É muito fácil falar que existe uma área de inovação, mas para inovar é essencial que aconteça uma mudança de mentalidade completa. Esse é um enorme desafio. As empresas precisam cada vez mais fomentar que funcionários e parceiros tenham liberdade para criar, pensar diferente e trazer ideias. É sobre como a gente muda totalmente a forma de trabalhar e de pensar para aterrissar e enraizar o conceito de inovação. Gosto muito de ter uma visão 360° justamente para entender cada vez melhor o negócio como um todo, então é um processo contínuo de aprendizado. E para ter um conhecimento completo do negócio, também é fundamental desenvolver um ótimo relacionamento com as pessoas, ser colaborativo. Além disso, eu sigo levando comigo o aprendizado todo da agenda de diversidade de gênero e de raça, para esses três países.”
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Perspectivas da liderança regional
“Um país como o Chile, por exemplo, tem questões de sustentabilidade desenvolvidas, o que nos ajuda como empresa a repensar também as ações na América Latina em termos de inovação. Estamos desenvolvendo no mercado chileno a garrafa virtual, uma plataforma digital que transforma embalagens retornáveis vazias em QR codes que podem ser acumulados e trocados pelo consumidor por garrafas cheias. Iniciativas como os coletores da marca Vital, presentes em toda a Bolívia, e o projeto Mi Barrio sin Residuos, de coleta domiciliar no Paraguai, nos dão a dimensão de como é importante estar conectado com as demandas de cada país para conseguir impactar a agenda de transformação. Um outro ponto importante é como seguimos da mesma forma com nossos grandes clientes, fazendo parcerias duradouras, mas também suportando o pequeno empreendedor e focando no desenvolvimento econômico e social da região.”
Cultura da inovação
“Acredito que inovação é fundamental e essencial para o crescimento de qualquer empresa, especialmente porque os consumidores mudam com o tempo e com a chegada de novas tecnologias. O padrão de consumo vai mudando e as empresas devem ficar sempre muito atentas para atender e resolver a novas demandas e tensões que surgem na vida dos consumidores. E vai além do consumidor, são todas as pessoas, afinal, o consumidor é uma pessoa, o funcionário é uma pessoa, o dono do ponto de venda é uma pessoa e a vida dessas pessoas muda. Além de colocar a pessoa no centro, e desenvolver produtos e serviços que resolvam a vida do consumidor – e por isso a inovação é importante – é essencial a mudança de mentalidade para a transformação digital. O que eu levo para minha posição, além de estar aberta à inovação, é essa forma de pensar diferente, ter segurança e confiança entre a equipe e tendo diversidade de pensamentos. Cada um traz sua história, seus contextos, e pode apontar diferentes pontos de vista e opiniões para soluções de inovação, problemas ou tensões.”
Comunicação local
“Temos o mesmo foco independentemente se no Brasil ou em outras regiões: a inovação e a transformação digital passam pela diversidade de pensamento, pelo estímulo a novas soluções trazidas no diálogo constante com as pessoas. Sabemos que o consumidor vem ganhando mais poder sobre suas escolhas; dá mais importância a quem tem propósito; e valoriza a sua vizinhança, o comércio próximo, dele e de sua família. É com esse consumidor com que estamos dialogando, e diálogo não se faz sem ouvir, sem troca. A nossa interação, proximidade com esses mercados, a capilaridade que temos nos coloca numa posição privilegiada para essa conversa um a um, no interior andino, nas praias chilenas, nos grandes supermercados e nas pequenas tendas paraguaias.”
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Aprendizados de gestão e liderança
“O que eu aprendi nesse caminho, como uma líder mulher e negra, e acho superimportante ratificar essas transversalidades, além de resiliência é a coragem. Sempre falo de um livro da Brené Brown que tem o discurso do presidente americano Theodore Roosevelt sobre o homem na arena, o crédito é daquela pessoa que está com o rosto sujo de sangue, suor e lágrimas. Acredito muito nisso. O crédito é realmente dessa pessoa que faz acontecer, mas às vezes vai errar e às vezes vai acertar grandiosamente. É só tentando que se acerta, que se aprende. A questão é ter coragem de tomar riscos, (calculáveis, obviamente) e de estar aberto a falhas, ao fracasso, para também estar aberto ao sucesso e ao êxito. Isso, para mim é muito forte e essencial na carreira. Além disso, é essa sensação do coletivo, de quem eu represento, que não estou sozinha, que em todos os lugares em que estou tenho o papel de abrir caminhos e as portas para outros e outras iguais. Um pensamento no qual tenho buscado evoluir, claro que ligado às questões de gênero e raça que me atravessam, tem relação com a autenticidade de conseguir fazer com que as pessoas se sintam à vontade do jeito que elas são. A partir daí é que se cria esse ambiente de confiança, em que todos evoluem como profissionais e pessoas.”