Conheça o laboratório brasileiro que transforma cinzas em diamantes

8 de abril de 2021
Jeffrey Hamilton/Getty Images

O corpo humano tem 18% de carbono em sua composição. Se diamantes são, essencialmente, carbono cristalizado, a relação é mais do que genuína

Na década de 1940, Estados Unidos, Suécia e União Soviética começaram a pesquisar o cultivo de diamantes em laboratório. Após anos de estudo, em 1953, a primeira síntese da pedra preciosa a partir de fontes industriais de carbono foi registrada, o que mostrou que era realmente possível reproduzir o processo da natureza a partir da ciência. Hoje, esse conhecimento é usado por muitas empresas para um fim curioso: criar diamantes a partir de cinzas de pessoas.

Emocionante para uns e macabro para outros, o processo tem como objetivo criar uma memória especial em meio ao luto. “As pessoas dizem sentir o calor físico e a sensação de proximidade de seus entes queridos nos diamantes”, diz Adrian Loughrey, fundador da Diamond Legend, empresa europeia que decidiu abrir o primeiro e único laboratório dedicado ao serviço no Brasil, em 2013. “O impacto emocional de ter uma parte da pessoa que partiu perto de você é tão precioso quanto o próprio diamante.”

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Para ele, o ponto-chave que enriquece a experiência é a singularidade do processo. Loughrey explica que a composição química de cada diamante memorial é única – visto que as cinzas e o cabelo, possíveis bases para a criação, apresentam as particularidades do indivíduo falecido. Ele ressalta que, embora artificial, o produto oferece as mesmas propriedades ópticas, químicas e físicas de um diamante natural. “Assim como os naturais, nossa versão criada em laboratório é classificada de acordo com os quatro C’s: corte, clareza, tamanho em quilates e cor”, revela o fundador.

De certa forma, são esses quatro pilares que definem o orçamento e o resultado final desejado pelos clientes. As peças têm valores que variam de R$ 1.700 a R$ 40 mil – tudo depende da cor e do tamanho requerido, visto que cada categoria leva um tempo diferente para a produção. “Nós produzimos três cores: amarelo, branco e azul. Os amarelos são os que crescem mais rápido, seguidos do branco. Já os azuis, podem demorar quatro vezes mais para serem finalizados, sendo assim, são os mais caros”, explica Loughrey, que não quis revelar o números de vendas ou faturamento da empresa. “O nitrogênio representa 3% do corpo humano, o que dá ao diamante de cremação uma cor naturalmente âmbar. Para transformar a coloração, precisamos adicionar e retirar elementos químicos.”

Complexa, a produção pode levar até seis meses, com a possibilidade de uma execução malsucedida na primeira tentativa. “A transformação do diamante memorial leva, normalmente, cerca de três a quatro meses desde a recepção dos restos cremados até a entrega do produto nas mãos dos familiares. Às vezes, no entanto, imprevistos acontecem.” Mesmo com dificuldades, a transformação das cinzas em diamantes é algo que faz sentido fisiologicamente, já que o corpo humano tem 18% de carbono em sua composição. Se diamantes são, essencialmente, carbono cristalizado, a relação é mais do que genuína.

Como os diamantes são produzidos?

Diferente do processo geológico natural, que ocorre nas profundezas da terra, a produção artificial utiliza máquinas industriais para replicar o ambiente de alta pressão e temperatura em que os diamantes naturais são gerados. A partir do carbono extraído das cinzas por um processo químico, a composição é aquecida e pressurizada utilizando equipamentos HPHT (High Pressure High Temperature). Isso gera o grafite que, depois de limpo, será a base do diamante. De certa forma, o processo é igual ao da natureza, mas ocorre de forma mais rápida. “É a duração da fase de crescimento dentro da máquina que determina o tamanho do produto final”, diz Loughrey.

Constituído o diamante em estado bruto, inicia-se a etapa de lapidação e polimento para que ele chegue ao formato desejado pelo cliente. Após o delicado processo, é possível escolher, inclusive, anéis e colares adornados pela pedra preciosa. “É uma forma única de imortalizar a memória de um ente querido e estabelecer uma herança de família que pode ser guardada por gerações.”

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Embora outras empresas ofereçam o serviço no Brasil, como a suíça Lonité, a Diamond Legend é a única com laboratório em solo nacional – mais especificamente em Anápolis, Goiás. No caso da Lonité, os valores variam entre US$ 1.400 e US$ 24.500, mas o processo segue a mesma lógica de produção. “A única diferença entre os diamantes naturais e os nossos é a origem: os átomos de carbono dos diamantes de cinza se originam de restos mortais submetidos à cremação, em vez de minerais encontrados no subsolo”, diz a companhia estrangeira em seu site oficial.

Longe de ser uma aquisição necessária, as fábricas entendem que estão oferecendo um produto de luxo para aqueles que podem investir em uma memória física e duradoura. Seja de um familiar querido ou até do animal de estimação, o lema das empresas é gerar algo especial em meio ao doloroso processo de perda. “Significa eternidade, a captura do amor e das memórias na pedra mais preciosa da face da terra”, conclui Loughrey.

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