Agora, sete anos depois, um pesquisador brasileiro acha que chegou o momento de colocar em prática o serviço previsto por uma das séries de ficção mais comentadas de todos os tempo. “Se eu falasse sobre a minha ideia três anos atrás, não teríamos tecnologia suficiente”, diz Deibson Silva, pesquisador e neuropsicólogo formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
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Em pleno Vale do Silício, o brasileiro começou, então, a desenvolver a startup Legathum. “O intuito do projeto é mapear a personalidade humana e transferir tudo isso para uma inteligência artificial.” Ele explica que esse processo será feito por meio de um bot, que servirá como um mentor de vida, pedindo para que o usuário conte suas histórias e lembranças. “O sistema vai levar, no mínimo, seis meses para mapear todo o histórico de uma pessoa adulta, da infância aos dias atuais. E não vai mais parar, ou seja, será um processo contínuo até o último dia de vida.”
Silva diz que o objetivo é ter informações variadas: do cotidiano, momentos marcantes, memórias e conhecimentos. E é a partir dessa análise completa desses dados e da personalidade da pessoa que a ferramenta vai conseguir chegar no objetivo final: promover conversas por chamada de vídeo. “Só vamos alcançar esse resultado daqui, mais ou menos, três ou quatro anos.” Isso porque é preciso recriar a voz, a imagem e a tomada de decisões da pessoa falecida para que ela possa conversar e dar conselhos para seus familiares e amigos de forma fiel.
“Eu perdi minha avó, que foi como uma mãe para mim, quando tinha apenas 18 anos. Ela ainda tinha muita coisa para me ensinar sobre a vida. Tive que tomar muitas decisões sozinho, então, por que não consultar uma inteligência artificial com a mesma mentalidade daquela pessoa que se foi?”, pergunta.
“Vai ter o modo privado e o modo público, que é quando o usuário permite que disponibilizemos seu conteúdo para quem se interessar. No futuro, também teremos uma rede de mentores virtuais”, explica. Para o pesquisador, essa é uma função que vai possibilitar escalar o conhecimento de pessoas das mais diferentes áreas e realidades. Indivíduos que nunca se tornaram famosos, por exemplo, mas que podem contribuir muito com relatos e conhecimentos de vida. “Quantas histórias morrem porque, com o passar das gerações, são esquecidas?”, pergunta.
Empolgado, Silva acredita que todas essas ferramentas possibilitam a criação de um legado, por isso o nome da startup – “Legathum”. Essa palavra está tão ligada à essência do projeto que o pesquisador conta ter se surpreendido ao encontrar uma música que transmite exatamente o seu pensamento. Na faixa “Glorious”, do duo Macklemore & Ryan Lewis, há um trecho que diz: “Ouvi que você morre duas vezes: uma quando é enterrado no túmulo e a segunda quando alguém menciona seu nome pela última vez.”
Silva espera que, com o seu projeto, possa fazer ressoar para sempre as vozes dos que se vão. E que, assim, a morte ocorra apenas uma vez, como uma passagem que deixa rastros valiosos e duradouros. “Essa é a música da Legathum. Como se fosse nossa trilha sonora oficial.”
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