Em meio a este recente processo de redemocratização, o engenheiro civil Licínio Januário mudou-se para o Brasil, e se deparou com um país muito diferente do que via nas novelas exportadas para seu país natal. O angolano então migrou para o setor de audiovisual e plantou a semente do que se tornaria a Wolo TV, plataforma de streaming com foco em cultura negra lançada no Natal de 2020, e que atraiu uma audiência de mais de 25 mil pessoas em 20 dias com a série de comédia “Casa da Vó”.
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Com o objetivo de oferecer um catálogo focado em narrativas negras, bem como descentralizar a produção audiovisual no Brasil e oferecer oportunidades para profissionais negros do setor, Januário se uniu a Leandro Lemos, empreendedor de tecnologia que vendeu sua empresa – a TechParking, que criou o produto que indica a disponibilidade de vagas em estacionamentos de shopping center – e hoje é baseado no Canadá, para criar a Wolo TV.
A plataforma é parte um movimento que ganha força no mundo, com streamings que distribuem conteúdo desenvolvido por criadores negros como os pioneiros KweliTV e AfroLane TV, além de alternativas mais recentes, como os serviços norte-americanos ALLBLK e Blacktag, bem como a brasileira AFRO.TV, também lançada no final do ano passado.
A holding dona da Wolo é baseada nos Estados Unidos, e a operação brasileira é uma subsidiária. O pool de investidores inclui a DIMA, empresa de desenvolvimento internacional do Qatar. Segundo Januário, este movimento de internacionalização foi estratégico para facilitar investimentos de fora, bem como a futura entrada da Wolo em outros mercados na América do Norte e na África.
Segundo Januário, o aparente desinteresse no potencial de plataformas de streaming no Brasil não se limita a investidores. A série produzida em quatro meses que marcou o início das operações da Wolo tem no elenco grandes nomes como Margareth Menezes, mas não atraiu o patrocínio de grandes empresas de bens de consumo, alimentos e outros setores.
Por outro lado, o projeto atraiu um grupo de empresas com diversos negócios liderados por negros que inseriram seus produtos na série, como o marketplace Afropolitan e o D’Black Bank, fintech de Nina Silva e Alan Santos, do Movimento Black Money, que aparece como o meio de pagamento utilizado nas cenas. Segundo Lemos, estes negócios se beneficiarão de uma plataforma global.
“Não estamos fazendo nada novo e sim algo que está dando super certo mundo afora; vamos apresentar estas narrativas não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro”, ressalta Januário, dizendo que a Wolo já atraiu o interesse de investidores não só dos Estados Unidos, mas de países como a Nigéria, que nos últimos anos se tornou um importante hub de produção audiovisual.
Com a primeira série no ar, prioridades para a Wolo em 2021 são a captação de novos recursos e o fechamento de um aporte para acelerar o crescimento e novas produções. A empresa também quer aumentar o alcance do seu mapeamento de profissionais de audiovisual no Brasil e aprimorar o marketing, principalmente nas redes sociais.
Lemos diz que a Wolo quer estar com mais duas séries produzidas até o fim de 2022 e de portas abertas para produtoras menores lideradas por negros e indígenas. “Queremos garantir que estes criadores não levem mais nenhum ‘não’, e que tenham a oportunidade de levar para a Wolo seu conteúdo, sem ter que esperar pelas grandes plataformas de streaming.”
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