“A gente está sempre inventando moda”, diz Guilherme Sawaya, diretor de transformação digital da companhia. “E isso tem muito a ver com o olhar do Elie [Horn, fundador da empresa], que é super empreendedor, super inovador. Fomos pioneiros em várias iniciativas, desde a abertura de capital na bolsa [em 2005] até a implementação do atendimento via chat, passando pelos apartamentos decorados e pela diversificação do negócio”, lembra o executivo, referindo-se à fundação da CCP (Cyrela Commercial Properties), braço do grupo especializado no desenvolvimento, comercialização e administração de imóveis comerciais.
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Além disso, depois de buscar inspiração no mundo todo – do festival South by Southwest, no Texas, às escolas de negócios internacionais – ficou claro que não era mais suficiente inovar apenas nos produtos e em determinados processos internos da construtora, mas no atendimento ao cliente, na maneira de interpretar o comportamento do consumidor, na jornada de compra. Para resumir, em qualquer parte do ciclo do negócio que apresentasse um problema a ser resolvido, uma chance de crescer ou necessidade de agilidade.
“As startups são um canal muito interessante para isso. Seus criadores trazem oxigênio e sangue novo para as companhias mais tradicionais, ao mesmo tempo em que elas oferecem estrutura, experiência de mercado, clientes de todos os tipos e tamanhos, conexões e recursos financeiros em troca”, diz. Com isso em mente, a Cyrela lançou, em 2018, o Mithub, um espaço físico de inovação que, até o momento, já apoiou cerca de 70 startups e estabeleceu parcerias com outras tantas, como a QuintoAndar, plataforma de aluguel de imóveis, a Nuveo, fintech de crowdfunding imobiliário no setor de solos e loteamentos, e a Aquarela, provedora de soluções em advanced analytics. “Vale lembrar que, naquela época, a grande febre eram as fintechs, que estavam criando um ecossistema próprio. Existiam pouquíssimas proptechs e construtechs no país”, diz Sawaya.
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PRÓXIMO PASSO
Satisfeita com a experiência, a Cyrela decidiu ir mais além. Antes da pandemia e do isolamento social, a companhia estava em busca de um lugar maior para dobrar o espaço do Mithub, atualmente em funcionamento na Vila Olímpia, em São Paulo.
“Não queremos ser um pônei de um truque só”, brinca Sawaya. “Queremos diversificar, acompanhar ou lançar tendências. Não precisamos ficar o resto da vida comprando terreno, construindo e vendendo. Há muitas coisas acontecendo nesse mercado das quais podemos fazer parte”, diz, citando como exemplo desde as operações de hospedagem que algumas empresas do setor já estão implementando até a criação de um super aplicativo para gerenciamento da vida em condomínio. “Passamos a olhar essas startups não apenas como fornecedoras, mas como potencial investimento ou parceiras na ampliação do nosso portfólio.”
A ideia do portal veio do sentido figurado – e não apenas tecnológico – da palavra: uma passagem de entrada para esse ecossistema. “Sentíamos falta de um canal por meio do qual qualquer startup ou empreendedor de qualquer lugar do país, pudesse acessar para entrar em contato conosco. Daí surgiu o Next Floor. Por lá, eles podem entrar e contar o que estão fazendo. Essas informações vão direto para o meu time de analistas de inovação. Essa equipe está em contato direto com um comitê, formado pela diretoria e presidência, que será informado sobre todas as sugestões que considerarmos que fazem sentido. A partir daí, os pitches poderão ser feitos virtualmente”, explica Sawaya.
O executivo revela que, ao perguntar para Efraim Horn, presidente da incorporadora, qual era o critério para as ideias serem apresentadas ao comitê, ouviu: “Se tiver 1% a ver com o nosso negócio, eu quero conhecer”.
O processo foi desenhado para ser ágil. As reuniões de inovação são diárias e o acesso ao comitê também é frequente, o que garante que, em cerca de uma semana, as startups e empreendedores recebam os feedbacks. “Atualmente, temos potencial para analisar cinco ou seis sugestões por semana. Nossa meta inicial é fechar o primeiro ano do Next Floor com 200 ideias analisadas, mas acho que temos potencial para passar de 250”, diz o executivo, estimando que, desse volume, cerca de 15 sejam selecionadas.
EXPECTATIVAS PARA 2020
Em termos gerais de inovação, a expectativa do executivo é que, até o final do ano, quatro projetos de venture building sejam colocados na rua, ou seja, empresas criadas e desenvolvidas dentro da própria Cyrela, a exemplo da fintech de home equity CashMe e da Mude.me, plataforma de vaquinha online para a compra, aluguel ou reforma da casa própria. Por enquanto, ele não pode revelar quais são essas iniciativas, mas conta com o portal para suprir qualquer necessidade que surja nessa jornada até o lançamento.
Outra forte tendência interna da construtora passa pelos dados. “Até o fim deste ano, a nossa expectativa é ter um data lake que concentre informações internas e externas capazes de suportar as decisões de negócios de uma maneira mais eficiente”, diz ele, dando a dica para empreendedores interessados no apoio da companhia.
“Aproveitamos este momento para tirar do papel algumas iniciativas capazes de digitalizar ainda mais esse ciclo e que serão 100% aproveitadas no novo normal”, diz ele, apostando que, mesmo quando pudermos voltar a sair sem restrições, só faremos fisicamente aquilo que não pudermos fazer virtualmente. “Essa crise serviu para que as pessoas percebessem que dá para fazer muitas coisas online. Claro que a maioria das pessoas não vai querer comprar um apartamento sem ir ao estande de vendas, mas se elas iam três, quatro vezes, provavelmente irão apenas uma”, explica. Mas, para que isso aconteça, é preciso que a experiência digital seja a melhor possível”, diz o executivo, que, neste momento, conduz 41 projetos de produtos digitais prestes a serem lançados. “Muitos deles contaram com a participação de startups.”
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