Além do branco: Wimbledon permite shorts escuros e reduz preocupações menstruais

8 de julho de 2023
Mike Hewitt/Getty Images

Aryna Sabalenka, uma das melhores tenistas do mundo, foi uma das primeiras a aproveitar a mudança do código de vestimenta

As tenistas agora podem usar shorts escuros em Wimbledon, o torneio mais tradicional do tênis, desde que não apareçam por baixo das saias brancas. A nova regra tem como objetivo reduzir a ansiedade das competidoras em relação ao vazamento da menstruação, mas também abriu um diálogo sobre a preocupação em torno do tema

Antes, Wimbledon tinha uma regra estrita sobre o uso de roupas brancas. Mas o novo regulamento agora permite que as jogadoras usem “shorts sólidos, de cor média/escura, desde que não sejam mais longos do que seus shorts ou saia”. A mudança veio depois de manifestantes aparecerem nas finais femininas no ano passado exigindo alterações no código de vestimenta. E acontece depois de 139 anos, já que as mulheres começaram a jogar em Wimbledon em 1884.

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As atletas agradeceram e já aproveitaram as novas regras. A atual campeã de Wimbledon, Elena Rybakina, do Cazaquistão, enfrentou a americana Shelby Rogers na rodada de abertura – e as duas vestiram shorts pretos curtos por baixo das saias brancas.

Clive Brunskill/Getty Images

Elena Rybakina, a primeira atleta a usar shorts escuros em Wimbledon

A jogadora britânica Heather Watson elogiou a novidade e discutiu abertamente o quanto tentou evitar qualquer constrangimento relacionado à menstruação. “No ano passado, tomei pílula para parar de sangrar porque sabia que tínhamos que usar shorts brancos. Eu não queria enfrentar nenhum constrangimento com isso”, disse ela à SkyNews. “Este ano, eu sabia que minha menstruação seria durante Wimbledon novamente, então estou muito feliz por não ter que fazer a mesma coisa.”

O site de notícias esportivas “The Athletic” conversou com tenistas sobre a ansiedade que elas sentiam ao jogar durante os períodos menstruais. Algumas disseram que a preocupação era tanta que criaram sinais com suas equipes de apoio para indicar se havia uma mancha de sangue nas suas roupas.

A maioria das pessoas que menstruam pode se identificar com os vazamentos menstruais, mas atletas profissionais que têm todos os seus movimentos fotografados recebem um nível de atenção totalmente diferente. Emma Pallant-Browne, uma triatleta britânica de 34 anos, estava competindo em Ibiza, na Espanha, em maio deste ano, quando foi fotografada correndo com uma pequena mancha de sangue aparecendo na sua roupa rosa. A foto viralizou.

Pallant-Browne postou no seu Instagram que essa é apenas a realidade nada glamurosa da corrida durante o período menstrual, e ela esperava que sua experiência tornasse mais fácil para outras pessoas fazerem o mesmo. “É natural, e vindo de problemas alimentares como uma corredora de resistência que não menstruava, agora vejo isso como lindo”, disse ela. “Portanto, se você tiver uma foto como essa, salve, valorize, lembre-se de como você se saiu em um dia difícil, porque um dia você poderá ajudar outra pessoa com isso.”

Mas mesmo quem não está sob os holofotes se preocupa com vazamentos menstruais. Uma pesquisa de 2022 feita pela Puma e a Modibodi (que produz roupas íntimas à prova de vazamentos) revelou que três em cada cinco meninas adolescentes não praticam esportes devido ao medo de vazar ou expor sua menstruação, e 75% nunca discutiram o assunto com seu treinador. Outro estudo feito com meninas do ensino médio mostra que as adolescentes geralmente adotam estratégias para evitar constrangimentos menstruais na escola. É comum manter um moletom em um armário para amarrar na cintura ou uma troca de roupa extra.

Pallant-Browne está certa: falar sobre contratempos e períodos menstruais é provavelmente a melhor maneira de reduzir o estigma e a ansiedade em torno do tema. Além de diminuir o nível de ansiedade das tenistas profissionais, Wimbledon também iniciou um diálogo sobre essas questões, podendo ajudar outras mulheres, meninas e pessoas que menstruam a se sentirem mais confortáveis ​​em seus corpos. 

* Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

(Traduzido por Fernanda de Almeida)