Mulheres ainda são pouco representadas por trás das câmeras, diz estudo

10 de janeiro de 2023
Getty Images/Gareth Cattermole

Chinonye Chukwu foi a diretora do filme “Till – a busca por justiça”, um dos longas que tiveram diretoras entre os 250 que mais arrecadaram

A presença de mulheres nos filmes que mais arrecadaram nas bilheterias em 2022 continua baixa, mostra um novo estudo. A representatividade de mulheres entre compositores, roteiristas, diretores e cinegrafistas trabalhando por trás das câmeras nos filmes que assistimos no último ano aumentou pouco nos últimos 25 anos.

Em 2022, as mulheres eram 22% dos diretores, roteiristas, produtores, editores e cinegrafistas trabalhando nos 250 filmes de maior bilheteria, porcentagem 1% mais baixa em relação ao ano anterior. O relatório que afirma isso tem acompanhado o emprego de mulheres nos 250 filmes que mais arrecadaram nos últimos 25 anos. “Tendo monitorado os créditos de filmes ao longo de um quarto de século, o projeto nos dá os registros mais longos e compreensíveis que temos a respeito do emprego de mulheres por trás das câmeras”, afirma Martha Lauzen, autora da pesquisa e diretora-executiva do Centro de Estudos de Mulher na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego. O estudo deste ano examina o emprego de mulheres nos filmes mais populares de 2022 com a análise de mais de 2,8 mil créditos.

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De acordo com a pesquisa, as mulheres são somente 7% dos cinegrafistas trabalhando nos 250 filmes que mais arrecadaram no último ano. Isso é somente 3% a mais do que em 1998, quando Lauzen começou a juntar esses dados. O número de editoras também não subiu muito, aumentando de 20% em 1998 a 21% em 2022. Igualmente, as porcentagens de mulheres não eram tão maiores em outros cargos, compondo somente 19% dos roteiristas, 25% dos produtores executivos e 31% dos produtores em 2022.

Em relação aos 100 filmes que mais arrecadaram no último ano, os números eram similares, com mulheres se saindo melhor como produtoras (28%), editoras (18%), roteiristas (17%), diretoras (11%) e cinegrafistas (8%). Somente 9% dos compositores desses 100 filmes eram mulheres.

“Dado ao número de debates, relatórios de pesquisa e anotações direcionadas a essa questão pelas últimas duas décadas e meia, deveríamos esperar por crescimentos maiores”, diz Lauzen. “Esse foi o resultado de 25 anos de reivindicações, pesquisas e investigações da Comissão de Igualdade no Trabalho dos EUA para dobrar o número de diretoras de 9% para 18% – e mulheres ainda são pouco representadas nessa posição. Somente consigo imaginar que levará a mesma quantidade de esforço para aumentar o número de mulheres trabalhando nos outros cargos, como cinegrafistas e editoras.”

A investigação na Comissão de Igualdade no Trabalho dos EUA descobriu que grandes estúdios de Hollywood eram sistematicamente discriminadores com diretoras. Segundo os relatórios do caso, todos os seis maiores estúdios de cinema iniciaram conversas de negociação com a Comissão a respeito de acusações de práticas sexistas de contratação. 

Não é uma falta de interesse que explica a pouca quantidade de mulheres por trás das câmeras. Maria Giese, uma das diretoras que requereu a investigação conta que quando ela entrou no programa de pós-graduação de direção da UCLA em 1995, mulheres representavam metade da sua classe. Claramente, o interesse está ali. “Homens tinham dirigido quase 100% dos filmes que estudamos”, ela diz.

Talento também não explica a discrepância de gênero nos postos de direção, uma vez que pesquisas indicam que filmes dirigidos por mulheres são igualmente aclamados pela crítica em relação àqueles dirigidos por homens.

A boa notícia, se há alguma, é que mulheres em cargos de chefia podem estar ajudando a trazer mais mulheres para a indústria. Os 250 filmes mais populares com pelo menos uma diretora empregaram substancialmente mais mulheres do que aqueles somente com diretores homens. Por exemplo, em filmes com pelo menos uma diretora, eram mulheres 53% dos roteiristas mas, em filmes só com diretores homens, elas eram meros 12%.

Essa tendência se repete para outras posições também: 39% dos editores eram mulheres em filmes dirigidos por mulheres, mas esse número caía para 19% sob a direção de homens. Da mesma forma, 19% dos cinegrafistas eram mulheres em filmes com diretoras, mas somente 4% desses cinegrafistas eram mulheres naqueles filmes dirigidos por homens.

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Ter mais mulheres diretoras é a resposta para conseguirmos mais mulheres por trás das câmeras. Entretanto, outro novo estudo que examinou os 1,6 mil filmes mais populares de 2007 a 2022 concluiu que o progresso tem estagnado para as diretoras. A situação é ainda pior para mulheres não brancas na direção. No total, 80% dos diretores são homens brancos, 14% são homens de grupos socialmente menos representados, 4% são mulheres brancas e somente 1% é de mulheres de grupos sociais minoritários.

Para aqueles que querem apoiar filmes dirigidos por mulheres, os filmes que mais arrecadaram em 2022 com diretoras incluem os seguintes:

  • “Um lugar bem longe daqui”, por Olivia Newman
  • “A mulher rei”, dirigido por Gina Prince-Bythewood
  • “Não se preocupe, querida”, dirigido por Oliva Wilde
  • “Convite Maldito”, por Jessica M. Thompson
  • “Case Comigo”, por Kat Coiro
  • “Luta pela fé – a história do Padre Stu”, por Rosalind Ross
  • “Morte, morte, morte”, por Halina Reijn
  • “I wanna dance with somebody – a história de Whitney Houston, por Kasi Lemmons
  • “Till – a busca por justiça”, por Chinonye Chukwu
  • “Ela disse”, por Maria Schrader.