A trajetória revolucionária de Rita Lee em 5 momentos

10 de maio de 2023
Rui M. Leal/Getty Images

Rita Lee, roqueira, revolucionária, questionadora, exalava o espírito do seu tempo

As manhãs do ano de 1980 ganharam um ar mais contemporâneo com um novo programa que surgia, voltado para o público feminino. Apresentado por Marília Gabriela, tinha um quadro com a então sexóloga Marta Suplicy que, logo de cara, gerou protestos da Liga das Senhoras Católicas ao falar de orgasmo feminino no ar.

O tema de abertura do programa tinha a ver com os questionamentos que o feminismo  começava a despertar na sociedade: era Rita Lee cantando “Cor de Rosa Choque”. A música, composta especialmente para o TV Mulher, só foi liberada pela censura em 1982, depois de algumas mudanças. Os censores criticaram a referência ao ciclo menstrual (“mulher é bicho esquisito / todo mês sangra”) como algo que poderia gerar indagações nas crianças antes do tempo adequado. 

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Falar de menstruação quando isso era um enorme tabu, fazer letras sobre sexo ou críticas à polícia em plena ditadura militar foi, em partes, o que fez com que Rita Lee se destacasse no cenário rico da MPB e do rock dos anos 70 e 80. Rita trazia um algo mais. Para além de uma voz e interpretações impecáveis, como era o caso de cantoras que dominavam a época, como Elis Regina e Gal Costa, ela tinha o espírito do seu tempo: roqueira, revolucionária, questionadora. 

Além disso, Rita tinha algo único pois compunha as próprias músicas, ao lado do marido, Roberto de Carvalho, seu companheiro até a morte, com referências ao momento político e social brasileiro e ao seu cotidiano. O casal eternizou um dos primeiros encontros em “Mania de Você”.

Veja momentos que mostram a construção de carreira única de Rita Lee:

1. Profissional com várias facetas 1. Profissional com várias facetas Rita Lee era cantora, compositora, tocava vários instrumentos, escreveu sua biografia e livros infantis. Ela não se prendia a apenas uma profissão e estendeu sua capacidade e talento a diversas áreas. A coleção de livros infantis “Dr. Alex”, publicada primeiro em 1983, foi relançada em 2019 e 2020 e foca na luta da cantora nas causas animal e ambiental. Ela também escreveu o livro infantil “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz”.more
2. Criatividade como marca Rita criou um jeito diferente de cantar, que até Elis Regina imitou em Alô, Marciano, sucesso na voz da cantora e composta por Rita e Roberto. Quase tudo o que fazia tinha uma marca registrada. Seus figurinos, em boa parte criados por ela e o cabelo vermelho que teve vários tons ao longo da carreira eram algumas dessas marcas.more
3. Pioneirismo Temas que eram tabu na época em que ela surgiu no cenário da música, como sexo, drogas e menstruação, viraram algumas das músicas mais tocadas nos rádios. Lança Perfume, Mania de Você e Cor de Rosa Choque trazem esses temas.more
4. Ativismo Ela era feminista nas músicas e na postura, mas não se declarava assim. "Nunca carreguei bandeira de feminismo. Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não. Sou do tempo em que o feminismo era queimar sutiã no meio da rua, e eu nunca tive peito suficiente para sequer usar sutiã. Talvez eu seja uma feminista gauche."more
5. Controle sobre os negócios da sua carreira Rita investia em instrumentos e equipamentos musicais para acompanhar as novidades lançadas no exterior. O restante do valor ela aplicava em imóveis. A reportagem revela que ela tinha um projeto de comercializar uma linha de roupas e acessórios, mas preferiu "não trilhar um terreno que desconhecia" e se limitou ao campo artístico. Criou uma produtora e uma editora.more