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O que diferencia a sorveteria está na origem matéria-prima usada. As frutas, cacau, iogurte e outros produtos que Makinde usa em sua fábrica iriam para o lixo se não fossem processados por ela. “As bananas são descartadas por não estarem dentro dos padrões exigidos por supermercados ou restaurantes, mas estão maduras e perfeitas para serem consumidas.”
Visto negado levou à Irlanda
Giselle Makinde chegou na Irlanda em 2018 querendo uma mudança de vida, depois de trabalhar como chef de cozinha em restaurantes brasileiros e de empreender com uma agência de viagens. “Queria viver de um jeito diferente, então resolvemos – eu e meu marido, ir para o Canadá estudar”, conta.
Com esse plano, o casal vendeu móveis, carro, alugou a casa e mudou-se com o filho para a casa de parentes enquanto faziam os últimos arranjos antes de deixar o Brasil. Na última hora, no entanto, o visto para o Canadá foi negado. “Não sabia o que fazer, perdi o chão, mas em vez de me desesperar, entrei no Google e procurei os países de língua inglesa que recebiam brasileiros”, diz a empreendedora.
Nessa busca, descobriu que a Irlanda tinha falta de chefs de cozinha e decidiu que o país seria a nova moradia da família. Em poucas semanas, ela estava embarcando para Dublin.“Decidi que iria antes do meu filho e do meu marido e conseguiria um emprego até organizar tudo para recebê-los”, conta. A família só pode se unir novamente oito meses depois.
Vida de estudante
Aos 39 anos, Giselle passou dois meses dividindo uma residência para estudantes com outros nove jovens e conseguiu emprego em um restaurante. Um dia, ao preparar um bolo de banana para servir aos clientes, foi pedir ao fornecedor frutas mais maduras do que as que recebia normalmente. “No dia seguinte, ele me trouxe uma caixa cheia e disse que não iria me cobrar pois as bananas estavam pintadinhas demais e os restaurantes não aceitariam.”
A chef se deu conta da quantidade de alimentos de boa qualidade que vão para o lixo. “Descobri que são mais de dois bilhões de toneladas de comida descartada por ano, o que foi uma mudança de chave para mim”, diz. Percebeu também que os alimentos mais difíceis de aproveitar são as frutas, descartadas por estarem maduras demais ou com pequenos “machucados” e foi atrás de produtores e distribuidores. “Imaginei que poderia congelar essas frutas e, enquanto pensava no que fazer, usá-las em sorvetes.”
Era o início do isolamento por conta da pandemia de Covid e Giselle aproveitou a oferta de cursos online para aprender a fabricar o sorvete no estilo italiano. “Com dor de barriga, juntei nove mil euros, comprei minha primeira máquina e passei a produzir em um quartinho em casa”, diz. Logo a Cream of the Crop expandiu e ganhou fornecedores que ficam felizes em doar o que antes ia para o lixo, desde iogurte, aparas de bolo e cacau até algas marinhas.
A quantidade de frutas que recebe é tão grande que ela comprou novas máquinas e lançou seu segundo produto: cubos de banana passa cobertos de chocolate. “Agora, estou estudando como usar a casca da banana, que é 40% do volume, para produzir farinha”, diz a empresária, que começa também a desenvolver embalagens retornáveis. “Quero que a empresa tenha o mínimo de desperdício possível em todas as etapas.”
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