É possível que você, que pode estar lendo esta coluna durante uma pausa no seu home office, considere a internet como uma conta básica como é a eletricidade. De fato, a internet é fundamental para o acesso a uma série de direitos fundamentais e teve sua importância reiterada durante a pandemia. É possível também que você esteja lendo este texto no mesmo computador em que trabalha, ou tenha a opção de fazer isso, se quiser.
LEIA MAIS: Negros e pobres sofrem com exclusão digital durante a pandemia
Há também o problema da exclusão deste rol de profissões consideradas aderentes ao home office. É possível que você, leitor, tenha um ofício que já era viável ou que se adaptou ao trabalho remoto. Porém, é preciso lembrar que esta não é a realidade predominante na população socioeconomicamente vulnerável: além dos fatores já citados, existem questões como a falta de referências de sucesso nestas ocupações, bem como de opções de treinamento. Projetos como o Womby, da aceleradora B2Mamy, tem o objetivo de treinar mães negras para as profissões do futuro. Uma gota no oceano em um país sedento por este tipo de iniciativa – precisamos de milhares de Wombys Brasil afora.
Em paralelo aos desafios citados até aqui, existe um movimento onde empresas começam a repensar seus espaços de trabalho, para responder às demandas pandêmicas e transformar espaços em “áreas de convivência”. Isso pode ser visto em empresas como a consultoria ThoughtWorks, que está retomando as atividades no espaço físico em turnos, e na startup brasileira Mobly, que transformou seu escritório em um espaço onde colaboradores têm a opção de irem se for necessário. Empresas como Facebook, Twitter e as nacionais Zee.Dog e Xerpa estão entre as que já instituíram o home office permanente.
Siga todas as novidades da Forbes Insider no Telegram
Porém, é preciso pensar no impacto da crescente digitalização dos processos de trabalho para quem ainda nem ingressou nesse mercado. A necessidade de treinar os milhões de brasileiros digitalmente excluídos, bem como garantir trabalho em um ambiente onde nem todos têm um cômodo para chamar de escritório, é um assunto que precisa ser tratado. Existem outros temas relacionados, como a continuidade de desenvolvimento profissional para quem está atualmente inserido no mercado e precisa adaptar sua expertise para a economia digital.
Também é preciso combater vieses na contratação, que favorecem pessoas que têm o privilégio de se manterem digitalmente atualizadas em detrimento de tantas outras que nem têm um computador. É necessário adotar o compromisso de treinar pessoas que nem sempre estão prontas, e dar força a organizações sociais que atuam na educação digital e no acesso de grupos desfavorecidos a empregos que exigem estas competências.
Além de responsabilizar quem emprega, também é preciso desenvolver mecanismos para acompanhar estes avanços e criar os profissionais do futuro que o Brasil tanto necessita. Isso pode parecer utópico em um país que carece de visão e liderança em tantos aspectos, mas é urgente encontrar formas de garantir que o trabalho remoto seja parte de uma realidade possível para muitos de nós, e não somente para alguns.
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Participe do canal Forbes Saúde Mental, no Telegram, e tire suas dúvidas.
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.