Minha jornada: "Não limito minha carreira ao job description"

15 de setembro de 2022

A executiva fez carreira em RH e foi uma das responsáveis por preparar o público interno e externo para o IPO da Decolar, em 2017

No ano passado, Josefina Schaer liderou o primeiro relatório de sustentabilidade e impacto social do grupo Despegar, empresa de origem argentina que controla a Decolar no Brasil tem também escritórios no México, Chile, Uruguai, Colômbia, Peru e Chile, mas atua em 20 países da América Latina ao todo. Como diretora de relações institucionais , cuidou do terreno interno – e externo – para que a empresa fizesse seu IPO, em 2017, quando a Despegar levantou US$ 332 milhões (R$ 1,7 bilhão) na bolsa de valores de NY.

Apesar de ter sido contratada para atuar no departamento de recursos humanos da empresa em 2015, as habilidades de Schaer com pessoas foram logo requeridas para que ela estivesse à frente das relações institucionais, o que inclui investidores, fornecedores e outros stakeholders. Em 2017, ela assumiu a nova área. “Era um momento importante, pois tínhamos alguns meses para preparar a abertura de capital e cuidar da cultura e do engajamento interno, mas também das relações externas.”

A executiva está hoje em um lugar que não imaginava quando entrou na faculdade de sociologia, há pouco mais de 15 anos. “O papel que desempenho hoje é algo que está sendo criado à medida que entendemos o que é necessário fazer, então não vejo um teto ou um job description. Posso ir por lugares que não foram estabelecidos.”

Essa transição de carreira (antes ela havia feito carreira no RH da consultoria Accenture), deu estofo e clareza para que Schaer entendesse melhor as pessoas e a comunicar. “Minha experiência me deu clareza para traduzir para dentro da empresa o que acontece fora dela”, diz. Ao mesmo tempo que trouxe espaço e aprendizados, essa exposição para além das paredes do escritório exigiu que desenvolvesse habilidades que não tinha. “Tive que trabalhar minha personalidade porque sou mais introvertida e tímida e hoje tenho que aparecer em eventos e me relacionar com muito mais gente, principalmente fora da companhia.”

Nessa trajetória, a executiva aprendeu também a lidar com os problemas que atingem a carreira feminina em quase todos os mercados. “Aos poucos a gente percebe que temos menos tempo para falar, então temos que ser mais rápidas e objetivas. Temos que dar mais explicações, então precisamos nos preparar mais. Até mesmo a maneira como nos vestimos tem que ser mais cuidadosa.”

Para que as próximas gerações de mulheres possam ser menos afetadas por esses preconceitos, uma das suas bandeiras é investir na formação de meninas em tecnologia. “Hoje precisamos de mais mulheres na base da empresa para que elas possam chegar à liderança um dia, então temos uma parceria com um programa que leva meninas do ensino médio para incentivá-las a vir para o mercado de tecnologia.”

Ainda que a Despegar tenha hoje 44% de mulheres em seu quadro, quando se chega na gerência sênior esse percentual cai para 25%. Entre os country managers dos escritórios em cada país, há uma mulher à frente de Argentina e Uruguai e outra que lidera o escritório responsável por Peru e Chile. As duas maiores operações, México e Brasil, são lideradas por homens.

Hoje ela está também à frente também da área de sustentabilidade, com olhar para ESG. Entre as ações para trazer mais mulheres para a alta liderança e para a companhia como um todo, foram implementadas alguns benefícios, como a licença de cinco meses para o cuidador principal da criança e de um mês para o secundário (seja o pai ou a mãe). “Estamos tirando um retrato do impacto social da empresa para entender o que podemos mudar para conseguir mais igualdade.”

Turning point 
“Assumir a área de relações institucionais foi muito divertido e também muito cansativo. Tive que mudar minha personalidade e meu jeito de pensar.”

Quem me apóia
“Meu marido é um grande apoiador, além de me desafiar profissionalmente. No trabalho, eu busco criar equipes com pessoas muito experientes em suas áreas e que saibam mais do que eu no nicho em que atuam.”

Primeiro cargo de liderança
“No RH da Accenture, uma empresa com milhares de funcionários no mundo e que me mostrou como era importante lidar com dados.”

Causa que abraço
“Hoje quero entender o impacto social e ambiental da empresa para traçar metas e liderar mudanças.”

Onde quero chegar
“Não vejo um teto ou um job description para o que faço hoje. Acho que estou construindo esse futuro à medida que vamos realizando e entendendo o que é importante.”

 

Quinzenalmente, a coluna Minha jornada conta histórias de profissionais que conquistaram espaço em seus mercados e áreas de atuação.